O presidente executivo da Ryanair acredita que a companhia aérea low-cost vai ultrapassar a TAP no número de passageiros em 2022 — isto se “já não ultrapassou em 2021” — prevendo chegar aos 13,5 milhões de passageiros no próximo ano. Michael O’Leary voltou a pressionar o Governo para que se apresse na abertura do aeroporto do Montijo e que ponha um “ponto final à acumulação de slots” (as faixas horárias que podem ser usadas pelas companhias para descolar ou aterrar nos aeroportos) pela TAP.

Numa conferência de imprensa esta segunda-feira, Michael O’Leary apontou várias vezes à TAP. Aliás, não perdeu muito tempo. Depois de ter chegado 45 minutos atrasado ao hotel em Lisboa para o encontro com jornalistas, não resistiu a começar com uma piada: “Peço desculpa pelo atraso. Gostaria de ter uma desculpa engraçada de um atraso de um voo da TAP, mas infelizmente houve um atraso num voo da Ryanair devido ao frio”, atirou.

Pelas contas da low-cost, a transportadora nacional vai ficar pelos 11,5 milhões de passageiros em 2022 de e para Portugal, enquanto a Ryanair espera chegar aos 13,5 milhões de passageiros. “Seremos maiores do que a TAP com zero ajudas estatais“, disse O’Leary.

O homem forte da Ryanair voltou a insistir que a TAP liberte slots — deve libertar, pelo menos, 250 por semana, defende — que não usa no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Se a Ryanair pudesse ter acesso a mais slots, O’Leary acredita que a low-cost poderia “ter mais 40 destinos a partir de Lisboa amanhã” (atualmente, voa para cerca de 60 sítios a partir da capital) e acrescentar quatro aeronaves à frota de Lisboa a partir de janeiro.

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Michael O’Leary acusa, aliás, o Governo de estar “distraído” com as eleições legislativas de janeiro porque só isso, considera, explica que “o ministro das Infraestruturas ou o ministério com a pasta do Turismo” permitam que a transportadora nacional continue a bloquear slots que não opera. “Pelo menos deem a alguém que os vá operar.”

Ryanair diz que TAP “bloqueia slots em Lisboa que não irá utilizar”

O empresário irlandês diz que a TAP continua a cancelar 30% dos seus voos, em particular a partir de Lisboa, “geralmente” com uma ou duas semanas de aviso prévio, impedindo outras companhias de se organizarem para operar nessas faixas horárias. Os slots são as faixas horárias que podem ser usadas pelas companhias para descolar ou aterrar nos aeroportos. São limitados pelo número de pistas e valiosos para as companhias, já que se os perderem, podem, como consequência, perder negócio.

O’Leary pede ainda que o aeroporto do Montijo seja acelerado, acusando o Governo de “continuar a adiar” a estrutura.

Sobre os processos movidos pela Ryanair no Tribunal Geral da União Europeia contra as ajudas estatais à TAP, O’Leary diz que já lhes perdeu a conta e garante que vai continuar a contestar os apoios enquanto não houver o que chama de “concorrência real” no aeroporto de Lisboa. “Sempre que há um pedido de ajuda europeu para as ajudas públicas há uma objeção da nossa parte. Nós não nos opomos a ajudas estatais como princípio. Simplesmente dizemos que para a ajudar estatal avançar, tem de haver mais concorrência em Lisboa”, afirmou.

Um dos argumentos do CEO da Ryanair para convencer o Governo a responder às reivindicações é que os voos de longa distância ainda estão, na opinião da low-cost, longe de recuperar. Os passageiros europeus que “historicamente” viajavam para Bali ou para as Caraíbas vão preferir destinos na Europa, que podem ser operados pela Ryanair. “Há uma oportunidade real aqui. Passageiros que faziam voos de longa distância agora vão ficar na Europa, no verão de 2022 e talvez no verão de 2023. É importante trazermos esses passageiros para Portugal.”

Ryanair assume preocupação com nova variante

O’Leary admitiu preocupação com a nova variante, mas considera que o cancelamento de voos ou a exigência de teste negativo quando o passageiro está vacinado não se justifica. Mas garante que a companhia aérea vai cumprir com todas as medidas que forem impostas pelo Governo, nomeadamente o teste negativo obrigatório para entrar em Portugal. Ainda assim, não foram cancelados voos da companhia.

“Estamos preocupados, mas achamos que uma atitude imediata como a de Marrocos de proibir todos os voos nas próximas duas semanas é demais. Não vemos o que podemos ganhar com banir a entrada de pessoas que estejam vacinadas ou tenham um teste negativo”. Em alternativa, defende, “devíamos estar a testar toda a gente que viesse da África do Sul”.

Apesar destes receios, o empresário vê uma recuperação “muito significativa” no tráfego aéreo para Portugal para o verão de 2022.

Multas por não pedir certificado? “Pagamos muito menos do que outras companhias”

Questionado sobre se a Ryanair já teve de pagar multas por não cumprir com as regras em Portugal que atualmente obrigam à apresentação de um certificado de vacinação ou um teste negativo, O’Leary garante não ter conhecimento de números concretos.

“Acho que não tivemos [de pagar multas]. Pode ter havido alguma, mas somos muito implacáveis no check-in e na porta de embarque a perguntar às pessoas pelo certificado”, afirmou. Não assegura que nunca tenham existido multas, mas acredita que a Ryanair “paga muito menos multas do que qualquer outra companhia aérea porque somos muito rigorosos. Nós não deixamos que uma pessoa faça check-in sem introduzir o certificado de vacinação”.

O mote da conferência de imprensa foi o anúncio da “maior programação de verão” da Ryanair, com a introdução de 17 novas rotas a partir de Lisboa, Porto, Faro, Ponta Delgada e Madeira (onde já tinham anunciado uma nova base).

Taxa de carbono é “parva”, apelida O’Leary

Na lista de reivindicações da Ryanair está ainda o fim da taxa de carbono de dois euros por passageiro nas viagens aéreas, que O’Leary apelida como “parva” [silly] e que, diz, serve para “subsidiar comboios”. O CEO da companhia aérea irlandesa voltou a insistir que as ajudas de 3 mil milhões para a TAP são um “desperdício” semelhante a “deitar dinheiro pela sanita da TAP”, que “poderia estar a ir para escolas e hospitais portugueses”.

Questionado após a conferência sobre o futuro da companhia aérea portuguesa, Michael O’Leary defende que se torne mais pequena e, uma vez que “falhou” nos voos de curta distância, aposte nos de longa distância, nomeadamente a partir do Brasil. Mais: devia “encontrar forma de formar uma aliança” com companhias como a British Airways ou a Iberia, mas não a Lufthansa — “seria uma perda de tempo”.