É uma balbúrdia que fez soar (de novo) os alarmes nos Países Baixos. Líder do cartel “Mocro Maffia”, Karim Bouyakhrichan foi preso em Marbella em janeiro passado, cinco anos depois do arranque de uma grande operação que investigou crimes de lavagem de dinheiro. Mas aquele que é um dos criminosos mais procurados pela Interpol foi também notícia nos anos mais recentes por planear sequestrar e assassinar a herdeira do trono dos Países Baixos, a princesa Catharina-Amalia, e ainda o primeiro-ministro Mark Rutte. Chegados a abril, a Cadena Ser revela como este mafioso escapou à prisão em Espanha graças a uma descoordenação judicial.

O jornal Politico explica como as autoridades holandesas fizeram um pedido de extradição no Tribunal Nacional da Espanha quando souberam da detenção de Bouyakhrichan, esperando que o cabecilha do gangue regressasse aos Países Baixos para enfrentar as acusações relacionadas com o seu império de tráfico de drogas. O pedido terá recebido luz verde do juiz Ismael Moreno, da Audiência Nacional de Madrid, contudo o Tribunal Provincial de Málaga, que tem jurisdição sobre a área onde Karim foi preso, argumentou que o detido devia enfrentar as acusações de que era alvo em solo espanhol, antes de ser extraditado para outro país. De pouco terá servido o recurso das autoridades neerlandesas, que apresentaram novo pedido urgente sublinhando o risco associado a este caso.

Esta terça-feira, a rádio Cadena SER adiantou ainda que, embora o Tribunal Nacional tenha acolhido o recurso neerlandês, não emitiu a ordem de detenção que teria garantido que Bouyakhrichan permaneceria atrás das grades até que a extradição fosse realizada. O mafioso permaneceu preso preventivamente por ordem do Tribunal de Instrução número 4 de Marbella durante apenas um mês e meio, até que, para surpresa dos investigadores, foi libertado com medidas cautelares, incluindo a retirada do passaporte, a obrigação de comparecer de 15 em 15 dias em tribunal e o pagamento de uma fiança de 50 mil euros. Segundo a Europa Press, que teve acesso a um despacho de 22 de fevereiro, foi o Tribunal Provincial de Málaga que libertou o líder do Mocro Maffia, contrariando os critérios do Ministério Público e apesar de reconhecer que havia risco de fuga.

Desconhece-se o paradeiro de Karim desde o começo de abril. Sobre ele pesa agora um mandado de captura emitido pelo juiz Ismael Moreno.

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As ameaças à princesa Catharina-Amalia remontam pelo menos a 2022, quando a jovem se viu forçada a abandonar a residência estudantil onde vivia e regressar ao palácio real em Haia, depois de a polícia confirmar a existência de indícios fortes de que Bouyakhrichan estaria a planear sequestrar ou assassinar a herdeira do trono. A jovem, hoje com 20 anos, trocou Amesterdão pelo secretismo de uma estada (devidamente escoltada) em Madrid, onde foi acolhida pelos reis Felipe e Letizia, de forma a poder levar uma vida o mais normal possível. Um gesto que recentemente motivou agradecimento público por parte dos pais, Willem-Alexander e Máxima, que sublinharam o laço que os une à Casa Real espanhola.

Quanto a Mark Rutte, é outro dos nomes da lista de possíveis alvos da “Mocro” (é assim que os jovens imigrantes de descendência marroquina se chamam uns aos outros, uma gíria que vem, pelo menos, desde os anos 1990 e que assume um tom depreciativo). Rutte estará debaixo da mira do grupo pelo menos desde 2021, segundo a agência de notícias RTL devido à sua promessa de reprimir o tráfico de drogas e as redes de crime organizado em geral.

Dois jornalistas neerlandeses, Martijn Schrijver e Wouter Laumans, escreveram o best seller “Mocro Maffia”, mais tarde adaptado a série televisiva de enorme sucesso nos Países Baixos — onde chegou a ser comparada a “Narcos” (Netflix, 2015), a série que conta a vida de Pablo Escobar. Outrora paraíso das drogas leves, graças à legislação que facilitava o consumo de haxixe quando noutros países isso não era legal, os últimos meses de 2022 apontavam no entanto para uma escalada de terror, entre redes de cocaína, homicídio de denunciantes e jornalistas e ainda as ameaças que chegam à cúpula do país.Um dos casos mais noticiados em 2021 envolveu o assassinato do jornalista de investigação Peter R. de Vries, baleado em 6 de julho desse ano.

Segundo a agência AFP, Karim Bouyakhrichan fora preso juntamente com outros cinco suspeitos de integrar o grupo de crime organizado com sede nos Países Baixos, e que lidera uma rede de tráfico de droga no sul de Espanha. Suspeita-se que o grupo terá comprado 172 propriedades no valor de cerca de 50 milhões de euros de forma a branquear os seus ganhos com o tráfico. Karim é irmão de Samir Bouyakhrichan, outro dos principais membros da Mocro Maffia, e que foi assassinado em 2014 perto de Marbella.

No passado mês de fevereiro, Ridouan Taghi, outro dos elementos destacados do gangue, foi condenado a prisão perpétua por crimes praticados entre 2015 e 2017.