Doze pequenos pacotes de açúcar. Quando a sonda OSIRIS-Rex, uma missão espacial da NASA, começar a explorar o asteroide 101955 Bennu, deve passar dois anos a recolher tantas amostras de rochas e poeiras como a quantidade de açúcar presente em 12 pacotes para adoçar o café. São 60 gramas. E podem ser as suficientes para descobrir a origem da vida ou até tentar evitar que um asteroide — incluindo o próprio Bennu — venha a colidir com a Terra durante o próximo século. OSIRIS-Rex chegou com sucesso ao asteroide Bennu  esta segunda-feira. Recorde o momento aqui em baixo.

Não é a primeira vez que uma agência espacial chega a um asteroide: em setembro, a JAXA — a agência japonesa — tornou-se na primeira do mundo a aterrar e a explorar um asteroide, o Ryugu. Antes, em 2000, a NASA também já tinha sido capaz de aterrar uma sonda num asteroide, o Eros, mas NEAR Shoemaker não era capaz de explorar esse corpo celeste. Agora, a agência norte-americana quer ser a primeira a recolher amostras num asteroide e a trazê-las de volta à Terra. Parte das rochas vão ser estudadas imediatamente. E outra parte vai ser guardada “para ser estudada com tecnologias que ainda não temos, para responder a perguntas que ainda não fizemos”, explica a NASA.

Apesar de chegar ao Bennu já esta segunda-feira, dois anos após ter deixado a Terra, esta missão exige paciência: só a partir de julho de 2020 é que a sonda vai começar a explorar o corpo celeste. Além disso, OSIRIS-Rex não vai realmente pousar na superfície de Bennu, mas antes flutuar por cima dele e esticar um braço metálico que será responsável por recolher as amostras de rochas. É precisamente por não aterrar no asteroide que o OSIRIS-Rex consegue regressar à Terra com o material que precisamos de explorar.

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O braço, chamado Touch-and-Go Sample Acquisition Mechanism, tem 3,35 metros separados em três juntas que, numa comparação ao braço humano, funcionam como o pulso, o cotovelo e o ombro. A mão desse braço é uma peça redonda que funciona mais ou menos como o filtro de ar de um automóvel. Quando essa mão tocar na superfície de Bennu, um jato de azoto vai atingir a superfície do asteroide para levantar pó e rocha. Essas amostras vão ser guardadas em dois reservatórios laterais em apenas cinco segundos. A seguir, o braço vai levantar muito lentamente. E uma câmara vai filmar e fotografar as amostras para confirmar que os reservatórios estão cheios. Ao fim de um ano,  OSIRIS-Rex começa a viagem de regresso à Terra. Deve chegar cá em 2023.

Há 780 mil asteroides conhecidos. Porquê Bennu?

Porque está muito perto da Terra. Ao contrário dos corpos celestes que gravitam o Sol na Cintura de Asteroides entre Marte e Júpiter, a órbita de Bennu fica próxima à da Terra e cruza-a de vez em quando. O asteroide faz a aproximação mais estreita à Terra a cada seis anos. Além disso circunda o Sol no mesmo plano que a Terra, o que permite poupar a energia que é necessária para expulsar o OSIRIS-Rex para fora da atração da Terra e para dentro do plano de Bennu.

Porque tem o tamanho ideal.  Tal como os planetas que compõem o Sistema Solar, também os asteroides giram em torno do próprio eixo. Os mais pequenos — que são normalmente os que têm diâmetros de 200 metros — tendem a girar tão rápido que podem dar mais que uma rotação completa por minuto. Esse movimento giratório, se for muito rápido, faz com que seja muito difícil para uma sonda aproximar-se dele e recolher amostras de rochas. Bennu não é demasiado pequeno: tem 492 metros de diâmetro, um pouco mais do que a altura do Empire State Building em Nova Iorque. E é relativamente lento: gira uma vez a cada quatro horas.

Porque é velho, mas está bem conservado. Bennu é um testemunho da formação do Sistema Solar e alguns dos minerais que o compõem podem ser mais antigos do que ele. Se assim for, esses minerais podem ter vindo de materiais expelidos por estrelas moribundas, mas que se uniram mais tarde para formar o Sol e os planetas do Sistema Solar há 4,6 mil milhões de anos. Mas Bennu é “uma cápsula do tempo do início do Sistema Solar” porque ficou preservado no vácuo do espaço. É possível que tenha chocado com um asteroide maior há entre 1 e 2 mil milhões de anos de anos — daí ter uma órbita tão próxima da Terra na atualidade –, mas os cientistas acreditam que isso não alterou a composição química dele.

Porque nos pode ajudar a saber mais sobre os outros asteroides. Desde 1999, ano em que foi descoberto, que os astrónomos estudam este asteroide. Alguns dos pormenores sobre as propriedades físicas e químicas do Bennu sabemos graças às observações que fazemos. Outros pormenores descobrimos ao astudar os meteoritos que caem na Terra. Com o OSIRIS-REx, os cientistas esperam confirmar se aquilo que sabem sobre o Bennu está mesmo correto. Se não estiver, nada fica perdido: as novas descobertas vão ajudar a aperfeiçoar as observações telescópicas e os modelos usamos para conhecer outros asteroides.

Porque pode explicar o efeito Yarkovsky. O efeito Yarkovsky é um processo através do qual a luz solar aquece uma parte de um pequeno asteroide, que depois irradia sob a forma de calor à medida que gira. Se esse asteroide tiver uma rotação progressiva, como a Terra tem, essa energia térmica empurra-o para mais longe do Sol; mas se ele tiver uma rotação contrária ao sentido da translação, o asteroide tende a aproximar-se do Sol. Este último caso pode ser o do asteroide Bennu, que se tem afastado da nossa estrela a uma média de 280 metros por ano. Mas só OSIRIS-Rex pode dar-nos a certeza absoluta.

Porque nos pode ajudar a saber como evitar colisões entre a Terra e os asteroides — incluindo o Bennu. Há um receio em relação ao asteroide Bennu: se ele estiver mesmo a ser atingido pelo efeito Yarkovsky, ele pode chegar mais perto da Terra do que a Lua está neste momento em 2135. Talvez até possa chegar ainda mais perto algures entre 2175 e 2195. E isso pode significar que a hipótese de uma colisão não está completamente descartada. Embora essa opção seja improvável, as próximas gerações podem usar os dados recolhidos pelo OSIRIS-Rex para encontrar maneiras de “desviar asteroides ameaçados e talvez usar o efeito Yarkovsky a seu favor”.

Ao estudar os asteroides, também podemos saber mais sobre a origem da vida. Alguns asteroides parecem ter compostos orgânicos — substâncias químicas que contêm carbono na sua composição — ou podem ter tido água no passado. Uma das teorias para explicar o desenvolvimento da vida na Terra é que um desses asteroides tenha colidido com o nosso planeta e trazido para cá os compostos essenciais para a vida tal como a conhecemos.

Além disso pode haver a possibilidade de utilizar os asteroides para exploração mineira. E isso pode trazer duas vantagens. Uma delas é o interesse científico, porque estudá-los complementa os estudos em desenvolvimento sobre os principais planetas: “Analisar as diferenças entre os planetas e os asteroides menores é como olhar para dentro de fatias do Sistema Solar em diferentes momentos durante a formação dele”, explicou à Space.com Carol Raymond, investigador da NASA na missão Dawn. A outra vantagem é a financeira: a mineração de asteroides pode permitir explorar as matérias-primas de asteroides que sejam ricos em ferro, titânio e até água.