“Exposição Coletiva para um Único Corpo — A Composição Privada” abre esta quinta-feira ao público na Galeria Quadrum, em Lisboa, envolvendo obras da Coleção Kontakt, de Viena, anunciaram as Galerias Municipais, a que pertence a sala do Bairro de Alvalade.

Com curadoria de Pierre Bal-Blanc, a “Exposição Coletiva para um Único Corpo — A Composição Privada” inclui, entre outras, peças da coleção, de natureza performativa, inéditas em Portugal, com origem no antigo Bloco Comunista, coreografadas por Manuel Pelmus, que serão apresentadas no jardim da Quadrum, em datas e momentos precisos, durante o calendário da mostra, que encerra a 24 de outubro.

A “Exposição Coletiva para um Único Corpo — A Composição Privada” traduz-se, sobretudo, numa mostra ‘perfomativa’, sustentada por criações de artistas da Europa Central e de Leste, a partir de uma conceção original de Pierre Bal-Blanc, envolvendo nomes tão distintos como os de Cornelius Cardew, Jani Christou, Josef Dabernig, Anna Dauciková, Adolf Loos, Sarah Lucas, sem esquecer, entre muitos outros, o histórico Július Koller, nome chave para a arte concetual checa, do final dos anos de 1960, e Jirí Kovanda, da geração seguinte, para quem o corpo se tornou objeto do seu próprio discurso.

A Colecção Kontakt é uma das mais importantes de arte contemporânea, com origem no antigo Bloco de Leste. Escapou à circulação comercial, ao mercado privado de arte, mas também procurou resistir “ao conformismo ideológico do seu tempo”, num contexto então estabelecido pelo domínio dos partidos comunistas.

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As ‘performances’ procuram demonstrar que o indivíduo (corpo único) não é relevante enquanto ser isolado, “seja ele o artista criador da obra, o curador que a seleciona, o coreógrafo que a põe em marcha, o bailarino que a executa ou, por último, o visitante que [a] testemunha, quando é apresentada”, lê-se na apresentação.

Esta é a terceira vez que a exposição é retomada, depois de uma primeira versão, concebida a propósito da documenta 14, em 2017, onde tomou a forma de dois acontecimentos separados: um em Atenas, na altura da crise da dívida soberana grega, e o outro em Kassel, na Alemanha, na célebre exposição de arte contemporânea.

A forma como “Collective Exhibition for a Single Body — The Private Score” agora se apresenta em Lisboa resulta porém da encomenda da Coleção Kontakt para apresentação em Viena, em 2019, e no festival Playground, em Lovaina, na Bélgica, no mesmo ano.

“A transmissão dos gestos e a mediação das posturas iniciadas pelos artistas dos antigos países socialistas reunidos na ‘Exposição Coletiva para um Único Corpo — A Composição Privada’ (Lisboa, 2021) requerem uma atenção especial ao contexto no qual os movimentos são reproduzidos. Esta participação simultaneamente sensual e intelectual implica conectar estas ações com os corpos sociais e o ambiente cultural que as acolhe”, lê-se na apresentação.

Segundo as Galerias Municipais, esta terceira montagem foi originalmente concebida para ter lugar na Rua do Poço dos Negros, e nas zonas adjacentes do bairro da Misericórdia. Mas as regras para contenção da pandemia impediram porém essa montagem e consequente “criação das ligações históricas e políticas”.

O objetivo era congregar a referência à crise atual, provocada pela Covid-19, com a história colonial, associada à carta régia de 1515 e à construção de um poço para depósito dos corpos de escravos mortos, tendo ainda em conta acontecimentos mais recentes, atuais, como o interesse de investidores, o turismo e o desenvolvimento de “um paraíso” de alojamento local, que expulsou os residentes para a periferia.

“Exposição Coletiva para um Único Corpo — A Composição Privada” ganhou assim lugar “em torno do modernista complexo dos Coruchéus, em Alvalade, e nos jardins da Galeria Quadrum, com um grupo de ‘performers’ locais: Luiza da Silva Gabriel, João dos Santos Martins, Adriano Vicente”, adianta a apresentação da mostra.

Os ‘performers’ são orientados pelo artista e coreógrafo Manuel Pelmus, e acompanhados por Jack Hauser. As ‘performances’, com uma duração de 45 minutos, terão início às 14h, 15h30 e 17h, nos dias 16, 17, 18, 22, 23, 24, 25, 29 e 30 de setembro, e 1, 2, 7, 8 e 9 de outubro.

“A Composição Privada” foi encomendada pela Coleção Kontakt e coproduzida pelo centro de coreografia e performance contemporânea Tanzquartier Wien.

Um livro-guia, concebido pela Atlas Projectos, acompanha a mostra, que tem apoio da Kontakt Collection, do Instituto Francês de Portugal, do Office for Contemporary Art Norway, da Embaixada da Áustria em Lisboa e do Instituto Cultural Romeno.

A Galeria Quadrum funciona das 10h às 13h e das 14h às 18h.