O Ministério Público já abriu inquérito para investigar a inspetora da Polícia Judiciária (PJ) Aida Freitas que admitiu em tribunal ter assinado um documento relacionado com a investigação ao Football Leaks sem ler, confirmou ao Observador fonte da Procuradoria-Geral da República.

O inquérito foi aberto na sequência de uma certidão extraída pelos juízes, na sessão de dia 19 de janeiro do julgamento de Rui Pinto. Nesse dia, Aida Freitas foi ouvida como testemunha já que tinha sido uma das duas únicas pessoas a estar presentes, secretamente, no encontro numa estação de serviço na A5 entre os representantes da Doyen e Aníbal Pinto, então advogado de Rui Pinto. Esse encontro teria sido marcado para negociar quanto estaria a Doyen a pagar em troca da não divulgação de documentos que o alegado hacker teria em sua posse.

Football Leaks. Inspetora da PJ confessa que assinou relatório sem ler. “Se está na Unidade de Combate à Corrupção, melhor devia ler”

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O relatório elaborado pela PJ e assinado pela inspetora Aida Freitas, além do inspetor Hugo Freitas era uma das provas mais importantes e mais sólidas para acusar Aníbal Pinto e Rui Pinto do crime de tentativa de extorsão.

Só que Aida Freitas admitiu que não ouviu “nada” do que aconteceu no encontro e que assinou o relatório elaborado sobre o mesmo sem o ler. Não ouvi nada do que eles falaram [no encontro]. Assinei o RDE (Relato de Diligência Externa), mas eu não li o que assinei. Tenho que ser muito honesta, muito sincera. Não estava a distância suficiente [para ouvir]”, confessou. As declarações de Aida Freitas levaram a Procuradora da República a requerer que fosse investigada por suspeitas de crime de falsidade de documento e falsas declarações. O tribunal acabou por decidir extrair uma certidão para que fosse aberto um processo isolado.

O inquérito já foi assim aberto e o caso está a ser investigado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa — ao contrário da investigação às alegadas ligações de inspetor da PJ à Doyen. Tal como o Observador avançou na passada terça-feira, a reabertura do inquérito à alegada colaboração do inspetor-chefe da PJ Rogério Bravo com a Doyen ainda está a ser avaliada. Três meses depois de os juízes que estão a julgar o hacker terem extraído uma certidão para investigar novas suspeitas, DIAP de Lisboa ainda não decidiu se reabre ou não o inquérito.

Football Leaks. DIAP ainda não reabriu investigação às alegadas ligações de inspetor da PJ à Doyen

Estas supostas ligações do inspetor-chefe da PJ à Doyen já tinham sido investigadas num inquérito que teve origem numa queixa apresentada pela ex-eurodeputada Ana Gomes, mas que acabou arquivado. No entanto, no passado dia 10 de dezembro, na sequência de algumas revelações feitas ao longo do julgamento de Rui Pinto, o tribunal decidiu extrair certidão para que este inquérito fosse reaberto e assim serem investigadas as novas suspeitas — o que, até agora, não aconteceu. Em causa estão crimes de falsidade de depoimento, corrupção, abuso de poder e denegação de justiça.