Um grupo de investigadores da Universidade de Pisa, em Itália, confirmou que foram as erupções do vulcão da ilha de Stromboli que provocaram os três grandes tsunamis que devastaram a zona do Mediterrâneo entre o século XIV e XV. Este estudo revela ainda que o Mediterrâneo mantém o risco de sofrer grandes estragos com a atividade de três vulcões em Itália: o Stromboli, o Etna e Vesúvio. Basta que uma porção do flanco desses vulcões deslize para dentro da água para provocar tsunamis devastadores.

De acordo com os cientistas, “deslizamentos de terra em larga escala em ilhas vulcânicas são um dos fenómenos geológicos mais perigosos, capazes de gerar tsunamis cujos efeitos podem se propagar para longe da fonte”. É difícil encontrar sinais desses desastres nos registos geológicos e mesmo que eles sejam encontrados, é quase impossível interpretá-los. Mas agora, graças a análises de datação com carbono, isso foi possível e desvendou que o perigo na atualidade permanece o mesmo de há sete séculos.

De todos, o Etna é o vulcão que está a provocar maior risco por estar a deslizar lentamente em direção ao mar. Aliás, o mar Mediterrâneo — a que os antigos romanos chamavam Mare Nostrum — é responsável por 10% dos tsunamis em todo o mundo, concluiu o estudo. E estima-se que uma vez em cada cem anos surja um tsunami de grande intensidade, tendo em conta que se localiza na zona de deslocamento da placa africana sob a placa euroasiática.

O comportamento do Etna, que está a mergulhar lentamente no mar, é o mesmo que está a ser observado no Stromboli. O estudo publicado na Scientific Reports pelo grupo de investigadores da Universidade de Pisa explicou que esse vulcão já provocou um deslizamento repentino de terras numa das faces da montanha, levando a três tsunamis em momentos diferentes da história. Esse é um fenómeno que pode repetir-se novamente.

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Um desses três grandes tsunamis da Idade Média foi testemunhado pelo poeta Francisco Petrarca em 1343. Petrarca estava em Nápoles, enquanto embaixador do Papa Clemente VI, e deu conta de uma “tempestade misteriosa e violenta” que provocou diversas baixas e o afundamento de muitos navios.

Isso mesmo é o que diz o estudo: a ilha ainda era desabitada quando o mais antigo tsunami de grande magnitude a atingiu, ao contrário do que se julgava. No entanto, os efeitos foram sentidos a 200 quilómetros da origem do fenómeno. O estudo confirmou que o poder destrutivo deste evento está relacionado com uma enorme tempestade marinha que devastou os portos de Nápoles em 1343, tal como o poeta relatou. “A devastação retratada pode ser potencialmente atribuída à chegada de múltiplas ondas de tsunami geradas por um grande deslizamento de terra na ilha de Stromboli, confirmando o risco hipotético desses fenómenos à escala regional”, diz o documento científico.

O grupo de investigadores da Universidade de Pisa que conduziu este estudo incluiu vulcanólogos e arquéologos da universidade. O coordenador do grupo, Mauro Rosi, revelou que foi precisamente a carta de Petrarca a relatar os acontecimentos que o motivou a investigar o que se passou em Stromboli. Foi assim que descobriu que o perigo que havia há quase 700 anos ainda permanece o mesmo. Só que, desta vez, mais ameaçador: numa região como o Mediterrâneo, um tsunami de grandes dimensões pode atingir uma população de 130 milhões de pessoas, que vivem em cidades costeiras.