Um ataque armado na quarta-feira e esta quinta-feira na província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique, destruiu várias aldeias, colocando comunidades inteiras em fuga, mas sem registo de mortes, para já, disseram à Lusa fontes locais, decorrendo ainda levantamentos.

Os agressores, em número incerto, incendiaram inúmeras habitações e infraestruturas, tais como edifícios dos serviços públicos e escolas, entre as quais o Instituto Agrário de Bilibiza, gerido pela Fundação Aga Khan — que remeteu uma reação oficial para breve.

Segundo as descrições, o nível de destruição é grande nas povoações situadas dentro das circunscrições dos postos administrativos de Bilibiza e Mahate, ambos pertencentes ao distrito de Quissanga — um distrito costeiro do sul de Cabo Delgado, a 120 quilómetros de Pemba, capital provincial, por caminhos de terra batida.

Fontes locais têm dito à Lusa que a população iniciou a debandada das aldeias para o mato ao princípio da tarde de quarta-feira, altura em que começaram a circular as primeiras mensagens sobre um ataque armado em curso na zona: uma região de mato pontuada por machambas (hortas) de agricultura de subsistência, onde as aldeias são feitas de construções artesanais, com materiais tradicionais, ligadas entre si por caminhos em terra batida.

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Em Bilibiza, sede de posto administrativo e muito afetada pela passagem do grupo armado, a violência registou-se a partir das 20h, sendo que os habitantes só começaram a regressar durante a manhã.

O Instituto Agrário de Bilibiza é a única escola secundária técnica em Cabo Delgado, é frequentada por cerca de 400 alunos e tem uma componente de internato, mas está em período de férias.

A instituição faz parte da Rede de Desenvolvimento Aga Khan (AKDN, sigla inglesa) na sequência de um acordo assinado com o governo moçambicano em 2014 e tem estado a introduzir novas técnicas agrícolas, além de realizar projetos de infraestruturas.

Portugal é um dos países parceiros do Instituto Agrário de Bilibiza e o Governo português já condenou o ataque, reiterando apoio a Moçambique para lidar com a ameaça armada. As autoridades moçambicanas ainda não comentaram o assunto.

O primeiro-ministro deu esta quinta-feira posse a dois dirigentes do Estado, numa cerimónia pública, em Maputo, mas não prestou declarações aos jornalistas presentes, sendo que os dois empossados também se escusaram a falar quando confrontados com o tema.

“Não estou em condições de me pronunciar sobre a questão”, disse Estêvão Pale, novo presidente do conselho de administração da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), cujos maiores investimentos estão a nascer na região de Cabo Delgado para exploração de gás natural.

Luísa Meque, diretora-geral do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), também não quis falar sobre o assunto.

Ataques armados eclodiram em 2017 na província de Cabo Delgado protagonizados por frequentadores de mesquitas consideradas radicalizadas por estrangeiros, segundo líderes islâmicos locais, que já tinham alertado antecipadamente para atritos crescentes.

Nunca houve uma reivindicação da autoria dos ataques, com exceção para comunicados do grupo jihadista Estado Islâmico, que desde junho tem vindo a chamar a si alguns deles, com alegadas fotos das ações, mas cuja presença no terreno especialistas e autoridades consideram pouco credível.

Os ataques já provocaram pelo menos 350 mortos entre agressores, residentes e militares moçambicanos, além de deixar cerca de 60.000 afetados ou obrigados a abandonar as suas terras e locais de residência, de acordo com a mais recente revisão do plano global de ajuda humanitária a Moçambique das Nações Unidas.

As forças de defesa e segurança moçambicanas têm estado no terreno, mas o Presidente da República, Filipe Nyusi, admitiu na última semana que são necessários mais apoios para lidar com o problema.