O Novo Banco vai pedir uma injeção de 1.149 milhões de euros ao Fundo de Resolução, ao abrigo do mecanismo de capital contingente. Mais de metade deste valor resulta de perdas registadas nos ativos problemáticos herdados do BES. Mais de 350 milhões de euros devem-se a exigências do regulador. A instituição registou em 2018 um prejuízo consolidado de 1.413 milhões de euros, menos 38,5% do que no ano anterior. No entanto, excluindo os ativos tóxicos, o Novo Banco apresenta pela primeira vez um resultado positivo antes de impostos, ainda que residual de 2,2 milhões de euros em 2018.

O presidente executivo da instituição admitiu, durante a apresentação dos resultados, que o Fundo de Resolução possa ter de recorrer novamente a um empréstimo do Estado, como aconteceu no ano passado no valor de 430 milhões de euros. António Ramalho admite também o recurso às disponibilidades do próprio fundo e a empréstimos no mercado financeiro, mas remete essa matéria para a esfera desta entidade que é acionista com 25% do capital do Novo Banco.

Entretanto o Fundo de Resolução já confirmou o novo pedido de capital do Novo Banco e diz que o mesmo será efetuado após a certificação das contas de 2018 e a verificação por entidade independente. O Fundo de Resolução confirma ainda que os recursos próprios da instituição serão complementados com um empréstimo do Estado que pode ir até aos 850 milhões de euros anuais. O Ministério das Finanças anuncio entretanto que quer uma auditoria à concessão de créditos que estão a gerar perdas e que foram decididos ainda no tempo do Banco Espírito Santo.

Finanças querem auditoria à concessão de créditos problemáticos herdados do BES

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Até agora os ativos do Novo Banco que estão protegidos pelo mecanismo de capital contingente geraram perdas totais de 2,6 mil milhões de euros entre junho de 2016 e o final do ao passado. A maior fatia das perdas resultou da carteira de crédito no montante de 1,6 mil milhões de euros, seguindo-se títulos e ativos no montante de 620 milhões de euros e custos de financiamento de 286 milhões de euros.

Desde que entrou em vigor este mecanismo de proteção acordado no quadro da venda do Novo Banco à Lone Star, o montante de capital pedido ao Fundo de Resolução, que é acionista minoritário da instituição, atinge os 1,9 mil milhões de euros, cerca de metade do valor total disponível neste instrumento. No ano passado, foram utilizados quase 800 milhões de euros. Questionado sobre os motivos que levaram à necessidade de mais capital este ano, António Ramalho sublinhou que desde o final de 2017, o Nobo Banco recebeu uma injeção de mil milhões de euros do acionista privado, a Lone Star, e emitiu obrigações que contaram para os rácios.

Por outro lado, reconheceu também António Ramalho: “Pedimos mais agora, porque pedimos menos antes”. Ainda assim, o gestor sublinha a evolução registada nos ativos do legado que numa fase inicial chegaram a ter um valor de balanço de 7,9 mil milhões de euros, mas que agora já representam apenas quatro mil milhões de euros. Quanto menor for esta carteira, menor serão as perdas a registar no futuro.

O Novo Banco bom e o Novo Banco mau

A instituição liderada por António Ramalho apresenta pela primeira vez as contas separadas entre os ativos que estão destacados e que resultam diretamente do legado do BES (Banco Espírito Santo), e o atividade recorrente do banco. Em termos consolidados, o resultado depois de impostos, negativo em 1.413 milhões de euros, inclui também o efeito da anulação de ativos por impostos diferidos no valor de 667,6 milhões de euros.

Sobre a evolução das duas metades do Novo Banco, António Ramalho sublinhou que o objetivo é que o legado vá perdendo dimensão, bem como as perdas geradas pelos seus ativos, à medida que a atividade corrente reforçará o seu peso. Até que os resultados positivos gerados pela atividade corrente possam compensar as perdas geradas no banco legado, permitindo ao Novo Banco apresentar um resultado consolidado positivo. O gestor não se comprometeu com uma data para o regresso aos lucros, mas admitiu que esse objetivo deverá ser cumprido até ao fim da execução do plano de reestruturação previsto para 2021.

Mas destaca fatores positivos como a redução do nível crédito em incumprimento para 22,4% do total. Quando António Ramalho chegou ao Novo Banco, a dimensão destes créditos era um um terço. “Não era um banco era uma casa de reestruturação“. Destaca ainda o grande reforço da taxa de cobertura das imparidades mostra-se convicto de que nas operações correntes do Novo Banco, a parte boa, vai conseguir cumprir a meta de 5% para o rácio de crédito malparado.

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O presidente executivo do Novo Banco sublinhou ainda que houve “uma limpeza brutal” na carteira de ativos protegidos que está agora avaliada em 4000 milhões de euros, líquidos de imparidades. António Ramalho reconhece ainda que há coisas nesta carteira problemática que “tem têm sido uma surpresa” e as surpresas na banca nunca são boas.

Questionado ainda sobre que créditos geraram perdas na carteira do legado no ano passado e se nessas operações estão incluídos empréstimos a devedores em incumprimento com a banca, como Joe Berardo e a Controlinveste de Joaquim Oliveira — que foi declarada insolvente este ano — o gestor não quis confirmar a identidade dos clientes. Não obstante considerar que enquanto gestor bancário está em contracorrente com outros colegas, ao admitir que é preciso refletir sobre o valor da transparência e o valor do sigilo bancário no caso dos devedores que não pagam, António Ramalho remeteu essa transparência para a legislação que foi aprovada pelo Parlamento e que prevê que a informação individual sobre os grandes devedores da banca seja apenas reportar aos deputados.