João Gonçalves Pereira, deputado, vereador e líder da distrital do CDS/Lisboa, vai deixar o Parlamento. A saída do assumido crítico de Francisco Rodrigues dos Santos deixa agora um desafio ao líder do partido, que terá de gerir a sucessão com pinças: é que os candidatos ao lugar são ou foram igualmente críticos do antigo presidente da Juventude Popular.

“Saio do Parlamento, não abandono o CDS”, começa por dizer Gonçalves Pereira, numa nota enviada ao Observador, antes de elencar “três bases fundamentais” que sustentaram esta decisão. A primeira, a “base política”:

Num ano em que o CDS está, mais do que nunca, em risco de vida, pretendo dedicar-me de corpo e alma ao combate local. Sou autarca há mais de vinte anos e é ao meu mandato como vereador e às minhas responsabilidades como líder distrital que vou dedicar o meu tempo. Estamos em ano de autárquicas e entendi que não poderia ser de outra maneira. Aqui em Lisboa partimos da enorme responsabilidade de um resultado de 21% e é preciso trabalhar muito para lhe fazer justiça este ano.”

Ora, a decisão do CDS de abdicar do cabeça de lista nas eleições autárquicas em Lisboa tem merecido muitas críticas de uma parte importante do partido, que acusa Francisco Rodrigues dos Santos de ter desbaratado o capital político conseguido nas últimas autárquicas.

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As negociações entre PSD e CDS ainda decorrem, mas é bastante provável que os democratas-cristãos venham a ficar com o lugar de número dois na lista e com o candidato a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa — pelo menos, é essa a vontade do CDS.

Numa altura em que o processo negocial ainda está a decorrer, Gonçalves Pereira aproveita a sua despedida do Parlamento para lembrar que quer ser uma carta a considerar nas próximas eleições autárquicas. A pressão sobre a equipa negocial nomeada por Rodrigues dos Santos — Francisco Tavares, secretário-geral, e Filipe Anacoreta Correia — é enorme.

Na mesma nota, Gonçalves Pereira explica ainda que deixa o Parlamento por entender que deve dedicar mais tempo à família e também porque sente que cumpriu o desafio a que se tinha proposto quando entrou na Assembleia da República, em particular na discussão em torno do 5G.

“Devo muito a este tempo na Assembleia, e planeio fazer justiça a esse tempo mesmo já não estando presente todos os dias. Contribuir para o debate do 5G em Portugal será uma forma de o fazer no futuro. Vai mudar tudo”, escreve.

Quem se segue?

A saída de Gonçalves Pereira terá de ser preenchida por um dos elementos que se seguia ao vereador na lista de deputados desenhada em 2019. O primeiro na sucessão é Pedro Morais Soares, ex-deputado e antigo secretário-geral de Assunção Cristas.

Segue-se depois Isabel Galriça Neto, igualmente ex-deputada, médica e um dos rostos do partido no combate à despenalização da eutanásia. Ela que, na disputa entre João Almeida e Francisco Rodrigues dos Santos, escolheu estar do lado do primeiro. Como, aliás, toda a bancada parlamentar do CDS.

O terceiro na sucessão é Sebastião Bugalho, uma escolha pessoal de Assunção Cristas apesar de não ter filiação no CDS, ex-jornalista, comentador regular na TVI e cronista no Diário de Notícias, e há muito um assumido crítico de Francisco Rodrigues dos Santos.

No final de janeiro, quando Adolfo Mesquita Nunes desafiou Rodrigues dos Santos, Sebastião Bugalho não escondeu a sua preferência. “É hora de ir embora, amigo”, escreveu no Diário de Notícias. Resta saber se algum dos três aceitará agarrar o lugar vago deixado por Gonçalves Pereira.