O fundador da associação cultural Ephemera, o historiador José Pacheco Pereira, enalteceu no sábado a “autonomia e independência financeira” da instituição, mas ressalvou que tal só é possível através das contribuições dos “cerca de 300 associados”.

O arquivo-biblioteca Ephemera inaugurou no sábado um novo polo, o Armazém 2, no Parque Empresarial da Baía do Tejo, no Barreiro, distrito de Setúbal.

“Afirmar um princípio básico que é nós preservarmos muito a nossa independência e autonomia, exatamente por isso temos grande liberdade para trabalhar com toda a gente”, afirmou o historiador numa intervenção.

Além do Presidente da República, estiveram também presentes na cerimónia, o antigo chefe de Estado Ramalho Eanes e a ministra da Cultura, Graça Fonseca.

Falando diretamente para a governante, o fundador da Ephemera salientou que o Governo tem na associação “um bom parceiro, um parceiro que deve ser ideal para todas as instituições do Estado”, uma vez que “não pede dinheiro”.

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“De um modo geral nós prezamos muito a nossa autonomia e, portanto, não queremos depender em nenhuma circunstância de outras instituições, a não ser eventualmente projetos concretos que possam ter princípio, meio e fim”, frisou.

Dirigindo-se a Ramalho Eanes, o também comentador político referiu que o criticou “muitas vezes na atividade política”, no entanto, “é uma das pessoas” pelas quais “tem maior respeito”.

Já sobre o atual Presidente da República, Pacheco Pereira advogou que “ele não veio aqui buscar votos” porque “não é este o terreno ideal” para isso, nem para “acalmar […] um dos poucos críticos públicos da sua atividade”.

“Ele veio aqui porque gosta daquilo que nós estamos a fazer, e isso para nós é o mais importante. Se há coisa que eu tenho a certeza é que ele se interessa tanto por esta atividade como qualquer uma das pessoas que aqui estão e, em particular, aqueles que trabalham como voluntários no Ephemera”, notou.

Comentando a condecoração do arquivo-biblioteca com as insígnias de membro honorário da Ordem do Mérito, o fundador daquela associação cultural considerou que “é merecido porque dezenas e dezenas de pessoas gastam o seu tempo, gastam algum do seu dinheiro, gastam o seu esforço físico para garantir que isto possa acontecer”.

“Não é por mim, insisto. Eu aliás disse, quando contactado sobre esta matéria, que não queria galardão nenhum, mas que a Ephemera merecia”, assinalou, convidando o Presidente da República para se constituir como associado.

“Senhor Presidente a gente vai trazer uma proposta, não precisa de preencher tudo porque aquilo é muito complicado, mas basta lá pôr o nome e o e-mail e nós depois mandamos-lhe a conta”, brincou.

Pacheco Pereira aproveitou a ocasião para lembrar os presentes que essa autonomia e independência vêm dos “cerca de 300 associados”, que pagam “uma quota mínima absolutamente baixa”, pelo que essa capacidade vem “do número de pessoas que se associem” e da sua disponibilidade financeira.

Notando que tem falado com os “companheiros de local, com serralheiros, soldadores, mecânicos de automóvel, pessoas que trabalham em hotelaria” e que “são bem-vindos ao Ephemera sempre”, José Pacheco Pereira destacou que “uma das honras” que teve foi “ter mostrado o arquivo a pessoas que normalmente nunca teriam entrado num espaço deste género”.

Em declarações aos jornalistas, Pacheco Pereira mostrou-se “contente” com esta expansão, por si e “pelas dezenas de pessoas que trabalham aqui”, porque “quando às vezes se fala de movimentos da sociedade civil, este é um exemplo”, porque é “completamente independente, completamente autónomo”.

Entre os presentes esteve um grupo de pessoas que, em silêncio, protestou contra o projeto do novo aeroporto no Montijo, exibindo uma faixa com a inscrição “Não ao aeroproto BA6-Montijo”.