Pelo menos 45 pessoas morreram e mais de mil ficaram feridas desde o início dos protestos no Sudão, a 19 de dezembro, contra o custo de vida e a crise económica, anunciou esta terça-feira a oposição.

De acordo com um comunicado do partido na oposição, Al Umma, islâmico moderado, mais de 2.000 pessoas foram detidas no decurso das manifestações nas duas últimas semanas, com o crescimento do movimento antigovernamental.

Aquela formação política, liderada por Sadeq al Mahdi, qualificou os acontecimentos como “uma violação flagrante dos direitos humanos e das liberdades básicas” dos manifestantes, que foram dispersados com gases lacrimogéneos, cassetetes e até fogo real nalgumas ocasiões.

De acordo com os dados fornecidos pelo Governo a 27 de dezembro, 19 pessoas morreram, entre as quais alguns membros das forças de segurança, e registaram-se 219 manifestantes feridos, mais 187 militares.

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Por seu turno, a organização Human Rights Watch (HRW) pediu ao governo sudanês que envie uma mensagem clara às forças de segurança para que respeitem os direitos dos manifestantes, e não usem força letal contra eles.

Instou ainda, em comunicado, as autoridades a “investigar imediatamente” todos os casos de “tortura, detenções e assassinatos”, para “que os culpados sejam responsabilizados”.

Movimentos políticos pedem mudança do regime

Cerca de 20 movimentos políticos sudaneses pediram, entretanto, uma mudança de regime para ultrapassar a crise económica que levou às manifestações, pedindo a saída do presidente Omar el-Bashir, no poder há 30 anos.

Em conferência de imprensa esta terça-feira, em Cartum, capital do Sudão, os partidos políticos declaram conjuntamente que a situação só pode mudar “ao estabelecer um novo regime no país” para que se possa ganhar “a confiança do povo sudanês”.

As manifestações registadas em várias cidades, incluindo a capital Cartum, e que começaram após um aumento do preço do pão em dezembro passado, passando de uma libra sudanesa (um centavo de euro) para três libras em plena crise económica, transformaram-se num movimento contra o regime do presidente Bashir, que chegou ao em 1989, através de um golpe de Estado.

Durante os primeiros dias do protesto, os edifícios e escritórios do partido do Congresso Nacional, no poder, foram incendiados pelos manifestantes.

A polícia de choque dispersou manifestações com gás lacrimogéneo, enquanto os serviços de segurança prenderam vários líderes da oposição e ativistas.

Na sexta-feira passada, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu às autoridades sudanesas que “conduzam uma investigação completa sobre as mortes e a violência” e ressaltou a necessidade de “garantir liberdade de expressão e reunião pacífica”.

O presidente Bashir ordenou, na terça-feira, a criação de uma comissão para “Restaurar a democracia” para investigar a violência mortal registada durante os protestos.

“O presidente Omar al-Bashir ordenou a criação de uma comissão de inquérito presidida pelo ministro da Justiça para tratar dos acontecimentos dos últimos dias”, disse a agência oficial de notícias Suna, citando um decreto presidencial.

O Sudão está a viver uma crise monetária grave e uma inflação galopante, apesar do levantamento do embargo comercial dos EUA em outubro de 2017.

Apesar do levantamento das sanções, os Estados Unidos mantiveram o Sudão na lista de países que apoiam o “terrorismo” e os bancos estrangeiros, como os investidores estrangeiros, continuam cautelosos em relação ao país, divididos por décadas de conflito.

Na terça-feira, 22 movimentos políticos apelaram ao restabelecimento de um novo regime no Sudão.

“O regime de Bashir não está em condições para ultrapassar a crise, devido ao isolamento político, económico, regional e internacional”, referiam em comunicado aqueles movimentos políticos.