Está praticamente aberta a época de eleições antecipadas. Pelo menos, é assim que os partidos estão a ler a situação — que Marcelo Rebelo de Sousa já confirmou ser o seu desejo — e, no caso do Bloco de Esquerda, a preparar os militantes, alertando-os desde já para o discurso de campanha que o PS fará e para os possíveis apelos a uma maioria absoluta.

Numa mensagem enviada por e-mail aos militantes e assinada por Catarina Martins, a coordenadora do Bloco começa por resumir o estado da arte e culpar por isso o PS, que terá “conduzido o país a uma situação de crise política que resultará certamente em eleições legislativas antecipadas”, “com o auxílio do Presidente da República”.

A preocupação da direção bloquista passa agora por avisar os militantes para os perigos do discurso de António Costa, a começar pela culpabilização do Bloco por ter contribuído para chumbar o Orçamento e a acabar no apelo ao voto útil.

“Nas próximas semanas, ouviremos António Costa lamentar o fim da geringonça“, explica a líder do Bloco. “Ao mesmo tempo, apelará a uma maioria absoluta que permita ao PS recusar por mais quatro anos a recuperação de direitos que a esquerda pretende. Em vez de cálculos eleitoralistas, o Bloco enfrenta as escolhas mais difíceis a partir da consistência do seu compromisso“, argumenta.

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Numa série de justificações, a mensagem explica os “bloqueios” do processo negocial do Orçamento e garante que o Bloco tem “consciência” de que cumpriu o seu compromisso — “negociar, sem intransigência nem capitulação” — e por isso não “abdica” das suas prioridades (leis laborais, pensões e SNS).

Assumindo frontalmente o “período eleitoral que se avizinha” como um “exigente desafio”, a coordenadora do partido explica que nos próximos dias e semanas o partido terá de se lançar aos processos pré-eleitorais: debater o programa, escolher candidatos e calendários.

E volta a insistir: “Não desejámos estas eleições mas enfrentamo-las de peito aberto, com a segurança das nossas razões”. Para o fim fica um link que promete dar aos militantes “toda a informação sobre o processo orçamental”, numa altura em que o Bloco sabe que deverá enfrentar duras críticas por ter chumbado este Orçamento, o que deverá mesmo acabar por levar a eleições antes de tempo — do lado do PS, é no partido de Catarina Martins que já se têm concentrado as maiores críticas.

Ana Catarina Mendes: “Espero que os portugueses votem maioritariamente no PS”

Na quarta-feira, minutos antes de ver o documento chumbado, Costa já ensaiava o discurso eleitoral, pedindo uma “maioria reforçada, estável e duradoura”. Esta quinta-feira, ao Observador, Ana Catarina Mendes clarificava: os portugueses devem, apelava, votar “maioritariamente no PS”.