Luís Marques Mendes considera que, a partir do momento em se sabe que o ex-ministro da Defesa soube do encobrimento da PJ Militar na recuperação das armas de Tancos, o Governo passou a ser “politicamente suspeito”. Para o comentador da SIC, houve apenas uma entidade “que se portou bem” neste caso: o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que sempre insistiu para que as investigações prosseguissem.

No seu espaço de comentário semanal, o antigo presidente do PSD defendeu a ideia de que o caso de Tancos passou para um novo patamar a partir do momento em que foi tornado público que o ex-ministro José Azeredo Lopes soube dos contornos da operação da PJ Militar, em outubro do ano passado, tendo desvalorizado o facto de ter sido garantida proteção a um informador dos inspetores daquela política. “A partir daqui, o Governo está suspeito” e toda esta questão é agora “mais séria, politicamente falando”, porque não só “o Governo sabia e conhecia” os detalhes “como estava feliz pela operação feita pela PJ Militar”.

Azeredo Lopes propôs uma condecoração dos militares da GNR de Loulé que participaram na recuperação das armas e partilhou essa intenção com o ministro da Administração Interna. “Estavam todos felizes, conheciam, sabia e estavam felizes” com o desfecho da operação, destacou o comentador, este domingo à noite.

Para Marques Mendes, “só houve uma entidade que se portou bem nisto tudo: o Presidente da República”, porque desde o início defendeu sempre a mesma linha: “Investigue-se, investigue-se, investigue-se”, recorda Marques Mendes. “Ele lá tinha as suas razões.”

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Aprovada a comissão parlamentar de inquérito proposta pelo CDS para avaliar as decisões políticas tomadas sobre este processo, Marques Mendes considera ainda ser cedo para dizer que António Costa deve ou não ser chamado a prestar o seu depoimento. Mas diz que tanto o presidente do PSD, Rui Rio, como o líder parlamentar do PS, Carlos César, foram “precipitados” nas posições que tomaram sobre o o caso.

O social-democrata porque “estava mal preparado e mal informado” quando disse que seria “inédito” um primeiro-ministro responder perante uma comissão de inquérito — José Sócrates respondeu aos deputados, por escrito, sobre a tentativa de compra da TVI pela PT. Rio também esteve mal, na opinião de Marques Mendes, porque voltou a “por a mãozinha” por baixo do primeiro-ministro, voltando a aparecer como o seu “anjo da guarda”. César esteve mal pela contradição: o PS validou a passagem de Sócrates pela comissão da compra da TVI e não valida a de António Costa? Há aqui, diz, “dois pesos e duas medidas”.

Centeno é um “artista dos números”

O ministro das Finanças está para os números como António Costa está para a política: são ambos artistas. Luís Marques Mendes recupera a expressão que Cavaco Silva aplicou ao primeiro-ministro e adapta-a a Mário Centeno. O motivo: o “truque” do Governo no Orçamento do Estado para 2019.

O executivo tem, na prática, dois orçamentos. “Um para consumo interno, para agradar a PCP e Bloco de Esquerda, outro para agradar a Bruxelas”, disse ainda o comentador na SIC, este domingo. É “um truque”, “é feio, não é transparente”, diz Marques Mendes sobre a diferença entre o défice de 0,2% do PIB previsto no Orçamento do Estado e os mais de 500 milhões de despesa excedentes que as Finanças inscreveram no relatório do Orçamento.

Foi um “exercício de arrogância”, diz o social-democrata, que alerta para o “caminho de arrogância” que o executivo estará a percorrer. Uma “arrogância” que Marques Mendes identifica na forma como Mário Centeno reage à posição da Unidade Técnica de Apoio Orçamental da Assembleia da República (a primeira entidade a notar a divergência nos números), no “ataque” ao Conselho de Finanças Pública, na gestão do dossier da Entidade Reguladora do Setor Energético (e do deputado do PS que abdicou da nomeação pelo Governo) e na relação com os professores. “É uma arrogância de quem está em alta” e que se vê “até com os parceiros de coligação”. Mas, alerta Marques Mendes, “em política, a arrogância mata”. E deixa a mensagem ao primeiro-ministro: sem o PCP e o Bloco de Esquerda, António Costa “ou estava na oposição ou já tinha acabado a vida política”.

“O Brasil vai viver um período negro”

Os resultados das eleições presidenciais no Brasil ainda não eram oficiais. As urnas ainda nem sequer estavam todas encerradas quando Marques Mendes abriu o seu espaço de comentário com esse tema, para dar como garantida a eleição de Jair Bolsonaro e ditar o “arrependimento” dos eleitores. “Mais ano, menos ano, os brasileiros vão-se arrepender, como os alemães se arrependeram de Hiterl”, sentenciava o social-democrata.

O candidato da extrema-direita, favorito em todas as sondagens, é “uma pessoa muito impreparada, é uma quinta escolha”, destacava Marques Mendes. “Comparado com Bolsonaro, Trump é um génio”, admitia o comentador, antevendo “o pior para o Brasil” com a eleição do candidato do Partido Social Liberal, mas sem nunca defender uma escolha no candidato que disputa a segunda volta das presidenciais no país, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores.