Entre 2016 e 2018, abriram 1968 clínicas dentárias em Portugal, segundo dados da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), citados pelo Jornal de Notícias. Feitas as contas, trata-se de uma média de 55 novos consultórios por mês. Mas este aumento está a preocupar a Ordem dos Médicos Dentistas, que alerta para a “publicidade enganosa” e pede a intervenção da Entidade Reguladora da Saúde.

Atualmente têm autorização para funcionar em Portugal 6514 consultórios, o que quer dizer que, em três anos, as novas licenças atribuídas correspondem a 30% do universo total. O aumento da concorrência levou a um frenesim das promoções, o que prejudicou os consultórios mais pequenos, em detrimento dos grandes grupos.

Ao jornal, o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva, critica a “publicidade enganosa” das empresas e para as intervenções prometidas a preços de saldo, com os consultórios a assegurarem tratamentos e técnicas “inovadores” (mas que de inovador “nada têm”). Há ainda “promessas de resultados que não podem ser cumpridas e garantias de tratamentos que não podem ser dadas”, revela o bastonário.

Jovens médicos dentistas enfrentam precariedade e subemprego

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O ‘boom’ de novos consultórios explica-se ainda, segundo um médico ouvido pelo jornal, que não se quis identificar, pela entrada de milhares de novos licenciados no mercado de trabalho que, por não terem condições para abrirem um consultório, aceitam trabalhar por baixos salários.

A Ordem dos Médicos Dentistas reitera este argumento. Orlando Monteiro da Silva revela que há casos de recém-formados que aceitam ganhar quatro euros à hora (ou menos). Por exemplo, uma destartarização a preço “low-cost” pode custar 20 euros, sendo que o dentista chega a ganhar apenas quatro euros.

O bastonário avisa mesmo que os consumidores devem “desconfiar do que é gratuito”. O bastonário critica a Entidade Reguladora da Saúde por falta de atuação. E lembra que há um médico dentista ativo para 1033 habitantes, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um rácio de um dentista para cerca de 1500/2000 habitantes.

Segundo a Ordem dos Médicos Dentistas, que se baseia num Estudo de Empregabilidade 2018, a percentagem de dentistas que recebem menos de 19% por tratamento é de 3% e entre 20% e 29% é de 13%.