823kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Cillian Murphy, o irlandês (quase sempre) tranquilo: "A incerteza é boa, se te sentires seguro, estás lixado”

Este artigo tem mais de 3 anos

“Um Lugar Silencioso 2” estreia-se esta quinta-feira. Numa curta conversa com o Observador, o ator fala do regresso aos filmes apocalípticos, da reabertura das salas e do seu gosto de estar em casa.

'Free Fire' - Closing Night Gala - 60th BFI London Film Festival
i

Cillian Murphy, 45 anos, ganhou renovado estatuto de protagonista com a sua participação na série "Peaky Blinders", que no ano passado chegou à quinta temporada

Getty Images

Cillian Murphy, 45 anos, ganhou renovado estatuto de protagonista com a sua participação na série "Peaky Blinders", que no ano passado chegou à quinta temporada

Getty Images

“Sou bom a estar em casa. Gosto de não trabalhar”. Frase estranha, quase antagónica face aos tempos que vivemos em plena pandemia. O único lugar seguro, repetido até à exaustão, tem estado entre as quatro paredes que nos vão aturando por causa da Covid-19. Mas, ao mesmo tempo, é o lugar que muitos querem ver pelas costas. Para Cillian Murphy, em conversa com o Observador, é o cenário perfeito. Um homem pacato, com sotaque irlandês bem cerrado, que tem andado os últimos cinco meses no Reino Unido a filmar a sexta e última temporada da série de sucesso “Peaky Blinders”.

Em vez de andar de decór em decór, Cillian Murphy revela que fazer jardinagem, ler um livro — The Death of Francis Bacon, por exemplo, de Max Porter — ou ver um filme podiam perfeitamente encaixar-se na sua rotina, quase como se de uma profissão se tratasse. Mas essa pretensão fica para mais tarde, talvez na reforma, tal como fez o ator Gene Hackman, de quem é fã, e que se pirou para o Novo México sem grandes festas ou despedidas. “Não fez grande ruído, vive só pacificamente, gostava de o fazer”.

Mas Cillian Murphy só completou agora 45 anos. Há que continuar a trabalhar como ator. Até porque o mundo avança, passo a passo, rumo ao desconfinamento, a caminho do normal, sem ser novo. As salas de cinema voltaram a abrir. E “Quite Place Part II”, realizado, outra vez, por John Krasinski, onde o ator irlandês faz de Emmett, pode finalmente estrear-se na grande tela, depois de ter sido adiado em 2020.

Chegou o tempo das pessoas se sentirem seguras e voltarem às suas vidas. Quando vi o primeiro filme, toda a gente estava em tensão, tudo cheio de medo. É uma experiência coletiva. Ainda bem que esperaram para o estrear”, refere.

Em Portugal, o filme, que é a sequela de um dos filmes de terror de maior sucesso dos últimos anos, chega às alas esta quinta-feira, 27 de maio, com o título “Um Lugar Silencioso 2”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

[o trailer de “Um Lugar Silencioso 2”:]

Vinte anos depois, Cillian Murphy regressa ao apocalipse, depois de, com apenas 24 anos, ter entrado em “28 Dias Depois”. Agora, é um homem diferente. Já é pai. Talvez olhe para o fim do mundo como os protagonistas de “Um Lugar Silencioso” olham: manter, tanto quanto possível, a promessa de que nada acontecerá aos filhos. “Liguei-me à personagem de outra forma. Precisamos dele no início, mas no fim é um homem completamente diferente. Tem de lidar com a perda, o luto”, refere.

Mas quem é Emmet? E porque é que uma outra personagem consegue ter a força de alterar o rumo de tudo o resto? Sem fazer grandes spoilers, um resumo rápido: o primeiro “Um Lugar Silencioso” mostrava a luta de uma família para sobreviver num mundo pós-apocalíptico, pejado de monstros subterrâneos cegos, que se movem em função de qualquer ruído que ouçam — e que depois atacam. Evelyn (Emily Blunt) é a mãe de uma filha surda, Regan (interpretada por Millicent Simmonds, jovem atriz que é, de facto, surda) chegam ao segundo filme sem marido ou pai (que em tempos foi o realizador do filme, o ator John Krasinski), na mesma a tentar sobreviver.

Emmet, a personagem de Cillian Murphy, é um homem que perdeu tudo, já não acredita em nada e só quer estar sossegado no seu esconderijo para não ser apanhado pelos monstros. Mas a família Abbott, Evelyn e Regan, trocam-lhe as voltas. Murphy volta, assim, aos papéis de homens sem fé na humanidade, tema recorrente na sua carreira, quase como se encaixasse numa persona. Ora, no fim do mundo há pouco lugar para esperança. Valha-nos as gerações mais novas que salvam a honra do convento da nova saga de terror/ficção científica/thriller/filme mudo em pequenas partes. “A Millicent foi extraordinária no primeiro filme, tão poderosa. Ao trabalhar com ela percebi que a sua presença domina tudo. Os jovens atores são muito naturais. Ela é a estrela, esta é a história dela”, conta.

"O John Krasinski estava determinado em levar a sequela ao cinema, não queria que fosse para uma plataforma de streaming. Ainda bem que está agora nas salas"

Mas falávamos há pouco da chegada do filme às salas de cinema. Sobre isto, e quanto ao encerramento da indústria do cinema e especialmente das salas, Cillian Murphy prefere colocar água na fervura. Afinal, a pandemia tem sido muito mais difícil para quem perdeu rendimentos, ficou sem casa ou está a passar fome. Um ator de Hollywood pode aguentar-se perfeitamente.

Foi difícil porque fizemos a estreia, falámos com a imprensa e, de repente, tudo parou. Era suposto começar a gravar a nova temporada de ‘Peaky Blinders’ o ano passado. Mas isto não pode ser comparado com o que outras pessoas sofreram. O John Krasinski estava determinado em levar a sequela ao cinema, não queria que fosse para uma plataforma de streaming. Ainda bem que está agora nas salas”, conta.

Cultivando uma figura discreta, o ator irlandês contraria a tendência seguida por tantos outros colegas que empregaram muito do seu tempo nas redes sociais a falar sobre a Covid-19. Murphy nunca sentiu a necessidade de falar. Aliás, indo contra à habitual resposta na língua de qualquer pessoa que seja habitué de Hollywood, o ator irlandês responde à pergunta “o que é que o preocupou mais neste último ano” com um retumbante “não sei”. “Ainda não cheguei ao ponto de perceber ou processar o que se passou. Ainda estamos a viver em pandemia. Mas, por outro lado, não precisei de ouvir atores nem achei que devessem falar, queria que os políticos, os cientistas e os médicos tratassem do novo coronavírus”, diz.

O percurso dos últimos 16 anos diz muito de alguém que só quer fazer bem o seu trabalho, arrumar a trouxa e voltar para junto da família. E que quer perder pouco tempo a cumprir um qualquer cliché. Prefer manter um manto de mistério à sua volta. Não tem redes sociais. Nem lhe parece interessar muito se o filme é de Hollywood ou se tem dedo independente. Desde “que o deixe desconfortável, pressionado e assustado”, é seguir e andar. “A incerteza é boa, se te sentes seguro, estás lixado”, afirma.

Emily Blunt partilha o protagonismo de "Um Lugar Silencioso 2" com Cillian Murphy, num novo capítulo de uma saga de sobrevivência num mundo pós-apocalíptico

Pela mão de Christopher Nolan, fez primeiro de Scarecrow, psiquiatra perturbado que adora assustar pessoas, no primeiro filme da trilogia do The Dark Night (“Batman Begins”, de 2005). Logo veio “Inception” (2010), para fazer de empresário que anda às voltas pelos sonhos. E ainda fez de Shivering Soldier (sim, é esse o nome da sua personagem) em “Dunkirk” (2017). Papel pequeno, mas suficiente para vestir a pele de um soldado com stress pós traumático. Mesmo tendo feito parte de blockbusters, é no teatro que se sente realmente em casa. “Foi aí que comecei, é-me muito especial”, diz.

Pelo meio juntou-se a umas quantas produções que deixaram recordações menos intensas junto do grande público — um belíssimo “Breakfast on Pluto” (2005) e um não tão belo “Watching Detetives” ou “A Loft”). Mas foi Tom Shelby, líder do gangue de Birmingham, soldado (novamente) que regressou da Primeira Guerra Mundial para andar à tareia com comunistas, membros do IRA ou gangues rivais, em busca de poder, que o catapultou para um outro patamar de reconhecimento.

Por isso que, mesmo ainda não tendo terminado as filmagens da sexta e última temporada, Cillian Murphy não consegue bem responder à pergunta: quando Peaky Blinders terminar, vai ser um alívio ou uma sina que leva para a vida?

“Ainda não acabamos de filmar, não consigo ainda ter um ponto de vista objetivo sobre o fim. Foi uma viagem louca, fiz este papel durante dez anos, nunca esperei fazê-lo durante tanto tempo”, confessa.

[o trailer da mais recente temporada de “Peaky Blinders”:]

Falta saber se o que faria Cillian Murphy se estivesse perante zombies, monstros ou aliens, num cenário apocalíptico, tão distante daquele que lhe traz paz. Pois bem, fica sem resposta. Pergunta chata, repetida tantas vezes por jornalistas, que não foi respondida. E percebe-se o porquê. “Não sou mais interessante do que a personagem do Emmet. Não me quero meter no seu lugar, esse não é o meu trabalho. Nunca penso: o que faria eu? Não tenho uma boa resposta para isso”.

 
Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Apoie o jornalismo. Leia sem limites. Apoie o jornalismo. Leia sem limites.
Desde 0,18€/dia
Apoie o jornalismo. Leia sem limites.
Apoie o jornalismo. Leia sem limites. Desde 0,18€/dia
Em tempos de incerteza e mudanças rápidas, é essencial estar bem informado. Não deixe que as notícias passem ao seu lado – assine agora e tenha acesso ilimitado às histórias que moldam o nosso País.
Ver ofertas