Profissional desde 1991, ganhou o primeiro título do ATP em 1994 mas foi fora da terra batida e num Grand Slam que surgiu na primeira linha do ténis mundial, dois anos depois. Até perdeu, nos quartos do US Open, mas a derrota no tie break do quinto set frente ao americano Pete Sampras depois de ter perdido um match point pelo meio foi uma espécie de cartão de apresentação de um jogador espanhol que, em 1997, venceria o compatriota Francisco Clavet no Estoril Open: Alex Corretja.

Num ranking que provavelmente nunca terá unanimidade sobre os melhores de sempre, o antigo jogador nascido em Barcelona consegue com relativa facilidade ser aceite por uma esmagadora maioria como “o melhor dos não melhores”. Esteve em duas finais de Grand Slams, ambas em Roland Garros, mas perdeu com o também espanhol Carlos Moya (1998) e com o brasileiro Gustavo Kuerten (2001). Chegou a ser número 2 do mundo em 1999 mas nunca passou esse último degrau para o topo da hierarquia. No entanto, tornou-se o primeiro sem Majors nem lideranças do ranking a ganhar um ATP Finals, em 1998 ainda designado por ATP Tour World Championships (derrotando Sampras e Moya nas meias e na final).

Com 17 títulos individuais, um triunfo na Taça Davis e a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sidney em pares, Corretja acabou por abandonar a carreira em 2006 com 32 anos, no seguimento de um problema no olho esquerdo que levou a que fosse operado e que ficasse com uma visão limitada, a cerca de 60%. Abandonou a carreira nos courts, manteve-se ligado ao ténis e vestiu variados papéis, desde treinador de Andy Murray (com enfoque na temporada em terra batida durante três anos) a capitão da seleção espanhola na Taça Davis até assumir o posto de comentador no Eurosport. Foi nessa condição que respondeu a algumas questões do Observador, nomeadamente as possibilidades do português João Sousa (que se estreia esta manhã na primeira ronda frente ao espanhol Pablo Carreño Busta), as probabilidades de voltar a haver uma final 100% espanhola como a que teve com Moya há duas décadas ou as memórias das vitórias frente a Federer.

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“Sempre disse o mesmo sobre o João Sousa: é um grande trabalhador e um jogador a quem todos sabem que nunca é fácil ganhar. Continuo a achar que se sente mais confortável em pisos rápidos do que na terra batida, mesmo depois de ter ganho o Estoril Open no ano passado, que foi um grande feito para ele. Penso que se Sousa chegasse à segunda semana de Roland Garros era um resultado fantástico”, comentou o antigo jogador espanhol, que não acredita propriamente em mais uma final com dois jogadores espanhóis como aconteceu pela última vez em 2013, entre Rafa Nadal e David Ferrer, que acabou recentemente a carreira: “Era uma grande surpresa para mim se acontecesse. O Rafa vai lá estar e depois depende muito de quem vem do outro lado do quadro mas estou à espera de um Djokovic ou de um Thiem, mais do que quaisquer outros jogadores”.

“Nesses jogos com o Federer [vitória na quarta ronda em 2000 e nos quartos em 2001], já se conseguia perceber que tinha um potencial impressionante. Tinha um bom serviço, complicado de ler porque virava bastante os ombros. Depois, quando se fazia uma pancada mais curta, dava o passo em frente e fazia-o bem. Percebia-se que era ainda um jogador desesperado para ganhar o ponto, sem a paciência necessária e que cometia mais erros, o que obrigava a que fosse mais agressivo para ganhar os pontos. Com o tempo melhorou em tudo, do trabalho de pés ao serviço, passando pela esquerda, tudo. Começou a vir mais à rede, ganhou alternância no seu jogo. Foi por isso que se tornou um dos melhores também na terra batida, porque ganhou Roland Garros mas também Hamburgo, Roma, Monte Carlo… Era muito bom mas ainda novo, física e mentalmente”, recordou.

Ainda a propósito desta edição de Roland Garros, e tomando em linha de conta o aparecimento de uma nova geração numa altura onde apenas Wawrinka furou o domínio de Nadal (sobretudo), Djokovic e Federer em França, o espanhol destaca sobretudo um cara nova em detrimento de todos os outros. “Roland Garros será sempre o torneio mais complicado para Zverev ganhar e Thiem tem mais possibilidades de lá chegar. O Tsitsipas com o tempo também terá a sua oportunidade porque sabe jogar na terra batida e gosta de jogar lá, o que é importante. Sabe como se mexer, como variar o seu jogo e vai melhorar o serviço. Ainda assim, acho que o Thiem será o mais complicado de bater em terra batida nos próximos anos, sobretudo quando as agora super estrelas começarem a descer um pouco mais no seu rendimento”, analisou Alex Corretja, fazendo ainda uma antevisão um pouco mais global sobre o que poderá ser a edição de 2019 no quadro masculino e feminino.

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“No masculino, consigo ver o Rafa [Nadal] e o Novak [Djokovic] um pouco à frente de todos os outros mas consigo ver Thiembem perto deles. Tsitsipas está a melhorar muito, Del Potro é sempre complicado de bater, o Roger [Federer] está de volta, temos de ver como chega o Wawrinka. No feminino, acho que é um quadro mais aberto do que até costuma ser normal. A Halep será sempre complicada pela experiência que foi ganhando de finais e pela forma como jogou em Madrid, e ela, a Pliskova e a Bertens são as minhas favoritas, mas não se sabe como estarão a Kvitova ou a Serena. A Osaka ainda tem de melhorar um pouco o seu jogo das últimas semanas. Vai ser um torneio aberto mas estes são os destaques”, concluiu.

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