A youtuber e ativista cubana Dina Stars foi detida esta quarta-feira em Cuba enquanto dava uma entrevista a uma televisão espanhola. Esta detenção surge numa altura de grande tensão em Havana, com a organização não-governamental Human Rights Watch a estimar que pelo menos 150 pessoas foram detidas desde o início dos protestos contra o regime no passado domingo.
https://twitter.com/RGL4U/status/1415010380783529988
Dina Stars, que começou por dizer que não tinha medo de falar sobre a situação em Cuba, estava a dar uma entrevista à jornalista espanhola Marta Flich, no programa Todo Es Mentira, do canal Cuatro, quando, de repente, interrompe a conversa e diz que tem a polícia à porta. A youtuber sai durante um bocado e depois regressa, para transmitir uma mensagem: “Considero o governo responsável por tudo o que possa acontecer comigo. Tenho de ir, disseram-me para os acompanhar.”
⚠️⚠️Trasladan a la influencer cubana @Dinastars_ a la estación de de Zapata y C… sus amigos van detrás a pedir su liberación.#SOSCuba pic.twitter.com/Xx4cvoPtQC
— Mag Jorge Castro???????? (@mjorgec1994) July 13, 2021
Noutro vídeo, Dina Stars surge acompanhada por dois homens, ao que tudo indica polícias, dirigindo-se para um carro. Depois disto desconhece-se, até ao momento, o seu paradeiro.
No domingo, milhares de cubanos saíram as ruas para protestar contra o governo e exigir “liberdade!”, um dia inédito que terminou com dezenas de detidos e confrontos depois de o Presidente, Miguel Díaz-Canel, ter recorrido à televisão para apelar aos seus apoiantes que saíssem à rua para enfrentar os manifestantes e defender a Revolução.
Mais de 150 detidos em manifestações
A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) denunciou esta terça-feira que os detidos nas manifestações de Cuba “ultrapassam os 150” e exigiu o fim das violações dos direitos humanos na ilha.
“As listas iniciais de detidos nas manifestações de Cuba superam os 150”, escreveu na rede social Twitter o diretor da HRW para as Américas, José Miguel Vivanco, que alertou ainda que se “desconhece o paradeiro de muitos”.
Los listados iniciales de detenidos en protestas en Cuba superan los 150.
Se desconoce el paradero de muchos de ellos.
Exigimos que cesen estas violaciones de DDHH.
Protestar es un derecho, no un crimen.
Listado de @CubalexDDHH: https://t.co/03rzD99gVW
— José Miguel Vivanco (@VivancoJM) July 13, 2021
Vivanco sublinhou que “protestar é um direito, não um crime”.
Além disso, divulgou uma lista de desaparecidos cuja autoria atribuiu à organização não-governamental (ONG) Cubalex, que dá conta de 171 pessoas desaparecidas, das quais 17 já foram libertadas ou é conhecido o paradeiro.
A lista inclui, além dos nomes e apelidos das pessoas, o lugar onde foram vistas pela última vez, a hora e a data da detenção e o “último relatório” sobre a sua situação.
O encenador Yunior Garcia, um dos líderes do movimento 27N — criado após uma manifestação inédita de artistas em 27 de novembro, para exigir mais liberdade de expressão — também foi detido no domingo, tendo sido libertado na tarde de segunda-feira.
Garcia usou a sua conta na rede social Facebook, para relatar a sua experiência, explicando que viajou no domingo com um grupo de amigos até ao Instituto Cubano de Rádio e Televisão (ICRT) para pedir para falar por 15 minutos diante das câmaras.
“Uma multidão de conservadores radicais e vários grupos de Resposta Rápida (forças de segurança à paisana) disseram-nos que não o poderíamos fazer (…) e fomos arrastados à força e atirados para dentro de um camião, como sacos de entulho”, denunciou o encenador.
Sem Castro no poder e com acesso à internet, os cubanos reclamam o que a revolução lhes prometeu
As manifestações, as mais expressivas em Cuba desde o “Maleconazo” de agosto de 1994, acontecem numa altura em que o país está mergulhado numa grave crise económica e de saúde, com a pandemia de Covid-19 fora do controlo e uma grave escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos, assim como longos cortes de energia que se tornaram parte da rotina.
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, exigiu na segunda-feira ao governo cubano para evitar a “violência” na sua “tentativa de silenciar” os protestos contra o governo, aos quais expressou todo o apoio. Também a União Europeia apelou ao fim da violência e para o governo cubano ouvir a sua população.
Enquanto isso, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, negou que os EUA estejam envolvidos na organização das manifestações e que o embargo imposto pelos Estados Unidos (desde 1962) seja totalmente responsável pela crise económica e sanitária pelos protestos.
Violence and detentions of Cuban protesters & disappearances of independent activists — including @cocofarinas, UNPACU's @jdanielferrer, @Mov_sanisidro, @LMOAlcantara & @Omnipoeta — remind us that Cubans pay dearly for freedom and dignity. We call for their immediate release.
— Brian A. Nichols (@WHAAsstSecty) July 12, 2021
Julie Chung, secretária de Estado adjunta dos EUA para as Américas, também denunciou, na sua conta da rede social Twitter, “a violência e prisões de manifestantes cubanos, bem como o desaparecimento de ativistas independentes, incluindo Guillermo “Coco” Fariñas, José Daniel Ferrer, Luis Manuel Otero Alcantara e Amaury Pacheco.