Quatro centímetros. Esta é a distância que todos os anos o continente americano fica mais longe da Europa e da África. Ou que o Atlântico fica mais largo, se quisermos ver por outra perspetiva. E a culpa é de um raro fenómeno geológico: um aumento de matéria nas profundidades da crosta terrestre bem no meio deste oceano.

As conclusões são de uma investigação científica cujos resultados foram publicados esta quinta-feira na revista Nature. Trocado por miúdos, ou seja simplificando o tema para leigos, estes continentes estão assentes em placas tectónicas que se movem muito lentamente. O que este estudo mostra é que a placa dos continentes americanos (Norte e Sul) e as placas da Europa e África se estão a afastar muito mais depressa do que era suposto.

Entre estes continentes, bem no fundo do mar, está a dorsal mesoatlântica, que faz parte do sistema global de dorsais oceânicas, grandes cadeias de montanhas submersas que resultam exatamente do lento afastamento das placas tectónicas. Esta longa cordilheira (nalguns pontos emerge à superfície em pequenas ilhas), é o limite divergente das placas que se movem em sentidos opostos. O magma do interior da Terra ascende pelo espaço que se forma: debaixo desta crosta, a matéria sobe para preencher esse espaço vazio que é criado à medida que as placas se afastam.

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Até agora, a comunidade científica acreditava que esse processo era impulsionado pelas forças da gravidade. Isso fazia com que as partes mais densas das placas voltassem para o fundo Terra. No entanto, a força motriz por trás da separação das placas do Atlântico permanecia um mistério, porque este oceano não tem placas densas, e elas não se afundam, iam ficando no fundo do mar, formando novas placas.

Agora, o que esta equipa de sismólogos sob comando da Universidade de Southampton encontrou foram evidências de um afloramento do manto da terra, o material entre a crosta terrestre e o seu núcleo, que pode estar a empurrar estas placas de baixo e a fazer com que os continentes se desloquem muito mais depressa.

O mais estranho é que quando estes afloramentos acontecem — e eles já aconteciam — dão-se a pequenas profundidades, máximos de 60 km. Este está a gerar-se a mais 600 km, nas profundidades do Atlântico.

Podemos agora perguntar, e o que é que isto interessa? De facto, já se sabia que a América se estava a afastar da Europa e de África há milhares de milhares de anos. Que até já estiveram unidas. Mas estes resultados trazem novos conhecimentos sobre como o interior da Terra, o fluxo do magma (sempre em movimento, em correntes de convecção) está afinal ligado às placas tectónicas. E estas observações nunca tinham sido vistas.

Mais, e mais importante. Esta descoberta sobre a movimentação das placas permite que se compreenda cada vez melhor os desastres que elas provocam. E não são poucos: desde sismos a tsunamis, acabando, claro, em erupções vulcânicas. Um dia, talvez, sejamos capazes de os prever.