A primeira “Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental”, apresentada na terla-feira, classifica como ameaçadas de extinção 60% das espécies analisadas.

A lista foi apresentada numa conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e é uma iniciativa da Sociedade Portuguesa de Botânica, da Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação — PHYTOS, e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Ana Francisco, coordenadora executiva do projeto da “Lista Vermelha” (a flora vascular é a que transporta seiva, compreendendo quase todas as plantas, sendo os musgos uma das exceções), traçou à Lusa um quadro preocupante da situação, e explicou que das 110 plantas analisadas que só existem em Portugal continental (e em mais parte nenhuma do mundo) 53 estão ameaçadas.

Foram analisadas 630 plantas nativas, das quais 381 estão em ameaçadas de extinção: 84 criticamente em perigo, 128 em perigo e 169 em situação vulnerável. Ana Francisco disse que para a investigação já havia uma ideia de que algumas plantas poderiam estar ameaçadas, mas que não se tinham certezas porque nunca tinha sido feita uma “Lista Vermelha”, aplicando os critérios científicos da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). A bióloga explicou que o caso mais preocupante é uma planta endémica do Baixo Alentejo, associada a solos que foram modificados em consequência da Barragem de Alqueva e as zonas de regadios que surgiram. Há mais espécies ameaçadas pela agricultura intensiva, disse. E explicou que no livro hoje apresentado apenas foi avaliado um quinto das espécies existentes em Portugal continental, pelo que este é um trabalho que tem de ter continuidade, até porque devem ser avaliadas outras espécies que podem estar ameaçadas.

André Carapeto, também da Sociedade Portuguesa de Botânica, disse à Lusa que as espécies invasoras (não naturais de Portugal) são uma ameaça crescente à flora nacional, e acrescentou que da lista de espécies classificadas como em perigo de extinção na maior parte dos casos o principal motivo é a “ação humana”, especialmente devido à “intensificação agrícola” e ao desenvolvimento urbano.

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De acordo com os especialistas, 17% das espécies ameaçadas são legalmente protegidas. Estas ameaças “estão a acontecer até em áreas protegidas”, salientou.

Ana Francisco disse que além do livro na terça-feira apresentado, de 374 páginas, toda a informação vai ser disponibilizada ‘online’, bem como o próprio livro. Na obra dá-se também conta, disse, de 19 espécies extintas em Portugal (duas delas extintas mundialmente), e de oito espécies novas encontradas na flora do continente.

O livro apresentado esta terça-feira, além de identificar espécies em risco de extinção, dá informação de referência sobre as espécies, contribui para o cumprimento de compromissos de conservação da natureza e para estratégias e políticas de conservação, e ajuda na investigação científica, disse na cerimónia na Fundação Gulbenkian a técnica do ICNF Andreia Farrobo. De acordo com o documento os olivais tradicionais de sequeiro em solos básicos “em acentuada regressão”, são “o habitat exclusivo de cerca de 30 espécies ameaçadas de extinção”. Os prados e pastagens são onde estão 38% das espécies ameaçadas, os matos 27%, os bosques 25%, as zonas húmidas 21%, as dunas e arribas litorais também 21% e as zonas rochosas 12%.