O rumo está traçado e o futuro vai ser eléctrico. Mas há dificuldades a ultrapassar (e bastantes), antes que os veículos alimentados por bateria sejam a solução ideal para todos os condutores, ou pelo menos para a maioria. No Fórum para a Mobilidade Inteligente, organizado pela Nissan Portugal, os responsáveis pela marca que mais eléctricos vende na Europa, mas também representantes do Governo e uma série de parceiros do sector, analisaram a situação, previram o futuro e a conclusão foi só uma: daqui a 10 anos, 28% dos veículos novos deverão ser eléctricos, número que subirá para 55% dentro de 20 anos (sendo esta uma das previsões mais optimistas em relação a 2040). Mas há muito trabalho a fazer e muito investimento a realizar antes que tudo se torne realidade.

O secretário de Estado para o Planeamento e Infraestruturas, Guilherme d’Oliveira Martins, referiu-se aos desafios que as alterações climáticas e a necessária descarbonização colocam, anunciando que o Governo alocou 3,5 milhões de euros a temas de mobilidade, em parte para incentivar a aquisição de veículos eléctricos, mas também para reforçar uma série de outras soluções, como as ciclovias.

Mas rapidamente o investimento do Estado pareceu insuficiente, sobretudo quando comparado com o da Nissan em Portugal, que está longe de ser a marca que mais vende no nosso país. Ainda assim, isso não impediu o seu director-geral, o italiano Antonio Melica, de anunciar a oferta de 100 postos de carga rápida (PCR), o que vai custar à delegação portuguesa da marca nipónica 2 milhões de euros. O investimento da Nissan não é exclusivamente em proveito próprio, uma vez que este (generoso) esforço facilitará grandemente a vida de quem usa este tipo de veículos para grandes deslocações. Além disso, esta oferta permite ao Estado cortar uma fatia importante nos 68 milhões de barris de petróleo que importa anualmente e evitar multas pesadas sempre que excede os limites da qualidade do ar nas grandes cidades.

Os PCR serão produzidos pelo parceiro da Nissan para o mercado europeu, a portuguesa Efacec, empresa que dá cartas nesta matéria, tendo sido mesmo o primeiro fabricantes de postos capazes de recarregar a 350 kW. Não foram divulgadas as características dos PCR a adquirir pela Nissan, devendo conseguir no mínimo fornecer uma potência de 100 kW, o máximo aceite pelo novo Leaf E+, com bateria de 62 kWh, cujas vendas se iniciaram hoje, com as entregas previstas para Maio/Junho.

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Os primeiros 20 desses 100 PCR vão ser entregues à Galp, para reforçar a rede nacional de carga rápida (a apresentação detalhada desta parceria Nissan/Galp será revelada em breve), com Melica a anunciar que espera que outras empresas avancem com projectos, para se puderem candidatar aos outros 80 PCR. A isto a Nissan alia o Leaf4Trees, um projecto que visa reflorestar o Pinhal de Leiria, plantando 159.000 árvores, tantas quanto as necessárias para absorver 2,2 milhões de toneladas de CO2, exactamente a quantidade de dióxido de carbono que os utilizadores dos veículos eléctricos da marca japonesa pouparam entre Abril de 2017 e Junho de 2018, nos 21,7 milhões de quilómetros que percorreram.

Rede de carga rápida é bom, mas não só!

Se Antonio Melica surpreendeu ao anunciar a oferta dos PCR, aproveitou igualmente para defender que é necessário investir em tecnologia, para que a mobilidade eléctrica sirva um maior número de condutores. Como aliás a Nissan já fez no Leaf, o único modelo no mercado capaz de fornecer, com a mesma facilidade com que recebe, energia à rede (Vehicle to Grid, ou V2G) e à habitação (V2H). Isto permite aos utilizadores de veículos eléctricos gerirem melhor os seus consumos e até tornarem-se brokers de energia, abastecendo-se quando ela é barata, para depois a fornecer nas horas de pico de consumo, quando está mais cara, usufruindo financeiramente com isso, enquanto ajudam a estabilizar a rede.

Guiámos o Leaf. Saiba se é melhor e se vale a pena

O secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Gomes Mendes, alinhou pelo discurso do seu colega das Infraestruturas – enquanto se furtou a comentar as afirmações contra o diesel e os motores de combustão do ministro do Ambiente, João Matos Fernandes –, chamando a atenção para a necessidade de descarbonizar o transporte rodoviário e fomentar a aquisição de veículos eléctricos, lentamente e à medida que as infraestruturas de carga vão sendo reforçadas. Segundo ele, é preciso investir fortemente para que o número de postos de carga aumente, da mesma forma que têm de ser propostas soluções para recarregar os veículos nos prédios e nos condomínios, condição necessária para que os veículos eléctricos atraiam um cada vez maior número de clientes.

Contudo, Gomes Mendes apelou ao bom senso, recordando que trocar carros a combustão por eléctricos não resolve o problema da mobilidade, uma vez que uns e outros ocupam o mesmo espaço nos parques de estacionamento, que obviamente têm uma capacidade finita. O governante aconselhou o uso das e-scooters, as conhecidas trotinetas eléctricas, que sugeriu mesmo que “poderiam estar incluídas no equipamento de série dos carros eléctricos, para facilitar as deslocações na chamada última milha”. Mas se o secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade defendeu os eléctricos, argumentou ainda de forma mais veemente a favor de transportes públicos não poluentes (e daí o investimento nos Metros de Lisboa e Porto), bem como veículos partilhados, carpooling e carsharing, que nos pareceu a grande aposta do governante. José Gomes Mendes aproveitou ainda para anunciar que já foi criada legislação para que avançassem os testes em Portugal dos veículos autónomos, sendo conhecidas as suas vantagens e riscos. Em Junho deverão ser apresentadas as propostas do grupo de trabalho que está a definir o enquadramento legal que virá permitir a circulação de autónomos para além da fase de testes (versão já comercial dos veículos).