A solução do novo aeroporto do Montijo foi “martelada” pelo anterior Governo, que liderava um estado “sem dinheiro” e que aceitou vender a “soberania aeroportuária” por 3,08 mil milhões de euros, aos franceses da Vinci. Agora, o atual Governo “herdou aquilo”, uma solução “atamancada” e um contrato feito com condições “generosas” do ponto de vista da empresa francesa. Este é o retrato feito por Carlos Mineiro Aires, bastonário da Ordem dos Engenheiros, que lamenta que, neste contexto, está-se a olhar para o Montijo como uma solução “irreversível” que, além de ter grande probabilidade de “derrapar” financeiramente, comporta “um cenário de perigo”.

Em entrevista ao Jornal Económico, o bastonário da Ordem dos Engenheiros avisa que “a orientação da pista, a proximidade da ponte e a afluência de aves” são fatores que podem contribuir para “um cenário de perigo” caso o aeroporto do Montijo seja mesmo construído. “Espero que nunca caiba à Justiça apurar responsabilidades pela queda de um avião no Montijo”, avisa.

Além disso, manter o aeroporto na Portela também comporta grandes riscos, lembra Carlos Mineiro Aires, defendendo que, de um dia para o outro, as pessoas podem olhar de forma muito diferente para o facto de existir um aeroporto tão central. “O acidente aéreo em Lisboa pode não acontecer e é desejável que não aconteça. Mas no dia em que, por infelicidade nossa, esse evento ocorresse, nesse dia todas as vozes estariam de acordo em retirar [o aeroporto] o mais rapidamente do centro da cidade de Lisboa”.

O responsável lembra que a solução vista como mais acertada pelo LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil] seria a construção de um grande aeroporto em Alcochete. Mas a solução do Montijo aparece como “irreversível” porque “existe um contrato” e Carlos Mineiro Aires diz não ser “daqueles que defendem ruturas: ‘rasga-se o contrato e manda-se os franceses embora'”. “Já lá vai o tempo em que isso era assim. Se mandarmos os franceses embora temos de pagar-lhes”, recorda o responsável.

O Montijo é uma solução atamancada, que resulta da necessidade. O próprio arrastar da questão contribui para torná-la incontornável e dizer que já não há tempo para qualquer outra”.

Além dos perigos para a navegação aérea, Carlos Mineiro Aires diz que, pela experiência de quem “já cá anda há alguns anos”, parece provável que os custos da construção — atualmente previstos em 1,15 mil milhões de euros — “podem vir a derrapar”. E quando há um contrato “só há duas formas de reequilibrar — ou se aumenta o período da concessão ou se paga o que for devido”.

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