O Partido Comunista Chinês parece ter declarado guerra à adoração de ídolos e está a cercar aquela que considera ser uma cultura de celebridades tóxica. Se há muito que políticos dissidentes, ativistas ou intelectuais liberais são silenciados na internet, tal como nota o The New York Times, agora os alvos são outros. Nos últimos dias, o governo chinês tomou uma série de medidas para controlar o culto de celebridades e os clubes de fãs.

Na passada sexta-feira, a entidade que administra o ciberespaço na China baniu os rankings de celebridades com base na popularidade, pedido uma maior regulação dos clubes de fãs dado o poder que estes exercem sobre a música, os filmes e os programas de televisão. Do outro lado da barricada, também o universo das celebridades foi atingido e exemplo disso é o que aconteceu à atriz Zheng Shuang, acusada de evasão fiscal e multada em 46 milhões de dólares, sendo que as emissoras foram impedidas de mostrar conteúdo onde a atriz apareça.

Este não é, porém, o único escândalo associado à atriz de 30 anos que, no início de 2021, e segundo a imprensa chinesa, terá abandonado os dois filhos nascidos de barriga de aluguer depois de se separar do antigo companheiro. Na sexta-feira, Zheng acabaria por pedir desculpa nas redes sociais, esclarecendo que iria pagar a multa a que foi sujeita. Apesar de ser pouco conhecida fora das fronteiras chinesas é, de acordo com a Variety, uma das atrizes mais bem pagas no mundo — alegadamente terá ganhado 24.6 milhões de dólares por 77 dias de filmagens tendo em conta o seu papel na série ainda por estrear “A Chinese Ghost Story”.

Também Zhao Wei, atriz e cantora de 45 anos, e cara da Fendi na China, foi atingida pelas recentes medidas encetadas pelo Partido Comunista, com referências à sua pessoa a desaparecerem das redes sociais, bem como vídeos online. Não é, no entanto, claro os motivos pelos quais as respetivas referências foram eliminadas, acrescenta o NYT. Já a CNN salienta que também a conta da atriz na plataforma Weibo, a versão chinesa e muito censurada do Twitter, foi apagada. Filmes e programas de televisão em que participou, alguns com duas décadas de existência, foram removidos das plataformas de streaming e o seu nome retirado das listas de casting.

O ator e cantor Kris Wu foi ainda detido depois de acusado de violação e, consequentemente, em grande parte eliminado da internet. Já Zhang Zhehan, que se deixou fotografar no polémico Santuário Yasukuni, em Tóquio, viu os filmes e séries em que participa serem retirados pelas emissoras e pelas plataformas de streaming. Entretanto, também a popular plataforma de vídeo iQiyi cancelou na semana passada um programa de talentos de ídolos, com o seu presidente-executivo a querer “traçar um limite claro sobre tendências prejudiciais na indústria”.

Embora algumas celebridades já tenham sido no passado, e a título individual, alvo do governo, a atual repressão com os olhos postos no entretenimento é mais abrangente e dura. Mais recente é o corte na indústria dos videojogos, com as autoridades a determinar que jogadores com menos de 18 anos apenas podem jogar online uma hora às sextas-feiras, ao fins de semana e nos feriados, uma resposta às preocupações crescentes face à adição dos jogos.

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