“Os Órfãos de Brooklyn”

Na Nova Iorque dos anos 50, um detetive particular que sofre do Síndroma de Tourette investiga o assassínio do seu chefe, mentor e melhor amigo, e dá consigo metido num complicado enredo de corrupção municipal, trapaça imobiliária, discriminação racial e segredos familiares indizíveis. Edward Norton escreve, realiza e interpreta está adaptação do livro “Motherless Brooklyn” (que foi muito alterado), de Jonathan Lethem, um projeto que tinha há 20 anos, rodeando-se de atores como Bruce Willis, Willem Dafoe, Adam Baldwin (num todo-poderoso autarca “à Trump”) ou Gugu Mbatha-Raw. “Os Órfãos de Brooklyn” é um policial com estrias de filme “social”, e se a certa altura a história se torna previsível e convencionada, a preciosa recriação da cidade, o enorme sentido da época e a inteligente interpretação de Norton, justificam a deslocação.

“O Imperador de Paris”

Jean François-Richet, o realizador do díptico policial “Instinto Assassino”/”Inimigo Público Nº1” (2008), sobre o lendário “gangster” francês dos anos 60 e 70 Jacques Mesrine, assina esta produção histórica sobre a vida de François Vidocq, o malfeitor que, sob o consulado de Napoleão Bonaparte, passou para o outro lado da Lei e foi nomeado director da polícia, a Sûreté, com resultados surpreendentes. A fita, que tem Vincent Cassel no papel de Vidocq, combina enérgica e eficazmente a biografia, a aventura de capa, espada e arcabuz, o policial e a reconstituição histórica, numa época pós-revolucionária e ainda turbulenta de França em que também Paris estava em mudança. E inscreve-se na tradição do grande filme industrial de qualidade que foi outrora um dos emblemas do cinema francês e hoje está quase abandonada.

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“As Raparigas do Sol”

Uma repórter de guerra francesa (Emmanuelle Bercot) acompanha um grupo de combatentes curdas na sua luta contra o Estado Islâmico. Este destacamento tem uma particularidade: todas as mulheres estiveram já cativas do inimigo, sofreram maus-tratos e foram violadas e vendidas como escravas, tendo sido libertadas a troco de dinheiro ou conseguido fugir A realizadora Eva Husson abusa dos “flashbacks” explicativos, mas este filme que entremeia o documental e o ficcionado consegue cumprir a sua missão de ilustrar a coragem, a dedicação e o espírito de sacrifício das guerreiras curdas. Golshifteh Farahani empresta a sua beleza melancólica a Bahar, a comandante da unidade e líder natural, que tem a esperança de encontrar vivo o filho pequeno raptado pelos fanáticos. E “As Raparigas do Sol” é um caso raro: um filme de guerra só com mulheres.

“Le Mans ’66: O Duelo”

James Mangold recria aqui a lendária rivalidade desportiva nos anos 60 entre a Ford e a Ferrari pelo predomínio nas 24 Horas de Le Mans, quando Henry Ford II contratou o construtor e antigo piloto de corridas Carroll Shelby, para que ele aperfeiçoasse o Ford GT40 e o transformasse num carro que fosse capaz de bater as máquinas da marca de Maranello na mais mítica corrida de automóveis do mundo. Matt Damon interpreta Shelby e Christian Bale personifica o inglês Ken Miles, tanquista na II Guerra Mundial e sobredotado do volante. “Le Mans ’66: O Duelo” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.