Ai, “o” Sheriff. Mas não, afinal era o Sheriff. E a diferença entre ambos era tanta que reforçava o favoritismo do Sp. Braga numa eliminatória onde à partida a primeira grande dificuldade era mesmo a longa viagem.

Se a equipa da Moldávia fundada em 1997 por um antigo agente do KGB foi a grande revelação internacional da temporada, conseguindo pela primeira vez o apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões e fazendo um total de sete pontos num grupo com Real Madrid, Inter e Shakhtar tendo pelo meio a histórica vitória no Santiago Bernabéu, a partir daí “mudou”. Saíram vários jogadores pela grande prestação na UEFA, a competição parou, a equipa teve de procurar outras rotinas para trabalhar devido ao inverno rigoroso. Mais do que um efeito surpresa que se perdeu, não havia tanta matéria para fazer a surpresa. E era isso que o Sp. Braga tentava aproveitar após uma viagem de quatro horas e meia entre o Porto e Chisinau e mais uma ligação de autocarro de 80 quilómetros até Tiraspol com dois controlos fronteiriços pelo meio.

“Eles viram a nossa equipa neste tempo e nós não pudemos ver coisas deles…”, lamentara Carlos Carvalhal antes do encontro, a propósito da paragem das competições no Moldávia. “Só depois de a bola rolar saberemos, temos de fazer o nosso papel. Ser uma equipa com ambição, organizada e sempre de olhos na baliza contrária. O grande objetivo é vencer, é uma equipa que fez sete pontos na Champions, o efeito surpresa já desapareceu e agora existe é um respeito máximo pelo Sheriff. Não joga desde dezembro mas estamos preparadíssimos e com muita vontade de vencer. Desde o último jogo oficial que o Sheriff fez não temos imagens da equipa. Vimos na imprensa e sabemos coisas, que movimentaram jogadores, mas não sabemos tudo. Eles viram a nossa equipa neste tempo e nós não pudemos ver coisas deles…”, acrescentara.

“O Sheriff foi ganhar ao Real em Madid e venceu o Shakhtar. Não podemos fazer a pergunta sobre resolver já a eliminatória, era tirar mérito ao rival que não tem nome mas mostrou muita competência. O Sheriff pensa em passar com legitimidade, nós acreditamos muito na nossa equipa e nos jogadores e na qualidade do nosso jogo. O que acreditamos é que a eliminatória vai ser decidida em Braga. Queremos, se possível, ir com vantagem para Braga, é um duelo de 180 minutos, no mínimo”, salientara na antecâmara daquele que seria o 100.º encontro no comando dos minhotos e sem saudades de Galeno, entretanto vendido ao FC Porto. “Rei morto, rei posto, costuma-se dizer… Temos o Moura que tem estado muitíssimo bem, o Buta também pode jogar aí e ainda temos o Rodrigo Gomes que esteve muito bem no fim de semana…”, explicara.

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Não foi propriamente por ter ou não Galeno que os minhotos perderam mas ficou sempre a ideia que o Sp. Braga é melhor mas que o Sheriff, dentro das dificuldades que agora encontra, não perdeu toda aquela competitividade e capacidade de chegar à baliza contrária. Foi assim que, quando nada o fazia prever, chegou a uma vantagem de 2-0 na segunda mão. Os moldavos procuraram a sua sorte, os arsenalistas não fugiram do azar. E o minuto 82 foi fatídico nesse aspeto, entre a lesão de Roger e o golo de Traoré.

O encontro começou morno e sem grandes pontos de interesse, com Iuri Medeiros a ter a primeira ameaça à baliza com um remate que saiu à figura de Georgios Athanasiadis (10′). E seria preciso chegar quase à meia hora de jogo para se ver a primeira oportunidades flagrante, com Ricardo Horta conseguir chegar primeiro numa bola colocada na profundidade entre a defesa e o guarda-redes mas a ver o desvio desviado depois em cima da linha de golo por um adversário. No entanto, seria o Sheriff a chegar à vantagem, num lance algo esquisito em que a bola entrou mesmo, a jogada foi invalidada por fora de jogo mas o VAR viu uma mão de Castro na área no início do lance, permitindo que o médio luxemburguês Sebastien Thill batesse a grande penalidade bem puxada ao poste e inaugurasse o marcador com o quarto golo europeu da época (43′).

Os minhotos teriam de apresentar algo mais para chegarem a outro resultado mas o reinício da partida não trouxe as tais melhorias da equipa, que ficou até em alguns momentos exposta às transições do Sheriff como aconteceu num lance em que foi Matheus a sair da baliza para evitar que a bola chegasse a Traoré. Só mesmo as mexidas na equipa, com as entradas de Francisco Moura, André Horta e Abel Ruíz, quebraram um pouco essa tendência, havendo mesmo uma grande oportunidade por Moura num remate descaído na esquerda da área para defesa de Athanasiadis (74′). Aos 82′, dois azares quebraram o conjunto arsenalista: Roger, o mais novo de sempre a jogar pelo clube na Liga Europa, lesionou-se com aparente gravidade no pé, Bruno Rodrigues tentou controlar o alívio sozinho mas escorregou e Traoré, isolado, atirou para o 2-0.