Um dos aspetos mais marcantes do “Drive to Survive” da Netflix é a possibilidade de ficar a conhecer como, onde, quando e porque se tomam decisões num desporto onde um pequeno erro ou um mero segundo podem depois fazer toda a diferença. Começou por ser uma novidade, enraizou-se, hoje a temporada vai a meio e já se espera na próxima série para perceber como acontecem as coisas. E o último Grande Prémio da Bélgica vai ser um dos pontos altos pelas condições de chuva que permitiram apenas um par de voltas, pela reunião que concluiu que deveriam ser atribuídos metade dos pontos, pelas muitas críticas feitas pelos pilotos.

Início do GP da Bélgica de Fórmula 1 suspenso devido à chuva e fraca visibilidade

Mas havia mais do que a “ressaca” do último fim de semana no Grande Prémio dos Países Baixos. Logo à cabeça, e voltando novamente à “Drive to Survive”, o apoio verdadeiramente fantástico dado pelos sempre presentes adeptos neerlandeses, a “empurrarem” Max Verstappen para as vitórias com uma autêntica onda laranja nas bancadas como se viu este ano na Áustria (e com uns fumos à mistura para dar um colorido ainda maior à festa). Depois, e apesar de mais uma pole do piloto da Red Bull, as dúvidas em torno do que fez a Mercedes a nível de atualizações no seu motor (que valeram tempos quase iguais à escuderia austríaca).

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“Adoramos o facto de eles dedicarem tempo a estas coisas e a pesquisar e acolhemos muito bem qualquer iniciativa que desejem fazer, para depois analisar. Se isso é uma distração para outra equipa, isso é bom. Isto acontece sempre. Estou habituado a isto, é o curso normal dos acontecimentos. Gostaria que tivéssemos algum tipo de solução mas é o modus operandi na Fórmula 1, business as usual“, comentou Toto Wolff, diretor da equipa britânica, à Sky Sports F1. Depois da guerra nas pistas pelo melhor tempo na qualificação que ficou decido apenas por 0,038 segundos, uma guerra de palavras para “apimentar” a corrida.

Na teoria, percebe-se o porquê: pela primeira vez nos últimos anos a supremacia da Mercedes está realmente ameaçada, não só a nível de construtores mas também de classificação individual com Lewis Hamilton, que procura um inédito oitavo título na Fórmula 1, a ter apenas três pontos de avanço na liderança e porque o Grande Prémio da Grã-Bretanha, onde o britânico ganhou e o neerlandês não pontuou, fazia a diferença. Nos Países Baixos, o primeiro lugar voltava a estar em xeque, numa corrida que teve ainda mais um “choque” entre Mick Schumacher e Nikita Mazepin (que acabou por prejudicar Sebastian Vettel) e que teria Sergio Pérez e Nicholas Latifi a saírem do pit lane para fazerem algumas mexidas nos carros.

36 anos depois, os Países Baixos voltavam a receber uma prova na modificada pista de Zandvoort, onde Max Verstappen se podia tornar o primeiro piloto neerlandês a ganhar em casa e Lewis Hamilton tentava num território mais “hostil” chegar à 100.ª vitória da carreira. No final, o prémio saiu “à casa”, com o piloto da Red Bull a dominar por completo e a garantir a sétima vitória de 2021 apenas em 13 corridas.

Na saída, o fumo que se via no final da grelha vinha das bancadas lotadas com cerca de 65.000 espectadores a transformarem o ambiente como se fosse quase um jogo de futebol e a primeira grande celebração veio logo na saída, com Verstappen a ter um fantástico arranque que não deu a mínima hipótese aos dois Mercedes de ganharem a trajetória na curva 1 para a direita. Lá atrás, o destaque foi para Fernando Alonso, que saltou para sétimo, e para os Haas, que voltaram a andar “pegados” com Mazepin a ficar à frente de Schumacher.

Na restante corrida, marcada pelas comunicações muito calculistas de Hamilton com a equipa sobre o estado dos pneus ao longo das voltas para perceber a melhor estratégia de paragens, houve ainda um momento em que se gerou alguma dúvida sobre o primeiro posto quando Valtteri Bottas ficou na frente da corrida e foi tentando “tapar” Verstappen para a aproximação de Hamilton mas a ultrapassagem na 31.ª volta após uma grande aproximação na curva 14 que possibilitou o arranque na reta da meta quebrou esse plano da Mercedes, que arriscou depois médios usados para o britânico contra os duros novos do neerlandês.

Lá atrás, Sergio Pérez conseguiu uma fantástica recuperação e colocou-se na sétima posição saindo de último, destacando-se ainda as corridas muito regulares do AlphaTauri de Pierre Gasly e dos Ferraris de Charles Leclerc e Carlos Sainz. Na frente, Hamilton, que avisava a equipa de que dificilmente os pneus iriam aguentar até ao final abrindo assim a possibilidade a uma terceira paragem, conseguia ser melhor no setor inicial mas Verstappen controlava os restantes setores, andando na frente com uma gestão tranquila de todos os fatores que poderiam aparecer tendo em conta a distância de Bottas para o primeiro lugar.

As últimas voltas entregaram de vez o que estava há muito decidido, com Bottas e depois Hamilton a virem trocar de pneus para tentarem segurar o ponto da volta mais rápida. Nas bancadas, a festa era ainda maior por parte dos milhares de neerlandeses, com os pouco mais de quatro quilómetros da derradeira volta a serem cumpridos com ainda mais barulho vindo das bancadas a selar um dia memorável para Max Verstappen, que passou pela reta da meta já com o fogo de artifício a rebentar na pista de Zandvoort numa explosão que prosseguiu quando parou o carro e celebrou já com a bandeira do seu país às costas. Os cumprimentos dos restantes pilotos, incluindo Hamilton e Bottas, contaram o resto da história.

Com a corrida deste domingo, Max Verstappen passou a ter três pontos de avanço na liderança em relação a Lewis Hamilton (224.5-221.5), ao passo que a Mercedes aumentou para 11 pontos a mais do que a Red Bull nos construtores. Até ao final, e olhando apenas para os dez primeiros, a única alteração acabou por ser a passagem de Fernando Alonso para a sexta posição à frente de Carlos Sainz e Sergio Pérez. Noutra das lutas mais particulares da corrida, Esteban Ocon acabou em nono com Lando Norris em décimo (o que permitiu ao finlandês Valtteri Bottas ascender de novo ao terceiro lugar da classificação geral), ao passo que, em relação aos Haas, Mick Schumacher ficou em 18.º e Nikita Mazepin não terminou a prova. Robert Kubica, piloto polaco que substituiu Kimi Raïkkönen (infetado com Covid-19), acabou na 15.ª posição.