De um lado, uma empresária da comunicação social, fundadora da Thrive Global. Do outro, uma estrela de Hollywood, também ela à frente de um empreendimento próprio, dedicado à comercialização de produtos éticos e sustentáveis. Em qualquer outra edição da Web Summit, Arianna Huffington e Jessica Alba ter-se-iam reunido no mesmo palco, mas em 2020, uma pandemia global ditou que a conversa agendada para as 14h30 desta quinta-feira acontecesse à distância.

“Não há ninguém que goste mais de viajar do que eu. Mas acho que há muitas coisas que podemos fazer virtualmente. É uma ferramenta incrível que temos na mão, neste momento”, começa por introduzir a atriz e empresária de 39 anos. Tiveram meia hora para refletir sobre ritmos e dinâmicas de trabalho, na relação entre empregados e empregadores e no bem-estar e equilíbrio físico e mental do ser humano. Todos estes pontos, é claro, na perspetiva de que já existe um pré e um pós pandemia.

Imagem da sessão desta tarde, na Web Summit

“À noite, tenho sempre aquele momento em que corto com as notícias […] Tomo um banho quente e, quanto mais stressada estou, mais longo ele é. Isso ajuda-me a desacelerar o cérebro, não apenas o corpo”, admitiu Arianna, empresária de 70 anos, co-fundadora do jornal online Huffington Post, durante a entrevista conduzida pela diretora da revista Glamour, Samantha Berry. Telemóveis desligados, jejum de notícias, mudanças na alimentação, novos rituais de relaxamento e a moderação de uma autoexigência constante — constatações triviais que aproximaram a nova realidade das duas protagonistas da de milhares de pessoas em todo o mundo.

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A primeira conclusão da conversa chegou na voz de Arianna Huffington. “Nós tínhamos um problema. Lembro-me de encontrar a Jessica em Xangai, na primeira Conferência Global de Mulheres e Empreendedorismo da Alibaba, e de estarmos ambas cansadas, a passar por reuniões intermináveis. Diria que podemos usar esta crise como um catalisador, não para voltar ao que tínhamos antes, mas para construir um futuro mais sustentável […] É preciso que cada um de nós tenha noção do tempo que precisa de tirar para si. Se o fizermos, vamos ser mais criativos e voltar com melhores soluções e decisões”, referiu.

A ideia de rutura foi assinalada e sublinhada ao longo da conversa. “O que muitos percebemos é que podemos ser mais eficientes e produtivos de formas muito diferentes […] E sem dúvida que vamos precisar de menos pessoas e de menos espaço para fazer as coisas”, adicionou Alba.

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A reflexão chegou ao papel que as mulheres desempenham num mundo reorganizado e com novas prioridades e preocupações. Sobre o tema, Arianna foi a mais taxativa na partilha das conclusões. “Há mudanças a acontecer e estão a ser lideradas por mulheres. O mundo que estamos a deixar para trás foi construído por homens e, sinceramente, não estava a funcionar”, admitiu.

Deixa que Jessica Alba aproveitou para focar a importância da representatividade das mulheres, e de outras minorias, no meio empresarial. Falou de um meio dominado por homens e da urgência de mecanismos que apoiem as mulheres e a diversidade. “Quando miúdas pequenas veem Kamala Harris, percebem que pessoas como elas podem chegar a um dos mais altos cargos do Governo. Quando veem alguém como eu, pensam: ‘Um dia vou poder começar uma negócio que pode representar algo e ter um propósito'”, exemplificou a atriz.

Também enquanto empregadoras, Arianna e Jessica partilharam conclusões. A comunicação parece ser o denominador comum. “Criámos uma plataforma para que os nossos funcionários pudessem falar sobre como se sentem. Quando entro nesse espaço, também tento partilhar como me sinto, de forma aberta e assumindo alguma vulnerabilidade”, referiu Alba.

Huffington, que em 2016 criou uma empresa focada em ajudar pessoas que lidam com stress e burnout, a Thrive Global, foi novamente a voz mais drástica. “Neste momento, não há nenhum CEO que não reconheça que o bem-estar e a resiliência mental dos seus funcionários são fundamentais. Não há como ter um negócio produtivo sem eles”, admitiu. Sobre o tópico da saúde mental, a empresária afirmou que há um processo de desestigmatização em marcha. Falou numa conversa que já não é tabu e, “sem querer minimizar o sofrimento” que a pandemia está a causar em todo o mundo, numa consequência positiva da atual crise.

A sessão foi uma das que preencheu a agenda do palco (virtual) principal, neste segundo dia de Web Summit. O evento termina esta sexta-feira.