Decorre, até ao próximo dia 12 de Novembro, a 26.ª Conferência das Partes (COP26) das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. Agora imagine que os participantes nesta convenção optavam por se deslocar até Glasgow, na Escócia, num meio de transporte altamente poluente, como um jacto privado, por exemplo. Atendendo ao propósito do encontro, não faria grande sentido, certo? Seria quase tão estranho, ou incoerente, como conceber um comboio eléctrico para poluir menos e depois usá-lo para transportar carvão, a matéria-prima mais poluente que pode ser usada para alimentar centrais eléctricas… Mas a China tem outra perspectiva acerca desta matéria.

Este país asiático, que é uma das maiores potências económicas do mundo, não só não se fez representar na COP26 pelo seu presidente Xi Jinping, como não se compromete a acabar com as centrais eléctricas a carvão e a não construir novas, como outros 190 países o fizeram – excepto Índia, Estados Unidos e Austrália.

Biden criticou a ausência do líder chinês na COP26, tal como apontou o dedo a Vladimir Putin, e a resposta asiática não tardou a chegar através do porta-voz do Ministério das Relações Externas da China. Wang Wenbin defendeu que fazer é mais importante do que dizer.

O que precisamos para travar as alterações é de medidas concretas, em vez de palavras vazias”, atirou, para depois realçar que “as acções da China em resposta às alterações climáticas são reais.”

E são, na medida em que o país aposta na inovação para crescer e, por essa via, conseguiu desenvolver o seu primeiro comboio eléctrico accionado por electricidade gerada a bordo com recurso a uma célula de combustível a hidrogénio. Esta tecnologia é, sem dúvida, uma das formas mais sustentáveis de fazer evoluir o transporte ferroviário, sobretudo se o hidrogénio for “verde”, isto é, produzido a partir de fontes renováveis. Sucede que o projecto chinês que agora está em testes se destina a fazer deslocar carvão – a forma mais poluente, mas também a mais barata de gerar electricidade e, com isso, alavancar a industrialização. Daí que a China, a Índia e até mesmo os EUA se recusem a perder esse factor de competitividade, pese embora a opção económica prejudique o ambiente e a qualidade do ar que se respira.

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O projecto do comboio eléctrico chinês a fuel cell é o resultado de um trabalho conjunto que envolve a State Power Investment Corporation (SPIC), a CRRC Datong e a Hydrogen Energy. A primeira é a “usufrutuária” e também a proprietária da linha ferroviária onde decorrem os testes, linha essa que não careceu de qualquer alteração para a circulação do comboio projectado pela Datong, com base num sistema de pilha de combustível a hidrogénio criado pela Hydrogen Energy.

O comboio eléctrico chinês a fuel cell, carregado de carvão, vai efectuar o transporte desta matéria-prima ao longo dos 627 km que separam a mina de Baiyinhua, na Mongólia Interior (região autónoma no norte da China), e o porto de Jinzhou, na província de Liaoning, no nordeste da China.

De acordo com a Datong, este comboio circulará a uma velocidade máxima de até 80 km/h e, com o reservatório de hidrogénio atestado, pode circular durante mais de um dia (24,5 horas) entregando uma potência contínua de 700 kW, o que lhe permite anunciar que a carga máxima pode chegar às 5000 toneladas, em troços em linha recta. Com esta solução nos carris, o transporte de carvão pode ser efectuado reduzindo as emissões de carbono em cerca de 80 kg por 10.000 toneladas/quilómetro. Ou seja, baixando as emissões no transporte de carvão em cerca de 96.000 toneladas/ano, face aos comboios a gasóleo.