Para Luís Marques Mendes, comentador político, antigo líder do PSD e conselheiro de Estado, o populismo é “um bocadinho como o colesterol”: há “o bom e o mau”. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pode ter “um tique ou outro”, mas “é um populismo bom” que ajuda a “combater o mau populismo”. As declarações foram proferidas no seu espaço de comentário semanal na SIC, este domingo à noite, dia 10 de março.

Fazendo uma análise ao primeiro mandato do Presidente da República (PR), que tem feito relativo tabu do tema de uma possível recandidatura, Marques Mendes quis sublinhar que Marcelo é “completamente diferente” não só de Cavaco mas de todos os antecessores. É diferente de Jorge Sampaio e Ramalho Eanes, mais evidentemente, mas também de Mário Soares, que “é o mais parecido mas era uma espécie de presidente rei, era apreciado e adorado pelo povo mas cultivava uma certa distância do povo”. Ora, Marcelo Rebelo de Sousa, pelo contrário, “é um presidente do povo”, é “um presidente genuíno”, “não é postiço” e é “o presidente certo para este tempo político de crispação e populismo”.

Depois da crise, da austeridade, da troika, o país estava muito crispado e dividido. [Marcelo] Contribuiu para descrispar o país”, afirmou Marques Mendes. Além disso, o Presidente da República está “a reequilibrar o sistema político semi-presidencial, que estava muito inclinado para um certo presidencialismo do primeiro-ministro. Marcelo está a dar mais equilíbrio ao regime”.

Quanto à visita do Presidente da República a Angola, o conselheiro de Estado afirmou que esta foi “um enorme sucesso”, que foi “acima das expectativas” e que “melhor era impossível”. Foi um sucesso, disse Marques Mendes, “do ponto de vista político e popular”. Desde “aquele caso ‘irritante’, do processo judicial” que as relações não estavam tão boas. E isso acontece também por causa de Marcelo Rebelo de Sousa, que é “um presidente diferente dos outros”, que fez sentir em Angola o “efeito Marcelo” que consiste em “gostar do povo, ter empatia”.

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Para as relações políticas entre os dois países, o “show” Marcelo foi positivo porque “o sucesso popular ajuda ao sucesso político” e “as relações pessoais ajudam muito às relações políticas”. Consumada a reconciliação política, agora é altura da aproximação económica, entende Marques Mendes: “Os políticos fizeram o seu trabalho, agora é o tempo dos empresários. Portugal precisa de Angola para a internacionalização da economia e Angola precisa do investimento português para o seu relançamento económico porque a crise económica em Angola é séria”. Questionado sobre uma eventual desconfiança entre os agentes dos dois países, Marques Mendes respondeu:

Desconfiança houve até agora. A partir destes últimos meses e desta visita a confiança está estabelecida. Ou os empresários portugueses chutam à baliza, isto é investem, ou desperdiçam uma oportunidade”, alertou o antigo líder do PSD.

PSD também tem de “chutar à baliza e marcar alguns golos”

Quem também tem uma oportunidade que tem de aproveitar — e não o está a fazer — é o PSD, alertou Marques Mendes. Se o Governo “está a tentar marcar a agenda, liderá-la”, o PSD está “parado e pouco ativo”, o que é ainda mais estranho quando “desapareceram as guerras internas” no partido e “este é o pior momento para o Governo”. É preciso “chutar à baliza e marcar alguns golos”.

O PSD e Rui Rio deviam aproveitar esta fase de paz interna e dificuldades do Governo. Rui Rio deveria estar a fazer uma volta pelo país para ouvir as pessoas, fazer as suas propostas e mobilizar o eleitorado. Devia também [estar a] apresentar propostas setoriais, mostrar que há alternativa. Isso também ajudava à campanha das europeias”, referiu Marques Mendes, elogiando a “campanha boa e acutilante” de Paulo Rangel.

O PSD somou 25% das intenções de voto dos eleitores na última sondagem SIC/Expresso e esse é “dos piores resultados de sempre do PSD”. A sondagem foi boa para o PCP — “resultado praticamente igual ao que teve há três anos –, “não é fantástica” para Bloco de Esquerda e CDS que somam os mesmos 8% da CDU, “abaixo daquilo que desejavam”, e para o PS “é bom mas não é brilhante, ganha eleições mas está longe, longe da maioria absoluta”. Outro partido que não ficará satisfeito com a sondagem é o Aliança de Pedro Santana Lopes, sugere Marques Mendes: “2% não é fantástico”. O comentador político não referiu no entanto a projeção da sondagem para o PAN, uma das grandes surpresas deste inquérito, já que dá ao partido de André Silva um resultado (3%) de mais do dobro do que teve nas últimas eleições legislativas.

Sondagem: PS à frente mas sem maioria absoluta nas legislativas. PSD com 25%, CDS empatado com BE e CDU e PAN à frente do Aliança

Neto de Moura e Costa no programa da Cristina: “Não é populismo”

No seu comentário semanal na SIC, Luís Marques Mendes afirmou que a presença do primeiro-ministro, António Costa, no programa de Cristina Ferreira, no mesmo canal, “não é populismo”, antes “pelo contrário”. Ir a estes programas, acrescentou, “ajuda a humanizar mais os políticos, a estreitar a sua relação com os povos”. Quanto a Cristina Ferreira, tem “mérito” por dois motivos: “por um lado a sua simpatia”, por outro “o talento de criar um programa que gera muita audiência”.

No momento em que estabelece uma relação mais simpática e afetuosa entre eleito e eleitores [o político] até ajuda a combater o populismo. Não é pecado nem crime político querer ser mais popular.

O comentador militante do PSD falou ainda da polémica dos acórdãos do juiz Neto de Moura, alimentada por um anúncio da intenção do juiz em processar críticos e por uma entrevista dada este sábado ao jornal Expresso. “As considerações insensatas e inacreditáveis que o juiz proferiu em alguns acórdãos tiveram um efeito positivo que ele não desejou na sociedade portuguesa. Com as suas declarações insensatas fez mais à causa da violência doméstica mais do que muitos discursos, manifestações de ruas e muitos programas. O caso foi tão forte que acordou a sociedade portuguesa, indignou-a e ajudou-a a mobilizar-se”, defendeu Marques Mendes.

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Para o político, é bom que os partidos políticos tenham começado “a apresentar iniciativas” e que o Governo tenha anunciado “um grupo de trabalho, alguma coisa é”. É um sinal de que “as pessoas indignaram-se e bem, mobilizaram-se e isso é bom para ajudar a mudar mentalidades”. Marques Mendes avisou contudo que “resolver e legislar a quente normalmente dá asneira”, mas disse por outro lado que é necessário um conjunto de mudanças, entre os quais “penas mais pesadas“. Ei-las enumeradas:

Mais formação a magistrados e autoridades. Melhor coordenação e articulação. Melhor proteção à vítima. Penas mais pesadas — menos penas suspensas e mais prisões efetivas porque a justiça também tem de ter efeito dissuasor”, referiu.

O antigo líder social-democrata deixou ainda uma crítica a Tomás Correia, presidente do Montepio, que segundo o político “fez aprovar em Assembleia Geral que o banco é que tem de pagar multas a antigos gestores do Montepio, que foram condenados pelo Banco de Portugal. Isto é uma fraude. Se são gestores condenados não pode ser a instituição a pagar. Parece que Ricardo Salgado tem muitos discípulos cá dentro“.

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