À semelhança do que aconteceu em 2020, o laboratório de startups português Bright Pixel (do grupo Sonae) pediu a vários intervenientes do ecossistema de empreendedorismo que se pronunciassem sobre quais as tendências mais relevantes na área para o próximo ano. Digitalização e mudança são palavras de ordem num 2021 que se espera positivo. No final de 2019, as apostas para o ano seguinte (antes de se suspeitar de que 2020 seria marcado pela pandemia de Covid-19) eram: alterações climáticas, 5G, cibersegurança, o futuro do trabalho e a relação entre tecnologia e humanos.

“Todos concordamos que houve uma aceleração da digitalização e que o normal não voltará a ser como antes, contudo, é muito interessante perceber como diferentes pessoas relacionadas com o mundo da tecnologia e da nova economia perspetivam de forma tão própria o próximo ano,” afirma Alexandre Teixeira Santos, responsável pela área de investimento da Bright Pixel.

As 5 grandes tendências tecnológicas para 2020, segundo os especialistas ouvidos pela Bright Pixel

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Teixeira Santos dá assim o mote para que 21 empreendedores e profissionais das áreas do retalho, novas tecnologias, investidores de capital de risco e impulsionadores do setor em Portugal respondam sobre quais as principais tendências tecnológicas para 2021. Nos destaques há cinco tendências principais a ter em conta.

O ano em que se sacrifica o consumismo pela sustentabilidade

Miguel Fontes, diretor executivo da Startup Lisboa, diz que “o sacrifício do consumismo e da conveniência pela sustentabilidade vai ser cada vez mais evidente, uma ideia corroborada por João Günther Amaral, da Sonae, que defende que “2021 terá de ser marcado por uma forte aceleração da execução das ações necessárias para atingir as metas do acordo de Paris.”

Na mesma linha, Pedro Almeida, do centro de investigação Fraunhofer, acrescenta como o indivíduo pode adotar comportamento sustentáveis: “Se ainda não comprou o seu carro híbrido ou elétrico, está prestes a fazê-lo e irá aperceber-se de que as pessoas da sua cidade se estão a agrupar em Comunidades de Energia Renovável, para poderem comprar eletricidade a preços mais baixos, ou poderem obter rendimentos interessantes de investimentos em painéis solares”.

O formato vídeo ganha força, o turismo e o lazer são escapes essenciais

Para Francisco Pacheco, cofundador da startup de inteligência artificial Replai, existe a expectativa de que “2021 será novamente o ano do vídeo, com uma nuance: o vídeo de curta duração irá ultrapassar o YouTube como principal plataforma de entretenimento”, uma ideia que Jorge Pimenta, do Instituto Pedro Nunes, incubadora de empresas de Coimbra, parece seguir. “A necessidade de evasão no turismo e lazer, mesmo que digitalizada, irá potenciar conteúdos digitais como os eSports e o vídeo”, justifica.

Rui Costa, presidente executivo da startup de entrega de refeições ao domicílio EatTasty, aprofunda a visão de Jorge Pimenta e aponta a outro fator igualmente importante, o da saúde mental. O empreendedor mostra-se confiante de que “cada vez mais consumidores deverão procurar produtos que os ajudem a manter a concentração e a combater a ansiedade. Em resposta a esta procura, surgirão mais empresas a apresentar produtos com L-Theanine, cafeína e cannabinoids”.

A personalização continuará a marcar a experiência do consumidor e, para Veronica Orvalho, líder da startup de avatares Didimo, as empresas devem criar “soluções digitais que resolvam melhor os problemas do mundo real e de forma mais pessoal”. Já Gaspar D’Orey, presidente executivo do centro comercial online Dott, acrescenta que as “marcas e retalhistas perceberam o verdadeiro potencial da venda online e irão adotar cada vez mais uma estratégia omnicanal, com o cliente no centro de suas decisões, e disponibilizar os seus produtos nos seus canais online, mas também em marketplaces nacionais e internacionais”.

Os avatares que podem ser criados através da Didimo

O trabalho remoto e híbrido e a importância da Cibersegurança

Na temática do trabalho, com a alteração do paradigma por meio da pandemia de Covid-19, também as expectativas parecem ter sido alteradas.  Os modelos remoto e híbrido têm gerado várias preocupações relacionadas com a cultura empresarial e João Aroso, presidente executivo da Advert.io (plataforma inteligente de compra de publicidade para pequenos anunciantes), questiona-se: “Se algumas das melhores ideias, geralmente, nascem de interações espontâneas entre pares e frequentemente surgem de forma inesperada, como irão as empresas recriar estas interações em modo remoto?”.

Mário Alves, líder da startup Taikai, que usa uma plataforma de blockchain para responder a desafios, acredita que as alterações podem ser positivas e que o talento neste novo contexto “já não é definido por restrições geográficas, mas pelas capacidades e motivação. As equipas já não precisam de estar na mesma sala para obter o melhor desempenho. E embora a pandemia não tenha vindo para ficar, esse movimento sim”.

É certo que o ambiente de trabalho remoto parece ter ganho espaço e, com ele, as soluções que dão resposta às necessidades das empresas e colaboradores. Alexandre Santos enumera algumas: “as soluções em ambientes multi-cloud capazes de gerir com flexibilidade todos os processos de trabalho estão em alta; as ferramentas colaborativas também serão ainda mais relevantes, e o mesmo acontecerá com os produtos e serviços de cibersegurança que precisaremos para nos protegermos enquanto indivíduos e empresas de vulnerabilidades e riscos crescentes”.

Dados e automação como um dos temas do ano

A quarta tendência para 2021 vem confirmar uma ideia cada vez mais acentuada, a de que o próximo ano terá na automação e nos dados uma fatia importante. Esta é a posição de Hugo Martins, da Sonae Fashion (área de negócio de moda da Sonae), que afirma que “em poucos meses, muitas pequenas/médias empresas conseguiram recolher o equivalente a anos de crescimento online e dados de clientes e vendas”.

Também Benjamin Júnior, gestor de investimentos da Sonae IM (do mesmo grupo), acredita que 2021 será sobre como a tecnologia poderá ser utilizada para recolher dados dos consumidores com o objetivo de os influenciar, ou proporcionar melhores experiências em diferentes contextos. “Isto levará a grandes preocupações sobre como as pessoas gerem a sua privacidade e, provavelmente, ao aparecimento de tecnologias de melhoria de privacidade (PETs), que representam uma nova categoria emergente de tecnologias”.

Celso Martinho, diretor de engenharia da Cloudflare (e até agosto de 2020 presidente executivo da Bright Pixel), também antevê uma mudança na segurança dos dados e na afirmação do próprio utilizador: “Acredito que estamos perto do início de uma nova Internet: ultrassegura e que preserva a privacidade logo à partida”, e Vasco Portugal, presidente executivo da startup Sensei (que quer acabar com as caixas de supermercado), atribui uma importância decisiva à automação.

“Muitas das tarefas manuais e repetitivas já foram gradualmente substituídas pela automação simples e isso irá acelerar drasticamente a passagem para a automação funcional com vários processos automatizados ao nível de todo o ecossistema de negócios”, explica Vasco Portugal.

2021: o otimismo e o terreno fértil para as startups

Por último, os especialistas acreditam que 2021 será um ano positivo para as startups na medida em que “a significativa capacidade de investimento local irá continuar a gerar parcerias com mais investidores internacionais para apoiar as nossas startups, em vários estágios de desenvolvimento, e poderemos começar a ver empresas de sucesso a fechar o ciclo”, refere Pedro Ribeiro Santos, partner da sociedade de capital de risco portuguesa Armilar Venture Partners.

A ideia de um futuro positivo é também partilhada por Eduardo Piedade, presidente executivo da Sonae IM, que fala de “uma nova era”, marcada por “novas forças” que emergirão do encontro entre “novas tendências e reajustes esperados do regresso à normalidade”.

Já Francisco Ferreira Pinto, partner da capital de risco Bynd Venture Capital, acredita que as startups serão importantes na recuperação económica e António Miguel, partner da MAZE (empresa de investimento de impacto criada pela Fundação Calouste Gulbenkian) espera que, para isso, “os governos condicionados financeiramente na fase de recuperação mobilizem mais financiamento para resultados (ao invés de serviços), abrindo mais oportunidades para colaborações com o setor privado na resolução de desafios crescente.”

Nos restantes destaques, prevalece a importância de que 2021 poderá ter nos avanços tecnológicos e no acesso à tecnologia, na preocupação com as questões ambientais a médio prazo, na reinvenção do comércio, no aparecimento de boas ideias pós-pandemia, na sustentabilidade como meta obrigatória, no crescimento exponencial da Inteligência Artificial ou no fim anunciado da publicidade e da monetização de dados.