Em 2017, a princesa Mako do Japão introduziu Kei Komuro à imprensa, num evento em Tóquio, anunciando a vontade em casar com aquele que fora seu colega nos tempos de faculdade. O enlace, com escândalos à mistura, enfrentou tempos agitados e foi adiado mais do que uma vez, até agora: princesa e plebeu, ambos com 29 anos, devem casar até ao final do ano.
Mas abandonar aquela que é a monarquia mais antiga do mundo tem os seus custos, e não só Mako vai recusar um cheque chorudo do governo (de mais de um milhão de euros), quantia prevista para as princesas que perdem o estatuto imperial na sequência do casamento, como mudar-se para os Estados Unidos: será uma quebra com a tradição imperial sem precedentes.
The Imperial Household Agency is planning to make the rare decision to skip traditional marriage ceremonies for Princess Mako and Kei Komuro given the financial troubles for Komuro's family. https://t.co/hK1hiaI30C
— The Japan Times (@japantimes) September 1, 2021
A história de amor de Mako, a sobrinha do imperador Naruhito, tem sido seguida com atenção — e respetiva dose de mediatismo — pela população do Japão que ao início deixou-se enternecer pela relação. Mako e Komuro conheceram-se e começaram a namorar ainda na faculdade, na Universidade Cristã Internacional, no Japão, em 2012. Um ano depois Komuro pediu-a em casamento, quatro anos antes de o noivado vir a público. Quando a vontade de casar foi expressa à imprensa do país, a princesa elogiou o sorriso do pretendente, tão luminoso quanto o sol, segundo o The Times. Em resposta, Komuro disse que ela o vigiava tão silenciosamente quanto a lua. Ajudou ter o apoio do então imperador Akihito (abdicou em 2019).
Como qualquer história com selo imperial, de tanto mergulharem os tabloides trouxeram à tona da água um escândalo: a mãe de Komuro, viúva, recebera um empréstimo no valor de 30 mil euros de um ex-namorado sem nunca ter devolvido a quantia, a qual terá financiado os estudos do filho. Apesar da história não estar diretamente relacionada com o noivo da princesa — e de a mãe deste assegurar que o dinheiro foi dado e não emprestado —, numa sociedade onde as origens familiares têm um peso significativo foi o suficiente para alimentar a chama da suspeita: estaria o jovem a cortejar a princesa em busca de estatuto e de uma conta bancária recheada?

▲ A princesa Mako fotografada em 2019
Carlos Garcia Granthon/Fotoholica Press/LightRocket via Getty Images
A opinião pública sobre ele mudou e, semanas mais tarde, era anunciado que a cerimónia formal que marcaria o noivado seria adiada — motivo para o atraso, segundo Mako, era a sua própria “imaturidade”. O noivado foi comunicado em setembro de 2017 e o casamento estava marcado para novembro de 2018. À data era notícia que o casal teria de esperar até 2020, ano marcado pela pandemia global e que deixou o casamento, uma vez mais, em suspenso.
Mas apesar das constantes peripécias, e do grande interesse da opinião pública na vida amorosa da princesa, o casal parece estar determinado a ficar junto: “Para nós, o casamento é uma escolha necessária para viver e honrar os nossos corações. Somos insubstituíveis um para o outro e apoiamo-nos em tempos felizes e infelizes” assegurou a princesa no ano passado.
O pai de Mako, Fumihito, deu a aprovação, embora sem grande entusiasmo: “Se é isso que eles realmente querem, então é algo que devo respeitar como pai”. “Do meu ponto de vista, acho que eles não estão numa situação em que muitas pessoas estejam convencidas e satisfeitas [com a sua relação]”, comentou também no ano passado.
O casamento discreto, previsto acontecer até a final de 2021, parece ser um reconhecimento da controvérsia que continua a rondar Komuro, com a princesa a recusar a quantia elevada que lhe seria devida com o enlace: o dinheiro dos contribuintes teria como função “preservar a dignidade de uma pessoa que já foi membro da família imperial”. De acordo com o El País, é um pedido sem precedentes que o governo está a analisar. O casal deverá ainda saltar dois rituais de casamento (Nosai no Gi e Choken no Gi), com Mako a tornar-se na primeira princesa dos tempos modernos a não se casar pelo rito xintoísta.

▲ A família imperial fotografada em dezembro de 2010
KURITA KAKU/Gamma-Rapho via Getty Images
Por agora, Komuro, que terminou recentemente a licenciatura em Direito na Universidade de Fordham, em Nova Iorque, está à espera do resultado de um exame que o permita começar a trabalhar num escritório de advogados nos EUA (os resultados serão conhecidos em dezembro). Já Mako será o primeiro ex-membro da família imperial japonesa a estabelecer-se no exterior.
A polémica em torno deste romance reacendeu o debate sobre o futuro da família imperial japonesa, cuja lei determina que apenas os descendentes do sexo masculino da linhagem paterna podem ascender ao trono: há mais de 50 anos que não nascem rapazes no seio da realeza japonesa. À parte do imperador Akihito, que abandonou funções em 2019, dos 18 membros da família de Naruhito (atual imperador) apenas quatro são rapazes.
Não é à toa que o The Times escreve que a família imperial do Japão está à mercê do cromossoma Y. Apesar de sondagens mais recentes mostrarem um apoio crescente perante a ideia de o país ter uma imperatriz, a oposição existente não é numerosa mas sim influente.