Em dois remates tentados, não tinha acertado na baliza – e num deles, na pequena área, falhou aquilo que falha uma vez em cada 100. Mas também não tinha nenhum passe para finalização. E também perdera a bola nos dois dribles tentados. E não tinha sofrido sequer nenhuma falta. E, como explicava a exaustiva análise estatística do Goalpoint, não conseguira nem uma condução aproximativa no ataque. Este foi Ronaldo em 60 minutos.

Os números não ajudam a explicar um jogo mas podem funcionar como base para que um jogo se explique. No entanto, e no caso de Ronaldo, os números são só um caminho até aos recordes, mesmo quando são maus e está a passar mais ao lado de um jogo. E com dois golos a fechar o encontro, o primeiro de grande penalidade e o segundos, nos descontos, a concluir uma fantástica jogada coletiva, o que tinha começado por ser apenas mais um recorde (ou dois, juntando também Mundiais) tornou-se uma panóplia de registos históricos.

Importante era ganhar, foi um jogo difícil. Conseguimos marcar três golos e estou agradecido à equipa por ter conseguido marcar dois golos e ser o Homem do Jogo. O importante era entrar com confiança e agora é continuar a ganhar”, comentou Ronaldo no final do encontro.

Ainda antes do Campeonato da Europa, o capitão da Seleção Nacional já era o jogador com mais encontros disputados na fase final da competição (22 agora, entre as edições de 2004, 2008, 2012 e 2016, onde chegou por duas vezes à final e por uma às meias-finais), o jogador com mais minutos disputados (1.883), o jogador com mais partidas a marcar pelo menos uma vez (agora oito) e com mais torneios a conseguir marcar pelo menos um golo (cinco, algo que aconteceu sempre que participou). Mas não, não ficou por aqui. Longe disso.

  • Ronaldo tornou-se frente à Hungria, no jogo de estreia do Campeonato da Europa de 2020, o primeiro jogador de sempre a participar em cinco fases finais da competição, a primeira das quais em Portugal com 19 anos em 2004 e depois em 2008 (Suíça/Áustria), em 2012 (Polónia/Ucrânia), em 2016 (França) e 2020;
  • Ronaldo ultrapassou também o número de jogos realizados em fases finais de grandes competições (neste caso Europeu e Mundial) de Bastian Schweinsteiger, antigo médio da Alemanha, juntando os 22 jogos em cinco Europeus aos 17 encontros entre os Mundiais de 2006 (Alemanha), 2010 (África do Sul), 2014 (Brasil) e 2018 (Rússia), a única prova que ainda não ganhou depois do Europeu e da Liga das Nações;
  • Ronaldo tornou-se o melhor marcador de sempre em fases finais de Europeus, superando os nove golos de Michel Platini numa só edição, no fatídico ano (pelo menos para as cores nacionais) de 1984: marcou dois em 2004, um em 2008, três em 2012, três em 2016 e mais dois em 2020 – que ainda agora começou;
  • Ronaldo conseguiu mais um feito histórico no plano coletivo, passando a ser o jogador com mais vitórias em jogos da fase final do Campeonato da Europa (12), superando os 11 triunfos dos espanhóis Cesc Fàbregas e Andrés Iniesta – e mais uma vez como supracitado, ainda agora começou a edição de 2020;
  • Ronaldo já tinha bisado à Hungria em 2016, tinha bisado em 2012 diante da Holanda e voltou agora a marcar dois golos no mesmo encontro frente à formação magiar, passando assim a ser o primeiro na história de fases finais de Europeus a bisar em três edições, superando Gerd Müller (1972), Michel Platini (1984), Rudi Völler (1984 e 1988), Wayne Rooney (2004) e Antoine Griezmann (2016);
  • Ronaldo conseguiu também tornar-se o primeiro jogador europeu com dois ou mais golos em pelo menos quatro fases finais do Europeu, ultrapassando o registo do sueco Zlatan Ibahimovic (2004, 2008 e 2012) com dois golos em 2004, três golos em 2012, três golos em 2016 e agora dois golos (pelo menos) em 2020.

E as contas podem não ficar por aqui. Aliás, não ficarão – e quem conhece Ronaldo sabe disso, porque quando o jogador mete algo na cabeça, muito dificilmente não consegue depois cumpri-la. É nesse contexto que, apesar de parecer quase impossível numa determinada fase, o avançado nunca deixou de acreditar que poderia tornar-se o melhor marcador de sempre de seleções. Nesta altura, está a três de igualar Ali Daei. E entre Europeu de 2020, qualificação para o Mundial de 2022, jogos particulares ou fase final do Mundial de 2022 (que ainda contará com o jogador, que na altura já estará quase a fazer 38 anos), esse recorde máximo também vai chegar.

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