As manifestações que juntaram milhares de pessoas este domingo em várias cidades de Cuba teve uma dimensão e um alcance inéditos. Internacionalmente, nos primeiros ecos aos protestos cubanos, alguns países pedem o “fim de opressão” e outros “fim da ingerência estrangeira”.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, reagiu aos protestos esta segunda-feira. Em comunicado, o chefe de Estado disse que os EUA estão “ao lado do povo cubano” na sua luta “pela liberdade e pelo alívio das trágicas consequências da pandemia e de décadas de repressão e de sofrimento económico pelo regime autoritário de Cuba”.

“Os cubanos estão a assegurar os seus direitos fundamentais e universais”, afirma Joe Biden sobre os protestos, acrescentando que esses “direitos incluem a liberdade de determinar o seu futuro”. “Os Estados Unidos pedem ao regime cubano para ouvir o povo e para servir as suas necessidades neste momento em vez de se continuar a enriquecer”, vinca.

Já a primeira reação por parte da União Europeia surgiu pela checa Dita Charanzová, vice-presidente do Parlamento Europeu. “Os cubanos querem a mudança e têm direito a pedi-lo pacificamente”, escreveu na sua conta pessoal do Twitter, condenando ainda “toda a repressão por parte do regime contra o seu povo”. “A Europa está com os cubanos”, realça.

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Mais tarde, o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE), Augusto Santos Silva, partilham a preocupação com a repressão de manifestações pacíficas em Cuba, um indicador claro da qualidade do regime.

No final de um Conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros, Santos Silva indicou, em conferência de imprensa, que o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, fez uma exposição da situação em Cuba, tendo os 27 partilhado “a sua preocupação” com o facto de as manifestações estarem a ser reprimidas pelas autoridades cubanas. “O direito de manifestação, a realização de manifestações pacificas é um critério fundamental para a UE na avaliação da qualidade dos regimes políticos, quaisquer que eles sejam. E, de facto, é um critério muito simples para distinguir os regimes políticos e as sociedades que são livres das que não são”, começou por comentar o chefe da diplomacia portuguesa.

Santos Silva reforçou que, “nas sociedades livres, o que é mais normal é que as pessoas se reúnam, se manifestem, protestem contra os governos ou outras autoridades instituídas, e que o possam fazer livremente se o estiverem a fazer pacificamente”.

“Estamos a assistir ao que nos parece ser uma evolução muito preocupante da relação do regime cubano com o direito de manifestação. Vamos ver como é que as coisas evoluem, e em que é que nós podemos influenciar para que evoluam num sentido positivo”, complementou.

No que diz respeito a Portugal, o ministro disse que ainda está a ser recolhida informação e que não teve “ainda oportunidade de falar com o embaixador de Portugal em Cuba”, o que tenciona fazer “ainda hoje [esta segunda-feira]”.

Já do lado europeu, prosseguiu, as informações que os 27 dispõem “são aquelas que foram sintetizadas pelo Alto Representante”, e que “permitem desde já exprimir preocupação pelos factos”, já que, reforçou, “manifestações pacíficas dirigidas contra as autoridades cubanas” constituem, do ponto de vista da UE, “o exercício de um direito humano, um direito de reunião e manifestação pacífica, e não deveriam ser reprimidas pelas autoridades respetivas”.

Juan Guiadó, líder da oposição venezuelana, manifestou o seu apoio aos protestos cubanos. “O desejo de mudança, de liberdade e a exigência de direitos fundamentais. São forças que não se podem conter”, escreveu na sua conta pessoal do Twitter, afirmando ainda que “desde a Venezuela, reiteramos o nosso apoio a todo o movimento pró-democracia em Cuba”. “Estamos unidos pela luta para nos tornarmo-nos livres e democráticos”.

A Organização dos Estados Americanos (OAS, sigla em inglês) também já veio mostrar que apoia a causa dos manifestantes cubanos. O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, reconhece “a legítima revolta da sociedade cubana por medicamentos, alimentos e liberdades fundamentais”. O urugaio vai mais longe e condena o “regime ditatorial cubano” por “chamar civis a reprimir a confrontação contra quem exerce os seus direitos de protesto”.

Por sua vez, o ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia criticou a “ingerência estrangeira” que Cuba — um dos seus principais aliados — está a sofrer. “Consideramos inaceitável qualquer ingerência estrangeira nos assuntos internos de um Estado soberano e qualquer outra ação destrutiva que promova a desestabilização da situação na ilha”, lê-se em comunicado citado pela Agência Lusa.

“Estamos convencidos de que as autoridades cubanas estão a tomar todas as medidas necessárias para restaurar a ordem pública, no interesse dos cidadãos do país”, acrescentou a diplomacia russa, dizendo que está a “acompanhar de perto a evolução da situação em Cuba e nos arredores”.

Notícia atualizada às 17h57 com as declarações de Santos Silva