O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, posicionou-se esta quarta-feira em defesa do multilateralismo nas relações internacionais, na sua intervenção no debate geral da 75.ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

A cooperação multilateral continua a ser a melhor abordagem para fazer face aos desafios e minorar o sofrimento das pessoas que são o principal motivo da criação das Nações Unidas”, destacou Nyusi.

O Presidente de Moçambique interveio através de um discurso previamente gravado, tal como os dos restantes chefes de Estado.

O líder moçambicano considerou o multilateralismo no âmbito da ONU especialmente importante tendo em conta que “a economia do mundo, sobretudo a dos países em desenvolvimento, foi severamente dilacerada pelos efeitos da pandemia de Covid-19, sendo que a sua restauração exige intervenções globais, integradas e concertadas”.

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O nacionalismo e o isolacionismo em face de uma pandemia são uma receita para o fracasso na resposta a esta e outras doenças contagiosas de natureza imprevisível”, acrescentou.

Ainda no que respeita à ONU, Nyusi manifestou-se preocupado com “a falta de progressos nas negociações intergovernamentais para que a reforma do Conselho de Segurança tenha resultados consentâneos com o século XXI”.

“A reforma tem o mérito de colocar a paz, segurança e estabilidade internacionais como catalisadores da agenda global de desenvolvimento, bem como tornar a ONU mais representativa, eficiente e transparente, em função da situação geopolítica contemporânea, o que pode conferir maior eficácia e legitimidade às decisões deste órgão”, sublinhou.

Na sequência, Nyusi apelou à comunidade internacional para usar “o momento histórico dos 75 anos da organização para conjugar esforços para uma solução sustentável das questões pendentes relativas à segurança”.

O discurso serviu para o Presidente moçambicano reafirmar compromissos e índices de desenvolvimento de Moçambique, nomeadamente no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU.

Nyusi focou ainda o sobressalto que representa a violência armada que há três anos afeta Cabo Delgado, província do norte do país.

O chefe de Estado reafirmou que, além de ter forças de segurança e outras ações no terreno e de mobilizar apoio humanitário, foi criada a Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN) – apresentada em agosto —, com o objetivo de “promover ações de caráter multissetorial, com vista ao desenvolvimento socioeconómico integrado das províncias de Niassa, Cabo Delgado e Nampula” para responder ao problema.

Cientes de que as ações terroristas de que o país é vítima têm ligações com grupos internacionais que também se envolvem no crime organizado transnacional, temos procurado abordar este fenómeno em cooperação com outros países e organizações regionais e internacionais”, acrescentou.

O governo moçambicano pediu no dia 16 o apoio da União Europeia (UE) na logística e no treino especializado das suas forças para travar as incursões armadas de grupos classificados como terroristas em Cabo Delgado.

O pedido consta de um ofício a que a Lusa teve acesso e que foi enviado ao Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, pela chefe da diplomacia moçambicana, Verónica Macamo.

Cabo Delgado é a província dos megaprojetos de exploração de gás natural e enfrenta uma crise humanitária com mais de mil mortos e 300.000 deslocados internos — resultado de três anos de conflito armado entre as forças moçambicanas e rebeldes, cujos ataques já foram reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico, mas cuja origem continua por esclarecer.