José Ribeiro e Castro, antigo líder do CDS, não está optimista sobre o futuro do partido: critica a forma como o CDS reagiu ao desaire eleitoral e se está a preparar para o futuro, e teme que a “sobrevivência” do partido esteja em causa. Em entrevista ao Direito ao Assunto, da Rádio Observador, afirma: “Estou preocupado com a situação atual, o CDS não está a preparar bem este congresso, está numa crise profundíssima”.

Ribeiro e Castro defende que não é só o resultado de 4% nas eleições que o preocupa, mas sim o facto de isso significar eventualmente uma “falência orgânica institucional” e uma “falência identitária” do partido. Questionado sobre se acha que a sobrevivência do CDS está em causa, Ribeiro e Castro não tem dúvidas de que sim — “pode estar em causa”. E explica porque é que o caso de 2019 não pode ser comparado ao do início dos anos 90, quando o CDS reduziu drasticamente o número de deputados para cinco, e ficou conhecido como “o partido do táxi”.

“Não defendemos uma reforma eleitoral batoteira”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo Ribeiro e Castro, os dois casos não são comparáveis porque, naquela altura, “o CDS manteve-se sempre como um partido que valia 10%, mas nas legislativas, com o rolo compressor da maioria cavaquista, era prejudicado pelo voto útil”. Prova disso eram os resultados nas restantes eleições — autárquicas e europeias — onde o CDS mantinha resultados eleitorais acima de 10%. Coisa que não se verifica agora.

Para o ex-líder e ex-deputado, perante esta “crise profundíssima”, o CDS devia primeiro fazer o “luto” dos resultados eleitorais, explicar devidamente o que se passou, e só depois devia partir para a fase seguinte, a do Congresso. José Ribeiro e Castro diz que não vai ao congresso de Aveiro, em janeiro, mas vai votar no último dia. “Não tenho um líder preferencial, mas vou votar”, confessou.

O “papão” dos círculos uninominais

Já sobre a petição sobre a reforma do sistema político que conseguiu ver discutida na Assembleia da República na última sexta-feira, Ribeiro e Castro diz que há muito trabalho ainda a fazer para desmistificar os “papões” e as “resistências” que se criaram à volta da ideia dos círculos uninominais, mas acredita que já há avanços nessa matéria. “A expressão ‘círculos uninominais’ é usada como um papão porque é usada de forma errada, as pessoas pensam no sistema alemão, francês, britânico, e não pensam na forma como propomos o modelo português”, diz, apelidando o sistema que propõe de “verdadeiramente genial” por ser o melhor dos dois mundos.

“Não defendemos uma reforma eleitoral batoteira, e seria batoteira se fosse para favorecer uns partidos em detrimento de outros. Não é isso que a história deste sistema demonstra. Sugiro que estudem o sistema alemão, e o nosso é melhor do que o alemão porque tem um círculo nacional e não tem cláusula barreira (onde é preciso ter 5% dos votos ou ganhar em três círculos uninominais para ter representação parlamentar)”, diz, explicando que o sistema que propõe não prevê necessariamente a redução do número de deputados e permite, por um lado, que as pessoas escolham o seu deputado e, por outro, mantenham um Parlamento proporcional. “O papão da bipolarização é um erro”, diz.