O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o líder da oposição, Jeremy Corbyn, encontraram-se na manhã desta quarta-feira, antes do debate semanal no Parlamento, para tentar chegar a um acordo sobre o calendário de possível aprovação da proposta para o Brexit conseguida pelo primeiro-ministro em Bruxelas.

A reunião aconteceu depois de os deputados britânicos terem aprovado o princípio de acordo na Câmara dos Comuns, na véspera, mas terem chumbado o calendário de debate e votação proposto pelo Governo (até sexta-feira). Boris Johnson anunciou de seguida que suspende o processo de legislação até a União Europeia (UE) tomar uma decisão sobre o pedido de adiamento da data de saída, marcada para 31 de outubro.

O Brexit está “num limbo”. E o que significa isso?

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Esta quarta-feira, menos de uma hora antes do debate semanal com o primeiro-ministro que costuma acontecer todas as quartas no Parlamento, Johnson e Corbyn reuniram-se para tentar chegar a um entendimento. O gabinete do primeiro-ministro confirmou a reunião, que disse ter servido para os dois líderes discutirem “se o Labour irá apoiar um calendário” que sirva para “conseguir o Brexit em vez de ter mais um adiamento”.

Já o comunicado do Partido Trabalhista foi ainda mais longe, anunciando que os trabalhistas estão não só disponíveis para negociar esse calendário, como irão apoiar eleições antecipadas assim que haja um adiamento concedido pela UE: “Jeremy Corbyn reiterou a oferta do Labour ao primeiro-ministro de acordar um novo calendário razoável para debater, escrutinar e emendar a proposta de lei do Acordo de Saída e reafirmou que o Labour irá apoiar uma eleição geral quando a ameaça de uma saída com no deal esteja fora da mesa.”

As negociações, contudo, não parecem ter chegado a bom porto. Em primeiro lugar, as fontes do Governo falaram numa reunião inconclusiva, acusando Corbyn “de não ter outra política que não a de adiar e de passar o ano de 2020 a realizar referendos”, numa referência a um segundo referendo ao Brexit e a um referendo à independência na Escócia. No debate semanal, que decorreu pouco depois, Boris Johnson referiu isso mesmo novamente. E o tom não foi simpático.

Boris “atirou acordo para debaixo do autocarro”, Corbyn “apoiou o IRA”. Líderes trocam acusações em debate semanal

De seguida, no frente-a-frente semanal, os dois líderes não deram grandes pormenores sobre essa discussão. A única referência veio numa pergunta do trabalhista, que questionou o primeiro-ministro sobre se “o Parlamento deve ter o tempo necessário para melhorar este acordo”, dizendo que “é ainda pior do que aquele que era terrível”, numa referência à adjetivação feita pelo próprio Boris Johnson ao acordo de Theresa May, que foi chumbado três vezes na Câmara dos Comuns.

Boris Johnson não respondeu diretamente à questão, preferindo elencar os seus feitos: “Disseram que não podíamos reabrir o acordo e reabrimos, disseram que não podíamos livrar-nos do backstop e livrámo-nos”, começou por dizer.

Disseram-nos que não podíamos aprovar um novo acordo no Parlamento e fizemo-lo na noite passada”, acrescentou Boris em tom jubilante. “Este é o partido e o Governo que cumpre as suas promessas”, sentenciou.

A referência a eleições só surgiria mais à frente, em resposta ao líder do SNP (nacionalistas escoceses), quando Boris Johnson propôs a Ian Blackford que “se junte aos restantes líderes da oposição e apoie uma eleição geral”.

Antes disso, Johnson e Corbyn já tinham trocado farpas, num debate de ritmo acelerado, com ataques profundos. O líder trabalhista acusou o primeiro-ministro de ter atirado “o acordo para debaixo do autocarro” e ter tentado “impedir o escrutínio e o debate verdadeiros e democráticos”.

Mas o ataque mais duro veio do primeiro-ministro. Em resposta às acusações de Corbyn de que, com o acordo em apreço, é criada “uma verdadeira fronteira no mar da Irlanda” — algo que Boris Johnson se tinha comprometido em evitar —, o primeiro-ministro foi à jugular do adversário: “É irónico ver este apego sentimental à União vindo de quem apoiou o IRA durante toda a sua vida política”, disse, referindo-se ao grupo nacionalista irlandês responsável por centenas de mortes em ataques à bomba. “E [Corbyn] não quer só um segundo referendo nesta matéria [o Brexit], quer um sobre a Escócia. É esta a ameaça que vem da bancada do Labour”, acusou o primeiro-ministro.

Entretanto, em Bruxelas, os embaixadores europeus devem reunir-se esta quarta-feira às 17h30 (hora local, 16h30 em Lisboa) para discutir o pedido de adiamento. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, confirmou na mesma manhã que irá recomendar que o pedido de adiamento seja aceitado, mesmo depois de ter conversado ao telefone com Boris Johnson. Resta saber se todos os líderes dos 27 Estados-membros concordam e, se for o caso, qual a duração da extensão que venha a ser concedida ao Reino Unido.