O presidente do PSD classificou esta quinta-feira como “um escândalo” a fuga do ex-banqueiro João Rendeiro, que acusou de sujeitar o sistema judicial a “um vexame”, lamentando que o Governo “não queira mudar nada na Justiça.

“Não podemos naturalmente responsabilizar o Governo por essa fuga, que é da inteira responsabilidade do sistema judicial. Deve ser esmiuçado, para perceber porque é que o sistema judicial sujeita Portugal a um vexame desta natureza, senão estamos a correr o risco de outros casos análogos acontecerem“, alertou Rui Rio, em declarações aos jornalistas no parlamento, no final da reunião da bancada do PSD.

No entanto, o presidente do PSD considerou que, “não sendo diretamente responsável por este caso”, o executivo tem a sua quota-parte de responsabilidade por não querer fazer ou sequer conversar sobre qualquer reforma da Justiça, que os sociais-democratas já propuseram.

“É preciso muito descaramento para dizer que nós não temos propostas, quando foi entregue em mão um livrinho de propostas para a reforma de justiça por mim aos diversos líderes parlamentares da anterior legislatura“, afirmou. Para Rio, “ideias não faltam”, apenas vontade de as concretizar.

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Quando nós temos um Governo, um Ministério da Justiça e um primeiro-ministro que não quer mudar, a seguir tem de ser responsabilizado por tudo o que de mal ocorre. A justiça assim não pode continuar”, defendeu.

O ex-presidente do Banco Privado Português (BPP) João Rendeiro, condenado na terça-feira a prisão efetiva num processo por crimes de burla qualificada, diz que não pretende regressar a Portugal por se sentir injustiçado e vai recorrer a instâncias internacionais.

Num artigo publicado no seu blogue Arma Crítica, João Rendeiro revela que já pediu ao advogado para comunicar a decisão à justiça portuguesa e diz que se tornou “bode expiatório de uma vontade de punir os que, afinal, não foram punidos”.

“É uma opção difícil, tomada após profunda reflexão. Solicitei aos meus advogados que a comunicassem aos processos e quero por esta via tornar essa decisão pública”, escreve.

O ex-presidente do BPP, que na terça-feira foi condenado a três anos e seis meses de prisão efetiva num processo por crimes de burla qualificada, lembra que já num outro processo em que tinha sido condenado a pena suspensa por falsificação de documentos e falsidade informática o Tribunal da Relação acabou por tomar uma “decisão inesperada” ao reverter a pena para oito anos de prisão efetiva.

Na origem deste julgamento está a queixa do embaixador jubilado Júlio Mascarenhas que, em 2008, investiu 250 mil euros em obrigações do BPP, poucos meses antes de ser público que a instituição liderada por João Rendeiro estava numa situação grave.

Também neste processo estavam acusados os ex-administradores Paulo Guichard e Salvador Fezas Vital. O primeiro foi condenado a três anos de prisão e o segundo a dois anos e seis meses de prisão.

O tribunal decidiu que os ex-gestores do BPP terão ainda de pagar 225 mil euros por danos patrimoniais e 10 mil euros por danos morais a Júlio Mascarenhas.