O primeiro-ministro Boris Johnson vai apresentar uma moção para tentar levar o Reino Unido a eleições já esta segunda-feira, segundo confirmou o próprio em entrevista à Sky News e, mais tarde, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Jacob-Rees Mogg, perante os deputados.

“A forma de conseguir o Brexit é ser razoável com o Parlamento e dizer-lhes: se querem mesmo mais tempo para estudar este excelente acordo, podem tê-lo. Mas têm de aceitar uma eleição a 12 de dezembro”, declarou o primeiro-ministro em entrevista à Sky News. “Dar-lhes-emos todo o tempo que precisam para escrutinar o acordo até o Parlamento ser dissolvido”, acrescentou, referindo-se assim à proposta feita pelo Partido Trabalhista esta semana de alterar o calendário de análise do acordo em troca de eleições antecipadas.

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“Na segunda-feira, os membros terão oportunidade de debater e aprovar uma moção sobre eleições antecipadas”, anunciou o ministro dos Assuntos Parlamentares, Jacob-Ress Mogg, na Câmara dos Comuns, depois de ter sido aprovado o Discurso da Rainha, com o programa do Governo. A essa data, já deverá ter sido concedido um adiamento do Brexit, visto que os líderes europeus deverão anunciar a sua decisão esta sexta-feira.

Isto não significa, porém, que o Reino Unido esteja sem sombra de dúvidas a caminho de uma ida às urnas. O primeiro-ministro confirmou que irá tentar forçar eleições através do mecanismo da Lei dos Mandatos Parlamentares Fixos, que Boris já havia tentado em setembro e que falhou, por não ter a maioria de dois terços necessária na câmara para ser aprovada. Para ter essa maioria necessária de dois terços, o primeiro-ministro necessita que o Partido Trabalhista, o maior da oposição, vote a favor dessa eleição.

É nessa sequência de ideias que Boris Johnson revelou no Twitter esta quinta-feira que escreveu uma carta a Corbyn pedindo-lhe que apoie a ida às urnas. Nela, o primeiro-ministro afirma que “tendo em conta a situação, temos de dar aos eleitores a hipótese de resolver esta situação o mais cedo possível, dentro do razoável, antes de 31 de janeiro [data provável da extensão concedida pela UE].”

O Labour tem repetido que recusa a ida a eleições por temer um cenário de no deal. Contudo, se o adiamento do Brexit for entretanto concedido esta sexta-feira, o primeiro-ministro espera assim desarmar Jeremy Corbyn na segunda-feira e instá-lo a votar favoravelmente à ida às urnas. Esta quinta-feira, na Câmara dos Comuns, a ministra-sombra dos Assuntos Parlamentares, Valerie Vaz, anunciou que o Labour apoiará eleições antecipadas “se o adiamento for concedido e se a extensão dada o permitir”.

Vaz referia-se provavelmente à duração da extensão. Em caso de adiamento curto, de apenas um par de semanas, o Labour pode alegar que tal não é suficiente para debater um acordo e que o risco de no deal se mantém, razão pela qual pode chumbar a ida às urnas. Rees-Mogg respondeu que os trabalhistas “arranjam sempre desculpas e vão continuar a arranjá-las”.

O ministro sublinhou ainda que o Governo cumpriu as condições impostas pelo Labour, ao evitar um no deal e ao propor um acordo. “E, por alguma razão, a oposição continua a não querer ir a eleições”, apontou. “Nós sabemos porquê: é porque têm medo dos eleitores”, acusou Jacob Rees-Mogg.

Jeremy Corbyn reagiu mais tarde, em entrevista, onde voltou a sublinhar que só é possível falar de eleições depois de ser garantido o adiamento do Brexit pela UE esta sexta-feira. Nesse cenário, voltou a afirmar, apoiará eleições: “Ando a pedir eleições desde que tivemos a última, porque este país necessita de uma para lidar com todos os problemas de injustiça social que tem — mas o no deal tem de sair de cima da mesa.”