O autoproclamado Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, recomendou esta segunda-feira a Nuno Nabian que o seu governo não se sirva dos bens públicos e que combata a corrupção e tráfico de droga.

Num discurso proferido na cerimónia de tomada de posse do governo liderado por Nuno Nabian, na Presidência da República, em Bissau, Umaro Sissoco Embaló deixou várias recomendações, nomeadamente tolerância zero à corrupção, ao narcotráfico, ao nepotismo e ao facilitismo.

“Porque este Estado pertence a todos os filhos da Guiné-Bissau e este governo não se vai servir dos bens públicos para enriquecer”, garantiu Umaro Sissoco Embaló, autoproclamado Presidente da Guiné-Bissau na quinta-feira, quando decorre um recurso de contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça.

Salientando que vai retomar o lema “dinheiro do Estado nos cofres do Estado“, utilizado pelo Presidente cessante, José Mário Vaz, Umaro Sissoco Embaló disse que quem “precisar de dinheiro ou quiser dinheiro deve assinar ficha no Real Madrid ou no Barcelona (referindo-se aos salários milionários ganhos pelos jogadores daqueles clubes de futebol espanhóis)”.

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O também antigo primeiro-ministro guineense afirmou que na terça-feira vai mandar abrir as escolas e apelou aos sindicatos dos professores para haver diálogo.

“Temos de arranjar dinheiro para pagar aos professores, que é a grande prioridade. A política deste governo é fazer homens com escola. Um homem que não tem escola é um homem dentro de um envelope“, referiu Umaro Sissoco Embaló, declarado vencedor das presidenciais pela Comissão Nacional de Eleições.

O general recomendou igualmente ao governo que seja dialogante, que renuncie à violência e que não faça ataques, “nem caça ao homem”.

A Guiné-Bissau tem de mostrar uma nova face da moeda, de que este governo é capaz de limpar a imagem do país”, declarou, garantindo ao procurador-geral da República e ao presidente do Tribunal de Contas, presentes na cerimónia, total apoio e colaboração.

“Ninguém está acima da lei e apesar da pressão nós temos o dever de construir a Guiné-Bissau e somos nós guineenses que temos de construir a terra e temos de renunciar à cultura do ódio, de rejeição“, continuou.

Umaro Sissoco Embaló deixou também uma palavra aos militares, cujas chefias estiveram igualmente presentes na cerimónia de tomada de posse, salientando que mostraram que são republicanos.

“Distanciaram-se da política e não fazem política e ficaram nos quartéis e mostraram que o grande problema da Guiné-Bissau é no setor político e vou dizer-lhes para continuarem assim, porque os militares fazem parte da sociedade. Tenho orgulho destes cinco últimos anos. Numa situação muito atormentada, os militares mantiveram-se sempre nos quartéis“, destacou.

A Guiné-Bissau vive um novo momento de tensão política, depois de o autoproclamado Presidente Umaro Sissoco Embaló ter demitido Aristides Gomes do cargo de primeiro-ministro e nomeado Nuno Nabian.

Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor da segunda volta das presidenciais da Guiné-Bissau pela Comissão Nacional de Eleições, tomou posse simbolicamente como Presidente guineense na quinta-feira, numa altura em que o Supremo Tribunal de Justiça ainda analisa um recurso de contencioso eleitoral interposto pela candidatura de Domingos Simões Pereira.

Após estas decisões, registaram-se movimentações militares, com militares a ocuparem várias instituições de Estado, incluindo a rádio e a televisão públicas, de onde os funcionários foram retirados e cujas emissões foram suspensas.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) voltou esta segunda-feira a ameaçar impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional estabelecida na Guiné-Bissau e acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos políticos.

Apesar de ter reconhecido Umaro Sissoco Embaló como vencedor das presidenciais, a CEDEAO condena todas as ações tomadas “contrárias aos valores e princípios democráticos” e que atentam contra a ordem constitucional estabelecida e “expõem os seus autores a sanções”.

A CEDEAO reitera a “necessidade absoluta” de se esperar pelo fim do processo eleitoral e que vai ajudar a que sejam tomadas iniciativas para que seja posto um fim ao impasse pós-eleitoral.

O presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, que tinha tomado posse na sexta-feira como Presidente interino, com base no artigo da Constituição que prevê que a segunda figura do Estado tome posse em caso de vacatura na chefia do Estado, renunciou no domingo ao cargo por razões de segurança, referindo que recebeu ameaças de morte.

Já Aristides Gomes denunciou que um grupo de militares invadiu a sua residência, retirando as viaturas da sua escolta pessoal e proferindo ameaças.

O primeiro-ministro demitido tem utilizado a rede social Facebook para denunciar várias ocupações por militares de instituições do Estado, incluindo que Nuno Nabiam ocupou esta segunda-feira o seu gabinete do Palácio do governo.

Umaro Sissoco Embaló já afirmou que não há nenhum golpe de Estado em curso no país e que não foi imposta nenhuma restrição aos direitos e liberdades dos cidadãos.