Até esta segunda-feira era apenas um rumor (muito forte, fortíssimo, mas um rumor não confirmado), desde essa manhã que se tornou uma certeza. O Manchester United parecia ter um plano A, B e C para a saída de Solskjaer mas acabou por optar por uma espécie de solução D nesta fase. D ou R, de Ralf Rangnick, aquele que foi escolhido para fazer a ponte até ao final da época, estabilizar a equipa, esperar pela melhor opção no sentido de abrir um novo ciclo no comando técnico e depois passar para outro cargo na estrutura do clube. Em condições normais, o alemão que estava agora como diretor desportivo do Lokomotiv Moscovo estaria já no comando dos red devils mas um atraso no visto manteve o interino Michael Carrick no cargo. E, mesmo sabendo que não continuaria no lugar, tendo já o seu sucessor a acompanhar o encontro de forma atenta num dos camarotes do Teatro dos Sonhos, a margem de erro era nula no clássico com o Arsenal.

Jogar recuado, pensar pequeno e dar uns balões para a frente à procura do erro: a fórmula para o United empatar fora com o Chelsea

“É óbvio que se trata de um grande privilégio para mim orientar ainda um jogo entre o Manchester United e o Arsenal, nunca imaginei em qualquer fase que fosse possível. Estar nesta posição traz um grande orgulho e responsabilidade. Sou um fã, toda a minha família é do United, estar neste lugar é um bom feeling. Não me posso esquecer que só estou aqui devido ao que aconteceu com o Ole [Gunnar Solskjaer] mas tento não estar a pensar nisso. Tudo o que interessa são os jogadores, a equipa e conseguir o resultado. Jogo que foi mais vezes disputado na história do clube? Estive envolvido em alguns, já antes acompanhava e traz sempre uma sensação diferente. São os jogos grandes que queremos”, comentou Carrick aos canais do clube.

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O ex-médio do Manchester United, que deixou de jogar em 2018 após mais de uma década em Old Trafford, passou de imediato para os quadros técnicos, trabalhou na equipa de José Mourinho e ficou depois com o norueguês até à sua saída. Mesmo estando a prazo, nem por isso tentou de dar um cunho pessoal às opções iniciais que ia lançando, deixando Bruno Fernandes no banco até meio da segunda parte no encontro com o Villarreal (e quando o médio entrou ganhou aos espanhóis) e mais tarde Ronaldo, na partida em Stamford Bridge com o Chelsea (empate a um). Nos resultados funcionou, nas exibições nem por isso. E era com a intenção de conciliar ambas que iria fazer o último jogo em casa como técnico principal, fazendo antes uma defesa do número 7 a propósito da capacidade que também tem para ajudar sem bola.

“Isso talvez seja um mito, talvez seja mesmo isso. O Cristiano jogou em equipas suficientes ao longo dos anos e teve sempre grande sucesso. Foi capaz de jogar de várias formas diferentes e continuou a marcar golos em todas as equipas. É isso que vai continuar a fazer, a marcar golos. Não tenho dúvidas disso. Suplente com o Chelsea? Há muitas coisas que temos de tomar em consideração quando escolhemos uma equipa. Alguns jogadores trazem umas coisas, outros trazem outras. E há uns mais frescos, mais cansados, mais táticos, com mais personalidade, caráter. Parece que foi uma grande coisa mas para nós não foi, podem pergunta ao Cristiano”, explicou, citado pelo The Guardian. Frente ao Arsenal, Ronaldo e Bruno Fernandes voltaram a ser titulares em simultâneo e fizeram também o resultado, no dia do golo 800 do avançado como sénior entre clubes e Seleção e do jogo 100 do médio que quebrou uma longa série de encontros sem marcar.

Os gunners, motivados com uma série de uma derrota em 12 jogos depois dos três desaires consecutivos com que abriu a temporada (e um saldo de 0-9 nos golos…), demoraram menos de um minuto para ganharem o primeiro canto do encontro e criarem depois perigo por Ben White. Mesmo sem conseguir um domínio claro, o Arsenal estava mais confortável na partida, sofrendo apenas um calafrio quando Thomas Partey perdeu a bola em zona proibida mas Ronaldo arriscou o remate com melhores soluções ao lado (10′). O golo estaria prestes a surgir e com muita polémica à mistura: De Gea pisou Fred, fez uma entorse, ficou caído no chão, o árbitro não parou o jogo e Smith Rowe rematou para a baliza de fora da área. Numa primeira instância dava ideia que Martin Atkinson tinha apitado antes mas, ao não acontecer, o lance foi mesmo validado (13′).

Os red devils voltavam a ser obrigados a ir atrás do resultado, não tendo ainda assim a qualidade ofensiva de outrora na procura do golo. Ronaldo, numa jogada individual da esquerda para o meio, atirou fraco para defesa de Ramsdale (18′), Maguire arriscou o remate de longe por cima (25′), o mesmo Maguire, de novo no seguimento de uma recuperação na zona de construção contrária, voltou a tentar para as mãos do guarda-redes do Arsenal (37′). O intervalo estava à porta com o Arsenal na frente mas não há mal que dure sempre e Bruno Fernandes quebrou uma série de nove jogos sem marcar no dia em que atingiu as 100 presenças no clube inglês em menos de dois anos, atirando de primeira após assistência de Fred (44′). Ao todo, e desde o início de fevereiro de 2020, o internacional português leva 45 golos e 34 assistências.

O descanso chegava com mais um lance polémico na área do Manchester United, neste caso com Maguire a fazer uma falta que passou ao lado de Atkinson e do VAR. No entanto, a segunda parte seria ainda melhor do que a primeira, começando com duas ameaças junto das balizas e outros tantos golos: primeiro foi Dalot a recuperar, a lançar rápido na frente Rashford pela direita, o inglês a cruzar atrasado e Ronaldo a rematar de primeira para o 800.º golo como sénior (52′); apenas dois minutos depois, o Arsenal de Nuno Tavares, que voltou a ser titular, chegou ao empate com Martinelli a centrar também para o tiro na passada e Martin Ödegaard a fazer o 2-2 colocando no poste contrário sem hipóteses para David de Gea (54′).

Voltava tudo à estaca zero, voltava tudo a passar pelos pés de um jogador que muitas vezes não dá nas vistas mas que é dos mais importantes do Manchester United: Fred. E foi o internacional brasileiro que conseguiu mais uma vez aparecer na área para criar desequilíbrios, sofrendo uma grande penalidade de Ödegaard que Ronaldo converteu ao meio da baliza para dar a vitória ao conjunto da casa (70′), apesar da boa reação do Arsenal que teve em Aubameyang o maior perdulário da noite com dois falhanços na cara de De Gea. E ainda houve a habitual invasão de campo da ordem, sempre à procura do mesmo: Cristiano Ronaldo. O triunfo estava assegurado e os red devils subiam ao sétimo lugar a três pontos da zona Champions.