Até esta quarta-feira, a intenção de Gianni Infantino de passar a ter um Campeonato do Mundo de dois em dois anos assentava na vontade de estimular a competitividade, encontrar vias adicionais de receita e reformar o futebol tal e qual como o conhecemos. A partir desta quarta-feira, Gianni Infantino acrescentou a essa intenção uma linha de raciocínio que dificilmente lhe trará elogios: a vontade de resolver a crise migratória.

Durante um discurso numa sessão da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, em Estrasburgo, o presidente da FIFA defendeu que os planos de realizar um Mundial de dois em dois anos podem impedir que os migrantes provenientes de África encontrem “a morte no mar”. “Este assunto não é sobre o facto de querermos um Mundial a cada dois anos, é sobre o que queremos para o futuro do futebol. Se pensarmos no resto do mundo e na grande maioria da Europa, então temos de pensar naquilo que o futebol traz. O futebol é sobre oportunidade, sobre esperança, sobre seleções nacionais. Não podemos pedir ao resto do mundo que nos dê dinheiro para depois nos ver na televisão. Temos de os incluir”, começou por dizer Infantino.

Futebol português contra Campeonato do Mundo de dois em dois anos

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“Precisamos de encontrar maneiras de incluir o resto do mundo para dar esperança aos africanos. Para que não precisem de cruzar o Mediterrâneo à procura de uma vida melhor e, muito provavelmente, acabem por encontrar a morte no mar. Precisamos de dar oportunidades, dar dignidade. Não através da solidariedade mas permitindo ao resto do mundo esta possibilidade de participar. Mas talvez o Mundial de dois em dois anos não seja a resposta. Temos de o discutir”, acrescentou o líder da FIFA, que apresentou a estratégia “O Futuro do Futebol”, que atualmente tem como grande bandeira a maior periodicidade da competição internacional de seleções.

Entretanto, as declarações de Gianni Infantino já estão a provocar ondas de choque: Ronan Evain, diretor executivo da Football Supporters Europe, uma organização sem fins lucrativos que agrega adeptos europeus, foi um dos primeiros a criticar o discurso do presidente da FIFA. “Quão baixo pode descer o Infantino? Instrumentalizar as mortes no Mediterrêaneo para vender um plano megalómano nem tem descrição. Repugnante. Não tem condições para liderar o futebol global”, escreveu no Twitter. A Amnistia Internacional, por outro lado, recordou as violações de direitos humanos que têm sido notícia no Qatar na antecâmara do Mundial 2022. De recordar que a ideia de realizar o Campeonato do Mundo de dois em dois anos, que tem em Arsène Wenger um dos principais defensores, tem sido criticada pela UEFA e pela grande maioria das federações nacionais, dos treinadores e dos jogadores.