Uma derrota com reviravolta no dérbi com o AC Milan, um empate em Nápoles, uma liderança perdida na Serie A tendo a qualificação para as meias da Taça de Itália pelo meio com o triunfo diante da Roma. O Inter voltava aos oitavos da Liga dos Campeões uma década depois num dos momentos mais críticos a nível de calendário interno e com um adversário de peso como o Liverpool, ressurgido das cinzas de uma temporada atípica que foi quase uma “ressaca” (entre muitas lesões na defesa) de duas épocas de conquistas nacionais e europeias. Estilos diferentes, táticas distintas, uma primeira mão que tão depressa podia confirmar a lei do mais forte como abrir a caixinha das surpresas e boas dores de cabeça para Jürgen Klopp.

O melhor ataque também sabe ganhar com um só golito de um médio (a crónica do Burnley-Liverpool)

O jornal Marca chamava-lhe “o sudoku por resolver”. Desde 2017, quando Sadio Mané, Salah e Firmino se juntaram pela primeira vez no Liverpool, que o técnico alemão não abdicava do seu MSF. Foi assim que quebrou o jejum de 14 anos sem vencer a Champions, foi assim que ganhou a Premier League três décadas depois, foi assim que conseguiu mais de 300 golos. No entanto, tudo muda com facilidade no futebol e o que era inquestionável tornou-se um ponto de interrogação com o aparecimento de um Diogo Jota cada vez mais ligado aos golos e recente contratação em janeiro de Luis Díaz ao FC Porto, juntando-se a Origi, Minamino e até ao médio Oxlade-Chamberlain utilizado de quando vez na frente. E com mais três dados: o MSF acaba na totalidade contrato em 2023, está na casa dos 30 ou apresta-se para tal e tem a média com menos golos em conjunto na presente temporada. A dúvida, essa, era quem jogaria na Champions.

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“Este é um clube demasiado grande para depender apenas de uma pessoa e tem de estar preparado para todos os cenários. Trabalhamos para ter opções para o presente e para o futuro do clube. O desenvolvimento inclui introduzir sangue novo e fizemos isso quando chegou o Diogo Jota e agora com a contratação do Luis Díaz”, destacou Klopp. “Renovações? Ainda faltam 18 meses, é muito tempo. Creio que primeiro tentarão renovar com o Mo [Salah] e depois com os outros dois. Confio naquilo que o clube faz”, analisou o antigo defesa e capitão Jamie Carragher. “Klopp aprendeu nas suas primeiras temporadas. Vai rodando alguns jogadores para manter todos felizes e frescos. Como agora tem muitas opções para o ataque, nunca é bem seguro quem joga. E tem conseguido obter resultados com isso”, acrescentou o agora comentador.

Sem tirar nem pôr, foi isso que aconteceu. E este foi talvez o primeiro encontro desta nova era com toda a artilharia pesada disponível para o ataque onde essas soluções fizeram a diferença. Em alguns períodos, o Inter foi um pouco melhor. Durante 15 minutos, o Inter foi muito melhor. Na hora da verdade, o Liverpool foi Liverpool. E quando Klopp tirou o 20 (Jota), meteu o 9 (Firmino), lançou o 23 (Luis Díaz, para o lugar de Sadio Mané) e apostou em manter o 11 (Salah), completou o seu sudoku. A mensagem está dada, para todos os adversários em todas as provas – a capacidade dos ingleses decidirem jogos aumentou e muito.

Os reds entraram melhor em jogo corrido mas criando oportunidades sobretudo de bola parada, os visitados não tiveram tantos remates mas beneficiaram da melhor chance até ao intervalo. Sadio Mané, na sequência de um livre, deixou o primeiro sinal de perigo (14′) antes de Hakan Calhanoglu surgir em boa posição na área após uma transição pela esquerda conduzida por Perisic e rematar com estrondo à trave (16′). Os ingleses acusaram o susto mas voltariam de novo a ter lances com perigo num remate após canto de Mané que foi às malhas laterais (23′) e um livre direto de Alexander-Arnold pouco por cima (29′). O Inter dava boa resposta ao vice-líder da Premier League, tinha boas chegadas mas não concretizava isso em perigo.

O segundo tempo começou com Klopp a trocar Diogo Jota com Firmino mas a ver o Inter cavalgar naqueles que foram os melhores 15 minutos do encontro, criando várias chegadas com perigo à baliza de Alisson e um lance para golo anulado com Dzeko a aparecer nas costas da defesa inglesa mas em posição irregular (60′). Mais uma vez o técnico alemão tinha de mexer na equipa e com a tripla alteração a lançar Naby Keita, Elliott e Luis Díaz conseguiu finalmente efeitos práticos: em apenas dez minutos o colombiano conseguiu mais do que Mané em todo o encontro, mexendo por completo com o ataque do Liverpool que voltou para cima da partida por uns minutos. Depois, dois cantos mudaram tudo: no lado do Inter, Dumfries antecipou-se ao primeiro poste mas desviou ao lado (73′); no lado do Liverpool, Firmino foi mais rápido do que Bastoni ao primeiro poste e, quase de costas, colocou a bola no poste contrário para o 1-0 (75′). Quando era preciso sacudir a pressão, os ingleses deram a resposta. E ainda chegaram o 2-0 pelo inevitável Salah (83′).