O negócio da TAP que foi concluído esta semana foi um dos principais temas na intervenção semanal do comentador político Luís Marques Mendes. O antigo líder do PSD considera a opção viabilizada como sendo a “menos má”, projeta um futuro difícil em que cortes e despedimentos podem vir a transformar a transportadora num “grande crematório político” que “pode queimar ministros a torto e a direito.” Marques Mendes defende ainda que se faça uma “auditoria financeira independente à TAP”.

“Em relação à TAP não havia nenhuma boa decisão”, começa logo por apontar. Marques Mendes defende que o pior cenário “seria não existir nenhum acordo nem nacionalização” e a empresa fosse à falência. A nacionalização seria má porque traria “danos reputacionais, problemas judiciais e os trabalhadores perdiam tudo dos 5% da empresa que detêm”, dai que o acordo acertado com David Neeleman seja o melhor cenário, mesmo sendo “um acordo caro” — “O senhor Neeleman quando entrou na TAP em 2015 pagou 5 milhões de euros e agora recebe 55 milhões. Pode agradecer à reversão feita em 2016 e às regras estabelecidas nessa altura”, atirou Marques Mendes.

É o futuro da companhia de bandeira que mais preocupa o ex-dirigente do PSD que teme “que o pior ainda esteja para vir”. Mais concretamente duvida que a “pipa de massa” que o Estado vai investir, os 1,2 mil milhões de euros, seja suficiente — “Vamos ter mais injeções no futuro” –; e questiona também se haverá “coragem” para a inevitável reestruturação de que a companhia será alvo. “Vai ser preciso reestruturar a TAP, até é imposto por Bruxelas. Isso significa que será preciso cortar rotas, despedir pessoas e reduzir aviões. Eu pergunto: Vai haver coragem para fazer isso? É um processo doloroso… Nestes momentos de crise e dificuldade quem paga a fatura é o mexilhão e aqui o mexilhão são os trabalhadores da TAP e os contribuintes que metem dinheiro”, afirmou.

Sobre a “auditoria financeira independente à TAP” que diz ser importante de fazer, Marques Mendes defende que é preciso escrutinar melhor “o processo de privatização, a reversão de 2016 e a gestão deste últimos anos”, já que se os portugueses “vão meter muito dinheiro na TAP”, ao menos “que saibam o que se passa lá dentro”. “É preciso explicar como é que os os orçamentos dos dois últimos anos previam lucro e acabaram por dar prejuízo. Como é que a TAP faz um empréstimo obrigacionista a pagar juros de 7,5%… Não havia soluções de financiamento mais baratas?”, conclui.

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O corredor aéreo do Reino Unido: “A culpa é do Governo”

Luís Marques Mendes teceu ainda comentários sobre a decisão do governo britânico conhecida esta semana de não abrir fronteiras com Portugal. “Vamos ser francos e diretos: a culpa da decisão do Reino Unido é de Portugal e do Governo português”, atira logo de início. O comentador defende que foi Portugal “que se colocou a jeito” da decisão porque já sabia “que com um número de novos casos tão elevado dávamos aso a decisões como esta.” Admite ainda que podia-se ter feito melhor “o trabalho de casa para evitar essa situação” — “Quem não quer ser penalizado não se coloca a jeito.”

A justificação para esta opinião prende-se com o facto de apesar de o Governo “ter estado muito bem na primeira fase do confinamento”, nesta atual não. “Tem relaxado, facilitado, adiado decisões e feito conta de que  não há problemas”, afirma. “Em vez de se andarem a queixar do Reino Unido têm de se deixar de lamentações e resolver o problema.”

“Fernando Medina tem toda a razão”

Nos últimos tempos tornou-se também polémica a posição publica e altamente crítica de Fernando Medina, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, face à atuação das autoridades em relação ao controlo do novo surto na zona de Lisboa e Vale do Tejo. “Acho que Medina tem toda a razão”, afirmou Marques Mendes. Mais importante que o devia ou não ter criticado o governo da sua cor política, é o conteúdo das ditas críticas, “nada que seja mentira”, contou o comentador. “Há um problema de liderança e de falta de meios. Acho que Medina teve coragem de dizer em público aquilo que muita gente diz em privado”, afirmou

“Acho que também fez isto para dar um safanão, colocar alguma pressão nas autoridades de saúde e no governo”, defendeu também. Marques Mendes diz que Fernando Medina “prestou um bom serviço” já que “é um autarca e o seu primeiro compromisso é para com a sua população” mas, mesmo assim, “se tivesse feito isto mais cedo, melhor”. Terminou defendendo que é preciso existirem “vozes independentes e autónomas” como a que Medina mostrou por serem elas as mais capazes “de dizer as coisas, mesmo que sejam incómodas.”

PSD e o “passeio” para o Governo

Finalmente merecem destaque também os reparos lançados à negociação do orçamento suplementar, principalmente a posição do PSD nesse processo. Marques Mendes diz que “já se esperava que o PSD se abstivesse” e “fez bem” ao fazê-lo. Contudo foi na especialidade que existiram coisas inesperadas como “mudanças do sentido de voto ou alguns acordos.”

Uma das ideias que mais se comentou no seguimento da aprovação do orçamento viabilizado pelos sociais-democratas foi a da aparente criação de um bloco central. Sobre isso Marques Mendes diz que apesar de o mesmo ter “existido esta semana”, não deve “haver ilusões de que no futuro haverá um governo de bloco central.” Entretanto, no meio destes altos e baixo, a atuação do PSD tem feito com que os últimos tempos tenham sido “um passeio para o Governo”.

Houve ainda tempo para descodificar o comentário “curioso” de António Costa que disse “uma coisa do género: ‘Apesar do PS estar em alta nas sondagens nós não queremos uma crise política, eleições antecipadas'”. Marques Mendes diz que na verdade, Costa quis com isto dizer “algo como ‘Atenção: se chumbarem um futuro orçamento e houver uma crise política por causa disso, a culpa não é nossa mas vossa.'”