Não é fácil muitas vezes encontrar pontos de contacto entre gerações de um clube, neste caso do FC Porto. Porque uns ainda se recordam daqueles dois Campeonatos no final da década de 50, porque outros viram jogar aquela geração dos anos 80 que conseguiu os primeiros títulos internacionais incluindo as ainda hoje únicas no país Taça Intercontinental e Supertaça Europeia, porque outros apanharam apenas o período de ouro de José Mourinho, porque outros recordam a época fabulosa com André Villas-Boas. Podem trocar-se memórias, podem contar-se histórias, mas nunca será a mesma coisa. No entanto, há algo que junta todas as gerações no Estádio do Dragão: o hino do clube. Porque esse, nas Antas ou no Dragão, está lá sempre.

Alguns poderiam até nem saber o nome de quem interpretava quer o hino, quer a marcha. A voz que dá força à letra, essa, todos conheciam. E foi a voz que se deixou de ouvir esta terça-feira, deixando o clube azul e branco de luto. Morreu Maria Amélia Canossa, intérprete do hino do FC Porto. Tinha 88 anos.

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“Nascida no seio de uma família portista em outubro de 1933, a Princesa da Rádio começou a frequentar as bancadas do Campo da Constituição com apenas seis anos, pela mão do pai e do avô, em tempos bem diferentes da história do FC Porto. Pouco depois, ainda muito jovem, começou a colaborar com a Rádio Clube do Norte e deu início a uma carreira intrinsecamente ligada à grande paixão da sua vida. No equador do século XX deu a cara e a voz nos espetáculos de angariação de fundos para a construção do Estádio das Antas – que tiveram lugar na nave central do Palácio de Cristal – e foi aí que germinou a Marcha do FC Porto, de que também é intérprete. O ex-libris do seu repertório musical viria a surgir praticamente de imediato”, explicou o clube numa nota deixada no site oficial esta terça-feira à noite.

“Numa entrevista concedida em 2009 levantou o véu sobre o nascimento de uma obra-prima: ‘Queria um hino que, aos primeiros acordes, fosse um hino vencedor. Que até os jogadores, ao entrarem em campo, sentissem um impulso que lhes desse força e um hino que transbordasse poder’. Assim foi”, referiu.

“Graças à preciosa colaboração do poeta Heitor Campos Monteiro e do compositor António Figueiredo e Melo, Maria Amélia Canossa estreou-se a entoar o hino do FC Porto com apenas 18 anos, em pleno Coliseu, e logo mereceu uma ovação de pé da plateia. Voltaria a cantar na inauguração das Antas, poucas semanas volvidas, para gáudio da multidão ali presente. O sucesso da sua maior criação é tão grande que os anos passam e o hino mantém-se intacto. Em vésperas de se assinalarem sete décadas desde o lançamento dos acordes da vida de Maria Amélia Canossa e do FC Porto, a cantora desaparece para tristeza de todos aqueles que – como a própria – amam o clube”, concluiu o mesmo texto.