O projeto de ampliação do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, está a nascer (novamente) sob a assinatura do arquiteto Álvaro Siza Vieira. O “Edifício Poente” vai ter três pisos, vai permitir mais 40% de área expositiva e será construído no meio de uma clareira, estando “totalmente integrado no Parque de Serralves”. O projeto foi apresentado esta quinta-feira e, desde logo, há uma garantia: “A preocupação pelo espaço e pela vida vegetal de Serralves foi algo que esteve sempre presente”, refere Ana Pinho, presidente da Fundação de Serralves.

Com uma área bruta de 4.204 metros quadrados, o novo edifício vai localizar-se na parte poente do Museu e será ligado ao edifício atual através de uma galeria elevada (uma ponte), “não obstruindo a via existente entre os dois edifícios”. O acesso será feito através da receção que já existe no edifício. Até porque, explica Ana Pinho, “era fundamental que este espaço fosse operável a partir do atual edifício, porque em termos de operação é mais fácil e porque também permite uma operação com menos custos”. Haverá três pisos: uma cave e dois pisos de exposição.

A maquete do “Edifício Poente” do Museu de Serralves, desenvolvida por Álvaro Siza Vieira

Ao contrário das galerias do atual edifício do Museu, refere Siza Vieira, as salas de exposição do “Edifício Poente” serão interligadas e haverá uma dupla funcionalidade: “A configuração das salas tem continuidade, mas todas estas divisões são não estruturais, o que garante alguma flexibilidade e que, a qualquer momento, seja possível tirar as paredes divisórias e colocar uma exposição a funcionar autonomamente”, explica o arquiteto, que foi também o autor do projeto do Museu de Serralves, em 1999.

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O novo espaço vai servir para aumentar o espaço das áreas expositivas, sobretudo da Coleção de Serralves e da Arquitetura (que vai ter um espaço próprio), e também para ter mais áreas de arquivo e de reserva de coleções e acervos. O museu passa de 4.484 m2 de área expositiva para 6.280 m2. Esta necessidade de ampliação do atual museu surgiu face ao aumento do número de visitantes, das atividades realizadas, do reforço constante do espólio e também da vontade em ter um espaço de exposição permanente para a Coleção de Serralves — “a alma do museu”.

Mais de duas décadas passadas da abertura do Museu e três décadas depois da abertura da Fundação, a ampliação do Museu é absolutamente fundamental para Serralves manter a dinâmica que pretende e para se tornar cada vez mais relevante no contexto nacional e internacional”, explica Ana Pinho.

Uma das grandes preocupações que se geraram com esta construção, sobretudo por parte do Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Lordelo do Ouro-Grupo Ecológico —  foi a preservação da área verde envolvente do Parque de Serralves. Siza Vieira explica que essa preocupação acabou por definir o caráter do edifício. “O edifício ocupa uma grande clareira no meio da zona arborizada e, portanto, há um cuidado especial em relação a isso”, referiu, sendo que grande parte das árvores se localizam nos extremos e cercam a clareira.

Segundo o arquiteto, a obrigatoriedade em ir de encontro a esta preocupação obrigou a “mexer o corpo do edifício para não ferir determinadas árvores, mas ao mesmo tempo “deu autenticidade, razão de ser à forma do edifício”. Ainda assim, Ana Pinho informa que o projeto vai implicar a transplantação de 13 árvores, “mas não abater”, apesar de a legislação o permitir. “Decidiu-se também utilizar uma técnica de construção especial que permite proteger a vegetação e as árvores. Isso encareceu bastante o projeto, mas nós consideramos fundamental para fazê-lo, para proteger o Parque”, acrescentou a responsável.

O concurso público para a ampliação do Museu de Serralves foi publicado a 27 de setembro em Diário da República e tem um valor base de 8,2 milhões de euros, devendo estar concluído até junho de 2023.