Quando Maximus – perdão – Russel Crowe aceitou o papel de protagonista, o roteiro de Gladiador continuava longe de estar terminado. Pela frente, este épico de Hollywood encontraria tensão nos bastidores e parecia estar destinado a ser só mais um filme. 20 anos depois, a história e o final do general que serviu o imperador romano Marco Aurélio continua como um dos grandes títulos do cinema popular ocidental.

O percurso do protagonista não tem paralelo na realidade – era apenas um produto da ficção. No entanto, como já muitas vezes tinha provado a arte, uma verdade pode ser aceite e merecer confiança se também for envolvente. Foi esse o caso de Gladiador, inserida num Império Romano que, como tantos outros na antiguidade, se assumia como dominante, poderosa. A película, sob direção de Ridley Scott, contava a história de um dos generais favoritos do imperador Marco Aurélio e que, com a morte deste, é forçado a tornar-se gladiador e a lutar pela vida na arena. Maximus seria a primeira personagem de Russel Crowe numa produção multimilionária: foram necessários pelo menos 100 milhões de dólares para contar esta história.

Contudo, até à consagração, o filme ficou marcado pela instabilidade. O forte caráter de Crowe não foi bem visto pelo resto do set, com reclamações que eram frequentes. Conta a publicação espanhola La Razon que o ator não gostava do roteiro, chegando a ser insultado por diferentes membros da equipa. Entre eles, estaria o produtor executivo do filme, Branko Lag, que o chamou de “idiota”. A instabilidade nas gravações ganharia ainda maior profundidade com a morte de Oliver Reed, que interpretava a personagem Antonius Proximus. Conhecido pelos seus excessos com o álcool, o ator britânico acabaria por morrer aos 61 anos num bar, durante o período de filmagens em Malta.

Toda a crispação registada seria depois coberta pela emoção no ecrã. O clímax, com a morte do personagem, tinha por trás um final que foi desconhecido pelo próprio ator durante grande período das gravações, já que o roteiro esteve sempre atrasado. A história foi sendo escrita à medida que as filmagens decorriam e, quer a morte do personagem, como também as motivações que o levaram a enfrentar o imperador não estavam previstas. O fim poderia ter sido outro.

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“Recordo-me que Ridley Scott se aproximou de mim e disse: Pela forma como está a ser construído, não o vejo a sobreviver. Esta personagem foca-se na vingança pela sua esposa e pelo seu filho e, uma vez que ele consegue, o que se faz?”, partilharia o protagonista em entrevista à Empire.

Sob direção de Ridley Scott, que já contava com outros sucessos na carteira, o filme colecionou um conjunto de momentos que levariam Maximus a ser considerado ícone do cinema, garantindo também presença na lista das 100 melhores personagens da História para a revista Time. Entre diálogos marcantes, está um momento que junta Russel Crowe e Joaquin Phoenix, na altura não como Joker, mas sim na pele do imperador Comudus. Quando este procura conhecer quem é a pessoa por detrás do capacete o silêncio que se segue é a porta de entrada para uma das cenas com maior impacto no filme.

“Chamo-me Maximus Decimus Meridiu, comandante dos exércitos do Norte, general das Legiões da Fénix, fiel servo do verdadeiro imperador Marco Aurélio. Pai de um filho assassinado, marido de uma esposa assassinada e juro que vou me vingar nesta vida ou na próxima”

As palavras de Maximus e a tensão que se gerou davam sinal de que o fim estaria próximo. E assim foi: Comudus seria desafiado para um duelo no Coliseu pelo protagonista e acabaria por repentinamente atingir Maximus, como se cada espectador também ficasse ferido. O imperador morreria degolado, mas, ao contrário do que previa o roteiro inicial, o gladiador teria o mesmo desfecho. Estas e outras cenas acabariam por render a Crowe o Óscar de melhor ator principal e à película o prémio de melhor filme do ano. No total, Gladiador venceu cinco das doze categorias para que estava nomeado e ainda a distinção de segunda maior bilheteira do mundo, atrás de Missão Impossível 2.