Os vestígios são de uma lontra — um animal que em adulto pesa até 35 quilos — e não de um crocodilo do Nilo de 250 quilos. O réptil foi avistado por quatro pessoas diferentes no Douro espanhol, entre Simancas e Tordesilhas, mas agora essas afirmações estão postas em causa. “Só acredito no que vejo no terreno”, afirmou um dos especialistas que está a ajudar as autoridades espanholas a procurar o animal. Apesar disso, em conferência de imprensa, Fernando Gómez, chefe do serviço de monitorização florestal da associação Chelonia, disse que as buscas continuam, não descartando a possibilidade de que possa haver um crocodilo naquelas águas.

Resumindo: não é um crocodilo, mas ainda pode ser um crocodilo. Confuso? É razão para isso.

Vamos por partes. Primeiro, os ninhos. Se o fossem de facto, o crocodilo teria de ser fêmea, teria de ter posto ovos e, em seguida, teria coberto o ninho com vegetação, ficando por perto para defendê-lo. “Se encontrar um ninho de crocodilo, o melhor é fugir, porque ele estará por perto”, disse Francisco Javier García, do Grupo de Monitorização de Biodiversidade da Universidade Complutense de Madrid, citado pelo El Pais.

Os ditos ninhos, defende, por seu turno, Fernando Gómez, não passam de marcas deixadas pela passagem de homens. García concorda — um crocodilo de 250 kg deixaria pegadas reconhecíveis, “como as de um dinossauro”, para além das marcas da barriga que arrasta pelo chão.

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Já os vestígios de fezes e de restos de peixes comidos correspondem aos deixados por uma lontra, segundo Fernando Gómez.

“É muito fácil confundir uma lontra com esse réptil”, acrescenta Francisco Javier García. “A lontra move-se pela água com um movimento ondulado, com os olhos e o nariz de fora. Se estivermos sugestionados para isso veremos um crocodilo como aconteceu no pântano de Valmayor em 2003.”

Também ali foram alegadamente avistados crocodilos, mas as autoridades acabaram por desistir das buscas sem nunca terem encontrado nenhum réptil.

Apesar disso, as buscas continuam na região da confluência entre os rios Pisuerga e Douro em busca do crocodilo do Nilo.

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As buscas pelo réptil começaram na sexta-feira passada e têm sido feitas pela polícia, biólogos e Guarda Civil. O animal foi avistado por quatro pessoas e os dois alegados ninhos foram encontrados na foz de Pisuerga, muito utilizada por banhistas e pescadores.

Os primeiros a avistar o crocodilo foram duas crianças de cerca de 13 anos, que avisaram as autoridades. No dia seguinte, já no local, um agente da polícia de Simancas confirmou a presença do animal, escreveu o El País: “Parecia uma pessoa a nadar de costas.”

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Além de ninhos, foram encontrados  restos de peixes cujas marcas de mordeduras pareciam coincidir com as provocadas por um crocodilo do Nilo — tese que foi agora descartada.

De acordo com fontes da investigação entrevistadas pelo El País, há várias teorias em cima da mesa: o réptil poderia ser de um morador da região que terá libertado o animal quando ficou demasiado grande ou ter conseguido fugir do local onde estava preso.

Os municípios da região — San Miguel del Pino, Tordesilhas e Villamarciel — pediram cautela aos moradores. Toda a área em que decorrem as buscas está circunscrita e foram colocadas armadilhas na água para apanhar o crocodilo.