Um jovem residente na Flórida foi infetado com SARS-CoV-2 em meados de junho de 2020. Os sintomas estavam dentro do normal para a Covid-19 — dor de cabeça, tosse, perda de olfato, cansaço —, mas passados mais de sete meses, o jovem que chegou a correr cerca de 100 quilómetros por semana, limitava-se a duas ou três caminhadas de 15 minutos (cerca de um quilómetro) por dia antes de ficar demasiado cansado e com o coração acelerado.
O caso foi reportado na revista científica Frontiers in Medicine pela equipa coordenada por Peter Rowe, investigador na Faculdade de Medicina na Universidade Johns Hopkins, juntamente com outros dois casos — duas mulheres, uma com 22 e outra com 30 anos. Só o primeiro fez um teste de diagnóstico à infeção com SARS-CoV-2, mas todos eles estiveram em contacto com doentes Covid-19 e desenvolveram sintomas compatíveis com a doença após essa exposição.
Em comum, os três doentes tinham: sintomas leves a moderados de Covid-19, não terem sido hospitalizados e apresentarem sintomas compatíveis com encefalomielite miálgica (ou síndrome de fadiga crónica) desde o início dos sintomas de Covid-19. Outros pontos comuns foram o historial de reações alérgicas graves pré-covid e a existência de mal-formações anatómicas, mas os autores não sabem de que forma isto pode estar relacionado com o desenvolvimento da síndrome.
Fadiga crónica, a sequela da Covid-19 que pode afetar até os doentes ligeiros
Esta síndrome de fadiga crónica já tinha sido reportada após outro tipo de infeção, como a mononucleose, mas, neste caso, estava associada à gravidade da doença causada pelo vírus Epstein-Barr. O que não foi o caso dos três jovens adultos norte-americanos.
Isso levanta a questão de quantos casos de encefalomielite miálgica antes da pandemia de Covid-19 podem ter sido devido a infecções virais leves, subclínicas ou assintomáticas [como o vírus Epstein-Barr ou herpesvírus humano], incluindo casos em adolescentes, adultos jovens e pessoas mais velhas”, questionou Peter Rowe em comunicado de imprensa.
A encefalomielite miálgica só é diagnosticada ao fim de seis meses porque implica a manutenção dos sintomas, de forma consistente, ao longo desse período. O diagnóstico obedece a uma série de critérios específicos, mas entre os sintomas incluem-se incapacidade de suportar determinadas atividades previamente toleradas, geralmente acompanhadas por uma fadiga incapacitante persistente e um mal-estar após o esforço (PEM). Os doentes nesta condição têm um sono que não é reparador e apresentam algumas dificuldades cognitivas.
Esta síndrome de fadiga crónica também é caracterizada por uma intolerância ortostática, ou seja, os doentes sentem mais fadiga, tonturas, dificuldades de concentração e outros sintomas quando estão numa posição vertical e sentem alívio quando se deitam. Os três doentes estudados apresentaram sintomas de intolerância ortostática desde o início da doença Covid-19.
Os autores do artigo defendem que são necessários mais estudos para perceber como a encefalomielite miálgica se relaciona com a Covid-19 e qual a melhor forma de tratar estes doentes de forma a retomarem a qualidade de vida pré-Covid-19.