Depois de o Ministro da Defesa ter estado ausente de todas as cerimónias do 5 de outubro – que incluíram demonstrações militares dos três ramos das Forças Armadas -, Azeredo Lopes voltou a aparecer em cerimónias públicas e nas televisões portuguesas. E fê-lo acompanhado por uma figura de peso: o primeiro-ministro. Ou terá sido ao contrário? Certo é que o sinal dado esta segunda-feira por António Costa, durante a visita à base aérea da Força Aérea em Monte Real, foi importante. A confiança no seu ministro parece estar sólida: “O Governo é uma equipa e o Ministro da Defesa é um ativo importante“, afirmou Costa aos jornalistas, tentando assim arrumar a questão de uma vez por todas. Mas a continuidade de Azeredo não tem sido um assunto pacífico.

No Grupo Parlamentar do PS ninguém quer fugir às diretrizes que o primeiro-ministro vai traçando. Mesmo que, ao Observador, várias fontes confirmem que existe “alguma apreensão” quanto ao desenrolar da questão, ninguém questiona a decisão de manter o ministro em funções. “Não há nada que justifique a sua demissão”, afirma um deputado. “Todas as situações que põem em causa a imagem do Governo causam algum desconforto, mas até nas reuniões da bancada tem havido muita solidariedade com o ministro e com o Governo“, completa outro.

Quando foi questionado sobre as suspeitas que sobre ele recaem, Azeredo Lopes desmentiu-as em toda a linha. Até que haja novos factos que possam comprometer o ministro, os deputados socialistas parecem estar dispostos a defendê-lo e nem nos corredores se atrevem a questioná-lo, “ao contrário do que aconteceu, por exemplo, com Constança Urbano de Sousa na altura dos incêndios”, conta ao Observador um terceiro deputado.

Uma tática argumentativa inicialmente ensaiada por Carlos César. O presidente do PS defendeu, na semana passada, o ministro e a sua continuidade no Executivo. Deixando, claro, uma ressalva para o caso de as conclusões processo virem a provar o envolvimento de Azeredo Lopes.

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A ausência do ministro nas cerimónias do 5 de outubro causou estranheza. “Também tem direito a gozar o feriado”, ironizou António Costa no próprio dia. O facto de ter surgido ao lado do Ministro da Defesa esta segunda-feira esvaziou o balão de conspirações que se tinha formado desde então.

A voz mais crítica dentro do PS talvez tenha sido a da eurodeputada Ana Gomes, que, apesar de ter assumido que acredita na versão dos factos apresentada pelo governante, considerou que o ministro tinha sofrido um duro golpe na sua autoridade. “Se não teve conhecimento de nada, estava a ser indrominado por quem lhe estava muito próximo e por quem supostamente devia ser-lhe leal. Portanto há aqui um problema grave de autoridade”, enfatizou a eurodeputada este domingo na Sic Notícias.

Os pedidos de demissão – e os que não chegam a sê-lo

O primeiro partido a pedir a cabeça do ministro foi o CDS, que desde que se soube do roubo de armas dos paióis de Tancos já exigiu a sua demissão por diversas vezes. E voltou a fazê-lo na semana passada. Depois de o Expresso ter noticiado que Azeredo Lopes tinha sido acusado pelo ex-porta-voz da PJM de estar a par da alegada encenação do reaparecimento das armas furtadas, os centristas voltaram a apontar o dedo ao governante. E remeteram mais investigações para a Comissão de Inquérito que querem criar sobre o caso. Não foram o único partido a seguir esta linha de pensamento.

CDS exige saber “grau de envolvimento” do ministro da Defesa no caso de Tancos

O cerco em torno do Ministro da Defesa tem vindo a ganhar força e, por oposição, o seu raio de ação tem vindo a ficar cada vez mais reduzido. No domingo, no seu comentário habitual na SIC, Marques Mendes defendeu que o ministro da Defesa devia colocar o seu lugar à disposição porque mais tarde ou mais cedo vai acabar por ser chamado à investigação de Tancos, como arguido ou como testemunha: “Azeredo Lopes devia sair ou ser convidado a sair”, considerou o comentador político, porque é um “ministro sob suspeita” e, “um ministro sob suspeita é um ministro diminuído na sua autoridade, condicionado no seu poder e altamente fragilizado”.

Uma narrativa que entronca com aquele que tem sido o discurso do PSD. Rui Rio, primeiro à Lusa e depois na entrevista de quinta-feira à RTP, disse que não entendia como é que, “nestas condições, um primeiro-ministro pode manter o ministro em funções”. Apesar de afirmar que por princípio não pede demissões, o líder social-democrata deixou bem clara a sua posição e a do partido. Com um senão: “a não ser que seja tudo redondamente mentira e provado que é redondamente mentira”.

Mas António Costa tem vindo sempre a terreiro para reafirmar a confiança em Azeredo Lopes de cada vez que a sua autoridade é posta em causa. Em declarações esta segunda-feira aos jornalistas, o primeiro-ministro respondeu diretamente à análise de Marques Mendes. “Quando Marques Mendes for primeiro-ministro ele decidirá quem são os membros do Governo”. Até lá é Costa quem decide.

Já PCP e Bloco de Esquerda optam por uma estratégia cautelosa. Tanto Jerónimo de Sousa como Pedro Filipe Soares, quando questionados sobre o caso e sobre as suspeitas em torno do ministro, afirmaram que vão esperar pela resolução do caso na Justiça antes de tomarem uma posição formal. Uma espécie de pacto de não-agressão que só será quebrado caso Azeredo Lopes seja dado como culpado ou cúmplice no processo.

Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reiterou na sexta-feira que “é preciso respeitar o apuramento da verdade”, optando pela contenção e pedindo celeridade na resolução do caso.