A economia portuguesa vai crescer 4,8% em 2021 e 5,8% em 2022, antecipa o Banco de Portugal no Boletim Económico divulgado esta sexta-feira. A estimativa para 2022 é um pouco mais otimista do que tinha sido projetado em junho – 5,6% –, um “crescimento forte” que vem na sequência da “queda histórica em 2020 (-8,4%)”, salienta o supervisor financeiro liderado por Mário Centeno. Após 2022, porém, a taxa de crescimento vai desacelerar, diz o Banco de Portugal, que garante que não vê pressões inflacionistas em Portugal a formarem-se através do aumento dos salários, embora a subida do salário mínimo prevista traga alguma preocupação.

“Ao longo do restante horizonte de projeção [que vai até 2024], o ritmo de expansão será mais moderado em 2023 e 2024 (3,1% e 2,0%)“, salienta o Banco de Portugal, que afirma que “o Produto Interno Bruto (PIB) retoma o nível pré-pandemia na primeira metade de 2022”. Além disso, confirmando-se estas projeções, “em 2024, a atividade económica situar-se-á cerca de 7% acima de 2019, implicando perdas contidas face à tendência projetada antes da pandemia“.

O Banco de Portugal tinha divulgado a 6 de outubro a última edição do Boletim Económico mas, por se estar muito perto da apresentação da proposta de Orçamento do Estado (que viria a ser chumbada), esse documento não continha previsões atualizadas para a economia em 2022. Nessa altura, continuou, portanto, a valer a estimativa de um crescimento de 5,6% (para 2022) que tinha sido feita em junho.

A trajetória de crescimento é suportada pela manutenção de condições financeiras favoráveis e pela aplicação de fundos da União Europeia. No curto prazo, a atividade é condicionada por uma nova vaga da pandemia na Europa e pelos problemas nas cadeias de fornecimento globais”, diz o Banco de Portugal, em comunicado de imprensa.

As previsões divulgadas pelo Banco de Portugal para 2022 igualam as mais otimistas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que também aponta para um crescimento económico de 5,8%, e superam as do Governo, que espera 5,5%.

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A Comissão Europeia aponta para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,3% e o Conselho das Finanças Públicas (CFP) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) são as entidades mais pessimistas, esperando uma subida de 5,1% face a 2021.

Inflação revista em alta mas, ainda, contida

No que diz respeito à inflação, que ainda na quinta-feira foi revista em alta para a zona euro (pelo BCE), o Banco de Portugal mantém a expectativa de pressões inflacionistas comparativamente contidas, apesar de haver revisões em alta em relação ao que tinha sido antecipado.

“Projeta-se que a inflação aumente em 2021 e 2022, para 0,9% e 1,8%, respetivamente, fixando-se em 1,1% e 1,3% nos dois anos seguintes, com uma evolução muito influenciada pela componente energética”, afirma o Banco de Portugal, notando que “a projeção para a inflação foi revista em alta ao longo do horizonte face ao Boletim de junho, destacando-se a revisão em 2022 (0,9 pontos percentuais)”, ou seja, a revisão foi para o dobro.

BCE duplica inflação prevista em 2022, de 1,7% (estimados em setembro) para 3,2%. Mas continua a garantir que inflação é “transitória”

O Banco de Portugal acrescenta que “a recuperação da economia traduz-se num aumento do emprego e numa redução da taxa de desemprego para níveis melhores que os pré-pandémicos”. “Em 2021, o emprego sobe 2,5%, projetando-se crescimentos de 1,6% em 2022 e de 0,4%, em média, no período 2023-24. Após
o aumento ligeiro em 2020, a taxa de desemprego reduz-se, atingindo 5,6% em 2024”, nota o supervisor.

Consumo privado cresce 5% (e desacelera pouco em 2022)

O supervisor sublinha que “na sequência da não aprovação da Proposta de Orçamento do Estado para 2022, as hipóteses de finanças públicas assumem, no essencial, um cenário de políticas invariantes”.

Na estimativa feita pelo Banco de Portugal, “o consumo privado cresce 5% em 2021 e 4,8% em 2022″. Só nos anos seguintes haverá uma desaceleração, baixando para 1,8% em 2024. “Esta evolução é sustentada pelo crescimento do rendimento disponível real, por condições financeiras favoráveis e pela acumulação de riqueza ao longo da crise”, diz o supervisor, que também prevê que “a taxa de poupança reduz-se em 2021-22, após ter atingido 12,8% em 2020”.

Fonte: Banco de Portugal

Por outro lado, o consumo público deverá crescer 4,8% em 2021, acelerando face ao ano anterior, e apresentar um crescimento mais moderado no período 2022-24″. Irá crescer, no próximo ano, apenas 1,4%, segundo as previsões do Banco de Portugal que podem ser vistas em maior detalhe na tabela acima.

O Banco de Portugal antecipa, também uma aceleração das exportações em 2022 para 12,7%, depois dos 9,6% de 2021. As importações, por seu turno, devem desacelerar de um crescimento de 10,3% em 2021 para 9,3% em 2022.

“Subida do salário mínimo pode ter impacto negativo” por fazer subir a inflação

Estas projeções para a economia têm riscos positivos e negativos: os riscos negativos para a atividade económica incluem um potencial “agravamento da pandemia” e, por outro lado, é um risco positivo a possibilidade de haver uma “utilização de parte da riqueza acumulada pelas famílias durante a pandemia”.

Já os riscos para a inflação, estes são ambos no sentido de poder ser mais alta do que o previsto. Pode haver uma “maior transmissão dos custos de produção aos preços no consumidor” e, por outro lado, maiores “pressões sobre os salários” (no sentido de eles subirem mais do que o previsto, na negociação laboral, devido às expectativas de inflação).

A este respeito, Mário Centeno afirmou na conferência de imprensa de apresentação do boletim económico que “a inflação em Portugal tem tido uma trajetória mais tímida do que na área do euro”. “Ainda assim os preços deverão crescer mais em 2022 do que o que cresceram em 2021”, afirmou o governador do Banco de Portugal, acrescentando que “devemos ter obviamente alguma preocupação sempre, com essa dimensão, porque sabemos quão negativo é para a atividade económica e para as famílias” haver inflação acima de 2%.

E, aqui, “é evidente que os salários são sempre uma fonte de preocupação no sentido da dinâmica que possam incutir aos preços”. Mas “nós não vemos essa dinâmica a acontecer nem na área do euro nem em Portugal“. “Porém, como é função de qualquer banco central é importante sinalizar as possíveis fontes de pressão dessa ordem e a evolução no salário mínimo pode ter um negativo nesse sentido“, afirmou Mário Centeno.

No boletim económico também se lê que “os riscos para a inflação são enviesados em alta. Estes riscos decorrem sobretudo da possibilidade de uma maior  transmissão dos aumentos dos preços das matérias-primas e dos bens intermédios aos preços no consumidor”. Também se diz que “a subida recente da inflação, a par das dificuldades de recrutamento em alguns setores, pode também implicar pressões mais fortes sobre os salários do que as consideradas na projeção e “eventuais aumentos do salário mínimo em 2023-24 constituem também um risco em alta para a inflação“.