Começou como suplente não utilizado, entrou nas segundas partes dos últimos três jogos do Barcelona. Pequenino, franzino, a tratar por tu a bola como poucos conseguem fazer. Riqui Puig, há muito considerado pelos adeptos que acompanham a evolução das camadas jovens dos catalães como uma das maiores promessas do clube a médio e longo prazo a par de Ansu Fati, estava na calha para ser pela primeira vez titular no conjunto principal blaugrana. Era uma questão de tempo. E esse tempo chegou este sábado, na sempre complicada deslocação a Vigo, onde o jovem médio de 20 anos foi chamado às opções de Quique Setién (a par do próprio Ansu Fati) num meio-campo sem a referência Sergio Busquets nem Arthur, com uma exibição muito criticada frente ao Athl. Bilbao.

“Tem muito talento, personalidade e nunca se esconde do jogo. É corajoso, capaz de jogar entre linhas em posições mais interiores do campo. É muito bom e tem um grande talento. É como digo sempre, depende muito do treinador e que o consideram capaz. Não vejo os treinos mas depende apenas dele próprio porque se ele se vir capaz para dar o passo em frente pode dar um rendimento brutal ao Barcelona, estou convencido disso”, comentou ao Mundo Deportivo o antigo capitão Xavi Hernández, também ele nascido em Terrassa como Riqui Puig – que começou a jogar no Jabac como Busquets e que tem sobretudo semelhanças no seu jogo a Andrés Iniesta. Essa foi sempre outra das marcas do jovem médio: talento à parte, representa também o ADN do clube.

Riqui é espetacular. O Barcelona tem jogadores que parecem miúdos mas a forma como eles jogam futebol deixa-me embasbacado. A forma como tratam a bola, é a beleza do futebol. É como poesia. Já oiço falar dele há um tempo. É o tipo de coisa que não é possível copiar e colar em qualquer outro clube, demora anos a conseguir. A forma como sentem e interpretam o jogo, é belo, uma filosofia”, comentou na pré-época de 2018 Gennaro Gattuso, então treinador do AC Milan que defrontou o Barça.

Vencedor da Youth League em 2017/18 e campeão sénior em Espanha na última temporada após ter feito dois jogos como titular na Liga nas derradeiras jornadas, aquele que se pensava ser o ano em que Riqui Puig passaria a ter um contributo mais efetivo no conjunto principal tornou-se dececionante perante a falta de oportunidades num meio-campo que muitas vezes teve problemas de quantidade e qualidade. As boas entradas em campo, sobretudo no último encontro, valeram-lhe a primeira titularidade na Liga em 2019/20. E o centro das atenções.

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Ao contrário do que aconteceu nos últimos jogos, o Barcelona entrou com mais qualidade em termos ofensivos. Ter Stegen ainda viu a baliza ameaçada por duas vezes na primeira parte em transições que conseguiram explorar a falta de um elemento mais posicional no meio-campo e por pouco Comesaña e Iago Aspas não marcaram para o Celta de Vigo mas qualquer jogada que passasse pelos pés de Riqui Puig e conseguisse fazer a exploração da mobilidade das unidades mais ofensivas significou quase sempre lances de perigo que colocavam o 1-0 ao intervalo como uma expressão reduzida de um encontro com 45 minutos de encher o olho.

Logo aos seis minutos, na sequência de um canto, Piqué levou a bola à trave num desvio de cabeça na pequena área onde surgiu isolado, antes de mais uma bola parada que só não teve o toque final para a baliza antes do remate ao lado de Riqui Puig na segunda bola. Antes e depois, a colocação de Ansu Fati na frente com Luis Suárez permitia a Lionel Messi sair para receber em zonas mais recuadas e armar jogo de frente, naquela que foi uma constante no encontro e que possibilitou também que o Barcelona melhorasse a sua exibição. Foi do génio do argentino que nasceu o primeiro golo, também no seguimento de um livre, contornando uma nova forma de colocar barreiras nos livres com um passe picado em forma de alley oop para Suárez, de cabeça, inaugurar o marcador (20′).

No entanto, uma má entrada na segunda parte colocou tudo em causa: já depois de um lance de perigo na área dos catalães perante a passividade da defesa de Quique Setién, o Celta conseguiu chegar ao empate numa jogada onde Iago Aspas explorou a profundidade com a entrada de Yokuslu de trás e Smolov só teve de encostar a assistência do turco para o 1-1 apenas cinco minutos após o intervalo. O encontro voltava a estar em aberto, o Barcelona teve então um período até reencontrar-se mas Luis Suárez, que não marcava há seis meses, bisou na partida depois de mais uma assistência de Messi numa pressão alta à entrada da área dos galegos com Nelson Semedo também envolvido que permitiu roubar a bola e criar a oportunidade para o golo que recolocava a equipa na frente (67′), numa altura em que se começava a sentir a quebra física na equipa blaugrana.

Ansu Fati já tinha sido substituído por Braithwaite, Riqui Puig dava sinais de quebra deixando de ser participativo no encontro como até aí, Vidal e Rakitic perderam a versão procura do espaço e começaram a andar ao ritmo da bola no pé. Tudo isto com o Celta a nunca dar sinais de desistir da partida como se percebeu numa grande joga de Nolito a dez minutos do final que terminou com uma grande defesa de Ter Stegen. No entanto, o empate surgiria mesmo e pelo suspeito do costume, Iago Aspas, num livre direto de pé esquerdo que contornou uma barreira que saltou de forma atabalhoada e permitiu uma pequena nesga para o 2-2 final a dois minutos dos 90′, sendo que o guarda-redes alemão, nos descontos, ainda evitou em cima da linha males maiores. Mais uma vez, o Barcelona falhou onde e quando não podia falhar. O futuro de Quique Setién parece cada vez mais num fim de linha no comando da equipa. E a única boa notícia acabou por ser a personalidade com que Riqui Puig pediu mais chances.